Bora estava encarando fixamente um espaço vazio aleatório há três minutos. Já era quase a hora do almoço e nenhum sinal de Ada.
Imaginou seu fusquinha amarelo que sobrevivia a trancos e barrancos parado em alguma beira de estrada, partindo dessa para melhor. Talvez ela tenha se envolvido em algum acidente assim como no dia que se conheceram? Essa linha de raciocínio lhe provocou um sentimento de preocupação no peito, fazendo as mãos de Bora gelarem de nervoso.
— Bora bey? — A voz do seu possível investidor lhe tirou do seu estado de tupor.— Bora bey, está tudo bem?
Ele levantou a cabeça e encontrou dois pares de olhos lhe encarando, confusos.
Cemre e Aytaç Şaşmaz eram um jovem casal badalado no mundo dos negócios artísticos, investidores natos sejam da escrita, peças cênicas ou obras de arte, o que se resultava em quase todas as empresas turcas tentando conquistar um pouco de sua atenção.
Bora se amaldiçoou pelo seu estado ridículo de distração e culpou Ada por isso. Havia dado seu sangue e suor durante meses para que essa reunião se concretizasse e nem ao menos havia prestado atenção no que o casal estava dizendo.
— Peço desculpas.— Bora pigarreou, ajeitando a gravata em desconforto. — Acordei um pouco indisposto essa manhã.— Ele mentiu e se amaldiçoou novamente, visto que detestava desculpas, mas era justamente isso o que estava fazendo.— Podemos continuar?
A senhora Şaşmaz levantou uma sobrancelha e trocou um rápido olhar com o marido antes de falar.
— Bora bey, para ser honesta, meu marido e eu temos um grande apreço pela sua empresa e o que ela representa. Já havíamos nos contatado anteriormente e pudemos desfrutar do seu discurso e performance para nos introduzir um pouco mais sobre seus interesses relacionados a esta futura parceria.— A mulher fez uma pequena pausa e sorriu compreensiva.— Entendo que pelo seu desfalque de funcionários, sua rotina está um pouco sobrecarregada e por sua vez, reflete em você mesmo. Por isso, sugiro que marquemos uma nova reunião, em que possamos estar mais concentrados. O que acha?
Bora achou louvável a atitude da mulher e pela sugestão de uma nova chance de reunião, o que significava que o casal estava de fato interessado na parceria. Mas seu cérebro não focou em nada isso.
— Desfalque de funcionários? — Ele repetiu tolamente.
— Sim.— Aytaç respondeu dessa vez.— A ausência da senhorita Ada é sentida, era notável o quanto vocês trabalhavam em harmonia e apresentavam um ótimo trabalho juntos. É uma pena a sua partida.
Bora não poderia ficar mais confuso se acordasse em um país estrangeiro.
— Creio que há um engano.— Bora franziu o cenho, claramente perdido.— A senhorita Ada não partiu e nem nada do gênero. Ela... Hm,— Ele tentou pensar em algo que não o fizesse parecer um idiota por tolerar um atraso de quase cinco horas de sua funcionária.— Ela pediu um dia de folga. Isso, uma folga.
— Uma folga? Está tudo bem? — Cemre soou alarmada.
— Sim! Quer dizer, não! — Por Deus, Bora era um péssimo mentiroso. — Ela perdeu um grande amigo, Duman. Hm, eles eram muito próximos, tinham a mesma cor dos olhos e tudo.
Bora imaginou o pobre gatinho morto da garota e o enviou saudações em pensamento por usá-lo em suas mentiras.
— Pobre Ada, pobre Duman... Lhe transmita os nossos sentimentos. — O senhor Aytaç ficou de pé e estendeu a mão para Bora, por fim.— Vamos marcar uma nova reunião, sim? E peço perdão pelo mal entendido, o seu escritório não parece saber disso. Todos comentam a partida da senhorita Ada.
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Treat you better | Shortfic AdBor
RomansSeis meses depois de sua contratação, o tempo de Ada como funcionária da Bizdeboyle.net chega ao fim. Ada, que já deu seu passado com Rüzgar por encerrado, ainda tenta superar as inseguranças que toda a situação resultou. Com o coração partido, sent...