Capítulo 3

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Pov. Albus 

Albus se segurava às costas da menina como se sua vida dependesse disso – o que não deixava de ser verdade. Saíram por uma janela, atravessaram Hogwarts, a casa de Hagrid e, se sua noção geográfica estivesse meramente correta, deviam estar a 5 minutos da estação.

- Qual é o seu nome mesmo? – gritou, apesar de não estar a mais de 10 centímetros de seu ouvido.

- Melissa. – respondeu ela, seus cabelos ondulados batendo em sua cara e só reforçando a ele o quanto não gostava de garotas no geral.

Pensando melhor sobre isso, aquela risadinha após a conversa com James foi muito suspeita.

- E o que você é o do meu irmão?

- Uma amiga... - respondeu, e deu um solavanco tão grande na vassoura que Albus decidiu ficar quieto. O que poderia fazer se, além de excluído na escola, também era na família? Lembrava vividamente de quando James adentrou na comunal da sonserina, três meses atrás, fazendo um escândalo por Lily ter um "estúpido novo namorado" e ficar chocado quando Albus não ficou revoltado sobre isso. O sonserino teve que lhe explicar, pacientemente, que a irmã mais nova não o tinha "comunicado" de nada.

Se Melissa era a "estúpida nova namorada" de James, sinceramente, problema o dele. Albus já tinha aceitado que aparentemente nunca teria um namorado... NAMORADA, namorada... Estúpida ou não estúpida.

Quando enfim alcançaram a linha de trem e aterrissaram em "solo, doce solo", havia uma fila quilométrica para entrar no vagão. Se James estava preocupado que Albus não conseguisse embarcar, se amofinou à toa.

Se tivessem vindo a pé, ainda daria tempo.

Concluindo ter feito seu trabalho, Melissa voltou voando, o deixando sozinho no amontoado de adolescentes alvoroçados – animados até, ousaria dizer – com o cancelamento das aulas. Tentou inutilmente avistar cabelos platinados entre eles (especificamente ao lado de certos ruivos), porém não conseguiu nada até finalmente entrar no vagão designado a si.

Se sentou na cadeira 24, como mandava seu bilhete, do lado da janela.

Após um minuto, escutou uma voz levemente estridente:

- Albus? Ah, você está aí, então!

Não, destino, não.

Virou a cabeça para confirmar suas suspeitas.

- Olá, Rose.

O bilhete na mão da garota dizia, em números nítidos, "23". Devia ser porque os dois tinham o "Wesley" na família, ou algo assim. Ela se sentou e olhou para os lados.

- Você viu o Scorp?

Já se encontrava tão abalado que o uso do apelido quase não surtiu efeito.

Quase.

- Não, eu não o vejo desde manhã. – disse, tentando frisar o "manhã", mas ela não pareceu notar sua irritação.

- Que chato! Ele saiu para te procurar logo que fomos trazidos para cá por Minerva, então deve ter ficado em outro vagão. Enfim, que bom que pelo menos ficamos no mesmo! – disse, dando um sorriso a ele, que Albus tentou retribuir.

Não é que não gostasse da prima, na realidade. Ela sempre foi legal com ele – mais que os irmãos eram, muitas vezes. A questão é que os dois tinham um sério problema, algo que só Albus – apesar da inteligência de Rose, herdada da mãe - parecia ver...

Gostavam da mesma pessoa. E a pessoa em questão gostava dela, e não dele, como ficou claro quando Scorpius chamou Rose para ir até Hogsmeade.

Não que os dois não tenham ido juntos em todas as outras dezenas de idas nos anos anteriores, mas Scorpius nunca havia o "chamado" para ir até lá: eles só iam.

Como amigos, claro.

- Você está bem? Está com essa cara estranha desde que chegou atrasado na primeira aula. Também não almoçou...

- Eu estou ótimo, Rose.

Ela deu de ombros, encaixando os fones de ouvido e deixando-o em paz.

A viajem durou cerca de meia hora, portanto, quando chegaram, o céu já dava indícios de anoitecer.

E a barriga de Albus dava indícios de muita fome.

Outro pelotão de adolescentes se formou na entrada da hospedeira cidade, do qual ele tentou se esquivar o máximo possível. Queria encontrar Scorpius, para conversar com ele – a sós - ou quem sabe para só fingirem mutuamente que nada aconteceu e ele voltar a ter sua reconfortante companhia usual. Isso, porém, não parecia ser possível, já que o Malfoy estava agora em algum lugar dentre as dezenas de cafés tendo um encontro.

Um encontro.

Caramba, Albus estava começando a odiar essa palavra.

Lembrando dos dez Cicles – moeda bruxa – que ainda tinha no bolso, caminhou sem muita atenção até a lanchonete "Cabeça de Javali", mas estagnou ao reparar no tamanho da fila para a compra de salgados. Aparentemente, não era o único com fome.

Por sorte, a de bebidas só tinha duas pessoas, e, pagando dois Cicles, saiu com uma linda e espumante cerveja amanteigada em mãos.

Sinal de que seu dia estava finalmente melhorando, correto?

Não, não seria tão fácil assim.

Quando estava no penúltimo gole, escutou uma risada, muito mais que conhecida. Por sorte não teve que se preocupar em ser discreto ao encarar o loiro que tanto lhe causava dor de cabeça, já que este estava sentado a exatas quatro mesas à sua frente. Sua única visão, inclusive, era de seu cabelo, já que a prima – sentada de costas para Albus - tampava o resto de seu corpo/rosto.

Primeiro a "amiga" de James, agora Scorpius... Por que as pessoas tinham que ficar rindo quando estavam apaixonadas?

Albus só queria estar no lugar de Rose agora. Na mesma cadeira que ela, dividindo com Scorpius um macarrão com queijo que aparentava estar muito bom, contando-lhe piadas, ou em silêncio, na verdade tanto fazia. Com tanto que estivesse com ele, que se sentasse ao seu lado na aula de feitiços e que, principalmente, ainda fosse seu melhor amigo, aquele que não via problema em se deitarem na mesma cama quando um dos dois tinha pesadelos, ou que se abraçassem no meio do refeitório, ainda que alguns garotos pudessem achar estranho. Albus sabia que devia colocar um limite nessas coisas, e foi o que tentou fazer na noite passada – apesar de ter falhado miseravelmente - pois toda vez que segurava sua mão, não conseguia deixar de imaginar como seria se fossem um pouquinho mais que amigos.

Observou, apertando tanto o copo que perigava quebrar, enquanto Rose se aproximava de Scorpius, apoiando os cotovelos na mesa para se erguer...

Espere, ela ia...?

Não, ela não ousaria...!?

Albus ia vomitar.

E não, não no sentido figurado, ele ia literalmente vomitar.

A chegada da bebida ligeiramente alcoolizada somada ao estômago vazio estavam cobrando seu preço, impelindo-o a largar o conteúdo na mesa e ir o mais rápido que podia até a plaquinha de "masculino" em frente à porta de madeira, alguns metros à sua esquerda, empurrando tudo e todos que estivessem em seu caminho até o sanitário.

Ouvir o apelido de infância naquele momento foi quase uma epifania.

- Al?!

Albus queria ser RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora