Capítulo 4

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Pov. Scorpius

Scorpius sentia dificuldade em decidir entre olhar para Rose – exatamente a sua frente – ou Albus – não muito mais longe, mas igualmente (se não mais) desconcertante – por isso se conteve a observar o molho de tomate sobre o próprio prato marmorizado.

A menina falava bastante, ora sobre alguma fofoca absolutamente sigilosa da grifinória, ora sobre a descoberta de um novo ingrediente para a produção de um feitiço que começava com "k"... ou quem sabe "q"...? O assunto provavelmente lhe interessaria em condições normais, mas no momento realmente não conseguia parar de pensar na briga com o melhor amigo. Ainda eram melhores amigos, certo?

Não sabia dizer se foi mesmo uma briga, afinal nenhum dos dois deixou isso muito claro...

A não ser quando Scorpius permitiu que Rose se sentasse a seu lado na aula da Minerva. Lembrando-se da cara de Albus quando viu os dois, isso provavelmente poderia contar como "uma briga", mas para Scorpius a briga já poderia ser contada a partir do momento que Albus não deixou que dormisse ao seu lado na cama.

Além do mais, só tinha feito aquilo na aula porque estava absolutamente chateado não só com a noite passada, mas com as semanas anteriores no geral.

Claro que seu orgulho era bem menor que o do Potter e lá pelo almoço já tinha se arrependido; teria se desculpado na refeição, mas não conseguiu encontrar o de cabelos escuros em local algum. A preocupação quase o tomou por inteiro quando, após o anúncio de Hagrid e a ordem para seguirem de trem à Hogsmead, revistou cada centímetro quadrado da estação e não o encontrou. Só foi se acalmar quando encontrou Rose no lugar marcado, à esquina da lojinha de colares, e ela o informou que tinha vindo no trem ao lado do primo.

Sua vontade no momento era de lhe perguntar por que então Albus não estava ali, para falarem de uma vez por todas, mas se conteve e seguiu com seu "encontro".

E por falar em encontro... Scorpius já estava se arrependendo de ter aceitado "ir até o Javali para experimentar a receita de massa que estreou". Odiava qualquer coisa verde, e o recheio do nhoque tinha brócolis. Acabou até oferecendo à menina, mas ela parecia ser contra a troca de saliva que envolvia compartilhar algum alimento.

Apesar de que talvez Albus gostasse: nunca tinha conhecido alguém como ele; comia praticamente qualquer coisa.

Nunca tinha conhecido alguém como ele, mesmo, e nem conheceria, mas...

- Scorpius?

Olhou, agora levemente em pânico, para os olhos castanhos também levemente pertos demais de sua cara.

- Ãhn?

O que ele tinha perdido? Parecia que ela...

Espere, as pessoas não tinham que perguntar antes de fazer esse tipo de coisa?

A menina se aproximou mais e Scorpius sentiu o corpo todo ficar tenso, novamente com uma sensação familiar de "eu não deveria estar fazendo isso".

Imediatamente desviou o olhar para Albus, como se pudesse transmitir um pedido silencioso de intervenção (nem que fosse divina), entretanto, para sua surpresa, os olhos verdes – e que olhos bonitos, por sinal - também estavam olhando diretamente para ele, e parecia...

Não conseguiu descrição melhor além de constatar que seu rosto todo, não só os olhos, parecia estar verde.

Em um segundo, o garoto, enjoado, saiu de seu campo de visão, indo em direção ao banheiro.

Scorpius colocou uma mão no ombro de Rose, afastando-a aliviantes vinte centímetros.

- Me desculpe, mas...

A menina enfim olhou para a mesma direção que ele, mas Albus já havia desaparecido por trás da porta de madeira, fazendo-a retornar para Scorpius com uma pergunta silenciosa.

Ele possivelmente resmungou alguma coisa em justificativa, porém tudo o que se lembra é de atravessar o salão e ir atrás do amigo o mais rápido que podia.

Percebeu onde estava imediatamente após abrir a porta de madeira.

- Al?!

Hesitou somente um segundo antes de se ajoelhar a seu lado na cabine, pousando uma das mãos em suas costas em uma espécie de "apoio emocional".

Scorpius não se lembrava quando foi última vez que vomitara, mas a sensação péssima certamente continuava vívida em sua memória.

Quando tudo passou, Albus se sentou, encostado na parede.

- Sua cara está péssima. Quer que eu busco um copo de água?

- Não, não precisa – respondeu, com uma careta.

- Venha, pelo menos lave o rosto então. – Falou Scorpius, puxando-o para que se levantasse, em direção à pia. Albus obedeceu e, quando secou a face, já aparentava estar menos pálido.

Os dois saíram do banheiro e a primeira coisa que notaram foi que Rose não estava mais no restaurante.

- Eu acho que eu acabei com o seu encontro... – falou, ainda olhando em volta como se a garota pudesse magicamente sair de uma das paredes.

- Na realidade... você passou mal em uma ótima hora.

- O quê?

- Nada não – mentiu Scorpius, pensando se um evento teria alguma relação com o outro. Teve seus devaneios interrompido pela exclamação do amigo.

- Você não comeu quase nada do macarrão! Posso pegar?

A pergunta deve ter sido só por educação, já que em um segundo Albus já estava devorando o macarrão com queijo.

- Mas você acabou...?! – disse, fazendo uma careta.

- Eu não copi nata – Albus parou para engolir – eu não comi nada além de uma cerveja amanteigada desde ontem à noite.

Scorpius foi obrigado a segurar uma risada.

- Para me evitar no refeitório.

Albus focou no prato.

- Digamos que... Sim, basicamente.

Os dois se sentaram, lado a lado, em um silêncio quase confortável, enquanto Albus acabava. Eles continuaram ali, na verdade, até que um alto-falante estridente com a voz de Hagrid anunciasse que estavam liberados para voltar, pois seu "filhotinho foi encontrado! ".

Um segundo antes que Albus pudesse se levantar, porém, Scorpius segurou seu braço, impelindo-o a se sentar novamente. Após isso, estendeu o dedo mindinho, ato da infância que Albus logo entendeu, estendendo o próprio e fechando-os.

- Agora meu dia deve melhorar! – sussurrou o de cabelos escuros, para o ar.

Scorpius deu uma risadinha e em seguida, sentindo falta da breve sensação morna, segurou levemente sua mão enquanto caminhavam de volta para o trem. Não olhou para o rosto de Albus para descobrir o que achava disso, porém o outro garoto também não o soltou (nem quando já estavam alojados nas cadeiras estofadas do transporte – não eram os números certos, mas aparentemente ninguém ligava), então Scorpius interpretou como um sinal de que estava tudo bem.

Chegaram ao castelo rápido demais e tiveram que se soltar quando James puxou Albus de lado para falar alguma coisa. Quando terminou, um Albus exasperado puxou Scorpius até as masmorras.

- Mas o que foi que ele te disse?

- Meu irmão está namorando.

- Ah... Bom, isso é algo ruim?

- Não... Quero dizer, pelo menos ele me contou. Mas eu não gostei.

- Então é ruim. – concluiu Scorpius.

Os dois seguiram para a entrada de pedra.

***

Calma que não acabou! O último capítulo sai semana que vem ❤❤❤

Albus queria ser RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora