Do Topo ao Fundo do Poço

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Depois da conversa que concretizou o destino de Amber e Wild, os anos passaram. Os dois mantiveram uma amizade bela e inocente, e Wild estava mais que satisfeito por manter contato diário com sua amada. Ele pôde ter a oportunidade de conhece-la melhor, descobrindo seus gostos e peculiaridades. Ele viu a evolução dela no balé, ouviu ela cantar diversas vezes e observou a menininha que trajava vestidos virar uma bela adolescente. Obviamente, Wild ainda era apaixonado por ela, o amor que sentia era maior que uma montanha e estava mais vivo do que quando começou e parecia expandir-se como água, flutuando por todo seu corpo e o afogando. Amber não sabia, claro. Era jovem e Wild não podia possuir uma criança.

No último ano. Wild sofria por saber que a despedida estava próxima. Não que ele fosse desistir de vê-la, porém seria mais difícil dessa vez. Como um bom híbrido, iria continuar dentro dos muros, trabalhando com os outros dentro do exército, nas situações de resgates e missões especiais. Ele era um híbrido, afinal. Mais rápido, mais forte, com os sentidos apurados. Não era totalmente humano e isso o tornava melhor, Amber sempre dizia. Ele seria um soldado e lutaria por si, pelo seu povo e pela garota que amava. Iria tornar-se o melhor, na maior patente e a teria. Tudo para a provação dela.

Amber o visitava semanalmente em Homeland. A mãe dela - e futura sogra - ia junto e juntas descobriam a verdadeira essência dos Novas Espécies e suas proles. O preconceito não existia e isso motivava Wild de que futuramente não seria necessário que Amber fizesse uma escolha. Wild amava sua família, porém Amber era sua prioridade para a vida e ele faria tudo para ser um bom macho.

- WILD! Venha tomar café. - sua mãe, Jéssica, gritava do primeiro andar.

Havia acordado mais cedo para preparar-se para a visita. Tentou atrasar até o último minuto no banho, assim dando tempo de sua bela chegar e poderem tomar café juntos. Seus irmãos ainda dormiam, era sábado afinal. Seu pai estava no serviço e sua mãe logo sairia para a clínica.

Wild desceu as escadas, pulando um degrau a cada passo. Jéssica terminava de pôr o café na mesa. Ovos, bacon, torradas, cereal, leite, café e suco. Os híbridos tinham muita fome, tornando uma simples refeição num banquete real. Estava faminto, porém tentaria comer o mais lentamente possível.

- Amber virá? - acenou positivamente - Que bom, sei o quanto gosta dela. Será sua namorada?

- Será minha mulher, mamãe.

- Tão confiante. - ela brincou - Faça por merecer, seu pai demorou uma década para conseguir me conquistar. Nós, humanas, somos mais tímidas.

- Eu sei. Falta apenas 1 mês para minha formatura, depois vou começar a trabalhar e poderei dar o que Amber quiser. Ela será tratada como uma rainha, mamãe.

- Isso é lindo. - ela fez a volta até seu filho e o abraçou fortemente - Irei trabalhar, acorde seus irmãos. Não esqueçam de lavar a louça e fazerem os deveres da escola. Amo você.

Ela pegou a bolsa e saiu porta afora deixando Wild. Ele, por sua vez, começou a comer. Estava faminto e depois poderia tomar café novamente para acompanhá-la.

[...]

O tapa foi ouvido do segundo andar. Jorge, o pai de Amber, havia batido em sua mãe. Bem no rosto, deixando os cinco dedos marcados no rosto pálido da mulher.

- Fico uns tempos fora e descubro que minha filha e a puta da mãe dela se envolveram com animais. Vocês já pensaram o que começarão a especular sobre nossa família? E a minha imagem? EU PERGUNTEI.

Jorge estava furioso. Amber e sua mãe estavam escondendo a amizade com os NE's por anos. Seu pai era um político importante no Brasil e a imagem era tudo para ele. O envolvimento com os NE's era uma afronta a ele e não ficaria barato. Amber não queria ter escondido, porém o preconceito e a ignorância de seu pai o deixavam cego, tornando a omissão uma opção melhor. Obviamente ele descobriria um dia, porém Amber acreditava ter mais tempo. Seu pai passava a maior parte do tempo viajando a negócios, traindo sua mãe e envolvendo-se com corruptos. Foi ele mesmo que decidiu que elas deveriam permanecer nos EUA até que ela estivesse formada.

- Não queríamos mentir, foi apenas... - outro tapa.

- Vagabunda! Eu saio uns dias e você vai para a cama de um animal.

- Eles são mais humanos que você... - Amber sussurrou para si mesma, porém Jorge tinha uma boa audição.

O choque foi instantâneo. O tapa no rosto, a dor, o som e o baque de ter caído. Ele havia lhe batido e a vergonha e a dor fizeram com que os olhos dela se enchessem de lágrimas rapidamente. Pôde ouvir sua mãe chorar por si, implorando que não machucasse sua filha, dizendo que a ideia era sua.

- Sua putinha! Traz apenas desgosto para mim, tudo o que você faz é me envergonhar. TUDO. - ele deu alguns passos até a cama de Amber e pegou o celular sobre ela tacando-o no chão logo em seguida. O som seco do aparelho chocando-se contra o chão fez os ombros de Amber tremerem. O som de vidro sendo estilhaçado junto com os passos furiosos de seu pai vindo a seu encontro. Ele a levantou do chão e sacudiu seus ombros gritando palavras que ela não entendia. O choque por ter sido agredida ainda estava ali e a única coisa que a fez despertar foi quando Jorge disse que iriam embora.

- NÃO!

- SIM! VOCÊ VAI! Vocês duas, na verdade. Chega dessa liberdade, não souberam usar. Vá fazer as malas, agora. - ele gritou a última parte para a esposa, ficando sozinho com Amber - O que faço com você?

- Eu não fiz nada errado, eles são como qualquer pessoa...

- Calada! - ele gritou - Mentiu para mim - um tapa - Fez sua mãe mentir - outro tapa - Se envolveu com animais - mais dois tapas - Puta.

Com isso a jogou na cama. Amber estava com o rosto vermelho devido os tapas e as lágrimas escorriam por suas bochechas. O olhar perdido e magoado era evidente, além da raiva que a mesma sentia por seu progenitor.

- Faça as malas, voltaremos ao Brasil imediatamente. E dessa vez, não terá a liberdade que sua mãe te deu, as coisas vão ser do meu jeito.

Depois do pequeno discurso, Jorge saiu furioso do quarto. A porta foi fechada brutalmente e Amber ouviu o som da chave trancando-a naquele quarto. As lágrimas caiam livremente, as mãos fechadas em punhos contendo a raiva. Wild estava esperando ela, era o dia que iriam fazer um piquenique na Reserva. O próprio Justice e sua esposa, Jessie, sugeriram que todos fossem. Teria uma trilha e poderiam aproveitar a linda cachoeira. Não aconteceria. Logo hoje, logo quando diria que o amava.

Amber permaneceu chorando como uma criança, adormecendo logo depois.

[...]

Eram 19h e Wild continuava a esperar. Ele acreditou que ela pudesse ter tido imprevistos e que viria para o almoço. Depois acreditou que ela viria durante a tarde e agora a esperava para a janta. Mas nada, absolutamente nada. O celular dela o direcionava para a caixa postal e as mensagens não eram recebidas. A mãe dela não atendia tampouco as ligações e Wild estava começando a ficar preocupado. Estava tudo certo, haviam combinado fazia mais de um mês para que todos os híbridos fossem. Wild diria o quanto a amava sob a luz brilhante do Sol e prometeria diante da cachoeira que a esperaria ter idade para que pudessem estar juntos.

Seus irmãos o tentaram distrair, mas Wild apenas rosnou para eles indicando que continuaria esperando. Até que seus pais chegaram e começaram a ajudá-lo a ligar. Nenhum retorno. Ele estava inquieto e seu peito doía, era óbvio que tinha algo errado. Amber não tinha o costume de se atrasar e avisava sempre quando iria.

- Talvez ela adormeceu, você a verá na escola, filho. - seu pai, Brutus, sentou ao seu lado na escada.

- Não, ela não adormeceu. Eu sinto, pai... - Wild disse apertando o peito - No fundo, meu coração sente, há algo errado. Estou sufocado.

- Calma, amanhã mesmo acompanho você até a casa dela. Você sabe onde é? - ele acenou - Portanto façamos assim: você vai jantar e dormir, amanhã cedo pegamos o carro e iremos até lá. Tenho certeza que é um mal entendido e ela vai rir da sua exagerada preocupação.

Wild concordou apenas, subindo até seu quarto. Ele sabia que seu pai estava mentindo, havia algo, sim. O sentimento era real e Wild sentia-se sufocado e angustiado. Entretanto, ele continuaria esperando.

Esperando por ela.

[...]

Oi gente, espero que estejam ansiosas.
Hoje foi um capítulo curtinho e infelizmente nos despedimos dessa fase infantil dos protagonistas. Próximo capítulo talvez teremos um reencontro, então esperem para verem um Wild frio e triste.
Bjs, até.

Wild - Novas EspéciesOnde histórias criam vida. Descubra agora