Capítulo 7.

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                — Déa? Déa! Graças aos ancestrais, você está viva! Eu fiquei tão preocupado, pensei ter te perdido — E sem avisar Orfeu envolve seus braços em minha cintura e me levanta do chão como se eu tivesse o mesmo peso que uma boneca de pano. Retribuo o abraço afundando meu rosto em seu cabelo.

                — Ei, tá tudo bem, pode soltar agora se não ai que eu vou morrer sufocada — Ele me solta no chão rindo baixinho e no momento que minha perna esquerda toca o solo, sinto um choque percorrendo por todo meu corpo— Ai! Merda! Queria saber o que foi que me mordeu, porque que eu saiba, naquele lago só tem peixe — Olho para Orfeu e vejo uma expressão sombria em seu rosto — Você sabe o que foi, não sabe?

                — Caçadores de Saturno — O alien se afasta e pega no chão o que parecia ser troncos de árvore cortados e depois os coloca no chão e começa a lascar duas pedras como um homem das cavernas, só que um homem das cavernas verde. Ele estava tentando fazer uma fogueira? Sim, o fogo surge e a chama começa a se espalhar pela madeira, jogando uma onda de calor em meu rosto — Vieram me matar — Ele desaba no chão e eu me sento também — Me casar com a princesa Thorda seria uma "boa" alternativa para os dois lados, mas se eles puderem governar o reino sem esse casamento, para eles seria ainda melhor — Vejo seu olhar triste pelas faíscas que a fogueira soltava — Devem ter descoberto que fugi e me rastrearam até aqui... Fui um egoísta babaca, nem pensei nas consequências, coloquei a vida do meu povo em perigo, da minha família e agora a sua...

               — Orfeu...

               — Não Déa, eu sei que você também acha isso — Ele joga a cabeça para frente e uma mecha do cabelo que estava solto cobre seu rosto, escondendo a lagrima brilhante que escorria — Sua perna vai melhorar logo, consegui tirar o veneno antes que se espalhasse. Meu poder de cura não é tão forte como o de minha mãe, mas acredito que em dois dias esteja curada.

               Meu pensamento volta para o meu encontro com a rainha, do seu beijo em minha testa parecendo me trazer de volta a vida, e de suas palavras dizendo "Você vai saber o que fazer". Encolho minha perna e observo a mordida, era do tamanho da minha panturrilha com pelo menos quarenta furos, o sangue já estava seco, mas estava muito roxa e dolorida. Meu coração começa a bater mais forte e me seguro para não ter uma crise de ansiedade ou pânico. Respiro fundo, esqueço os olhos amarelos curiosos que me encaravam e me concentro somente na ferida e na minha intuição me dizendo o que fazer. Fecho os olhos e toco em minha panturrilha esquerda com a mão tremula e sinto um formigamento correndo por todo o meu corpo, um calor estranho passando ate as pontas dos meus dedos. Seguro um grito agudo em minha garganta, a sensação era a mesma de estar tirando meu próprio osso de mim.

                — Déa... — Abro os olhos e encontro no lugar de uma ferida, uma cicatriz quase invisível e no chão algo roxo queimando como acido a grama verde— Você... Você fez isso?

                — Acho... Que sim — Minha perna formigava, mas era uma sensação boa. Minha nossa, se eu já era considerada esquisita antes, nem imagino o que sou agora— Dá pra parar de me olhar com essa cara? — Digo sentindo o rosto quente diante ao alien que me encarava de boca aberta e com uma expressão de bobo.

               — An... O sol já apareceu? — Solto um grito quando vejo algo se mexendo a alguns metros de nós. Coloco-me de pé em um pulo e por instinto tomo a posição de defesa que aprendi nos treinos. Por que Orfeu ainda estava sentado e por que parecia tão calmo? A figura se aproxima e eu vejo que se trata da menininha que estava no lago — Oi Tia, você acordou, que bom, o tio aqui não parava de chorar.

              — Ora, que exagero Mary, foi uma lagrima ou outra e só porque eu também me machuquei — O rosto do alien muda de cor e ele desvia o olhar do meu.

              — Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? O que ela está fazendo aqui, Orfeu? Você não pensou que os pais podem estar procurando por ela agora e se a encontrarem aqui com a gente no meio da floresta vamos presos pelo resto de nossas vidas? Quer dizer... Você eu não sei, mas eu sim!

             — Déa, calm...

             — Ninguém está me procurando tia — A garotinha se aproxima e puxa a minha camisa devagar, eu abaixo até ficar de sua altura e para a minha surpresa ela envolve seus bracinhos em meu pescoço e me da um abraço carinhoso — Obrigada por ter me salvado, você é muito corajosa e muito bonita também — Minha vez de mudar de cor. Ela se solta de mim e se senta do lado de Orfeu encostando a cabeça em seu ombro e fecha os olhos. Ficamos em silêncio por alguns minutos.

             — Os pais da Mary... — Ele da uma pausa e olha para a garotinha para ver se tinha voltado a dormir. Ela estava abraçada com seu braço e roncava baixinho, fazendo um biquinho — Morreram em um acidente há alguns meses e ela teve que ir morar com a avó, só que essa a maltratava muito e aquele dia do lago ela tinha conseguido fugir e os caçadores aproveitaram de sua fraqueza para possui-la e me atrair para aquele lago, só que...

            — Eu fui — Um nó se formava em meu estomago, ela era tão nova e já tinha passado por tanto sofrimento, como era forte — Orfeu, porque estamos no meio de uma floresta e não na minha casa? — Como essa pergunta não tinha surgido antes?

            — Sua casa está com seu cheiro e agora com o meu. Não é seguro, provavelmente estão a cercando nesse exato momento, nesse lugar aqui consigo sentir muitos cheiros diferentes e acredito que isso confunda os Saturnenses.

            — Como assim não é seguro? É a minha casa! E meus pais? Eles voltam daqui dois dias, o que vai acontecer com eles?

           — Déa, vocês vão ficar em segurança, eu só precisava ter certeza que estava bem para... — Ele pega Mary com cuidado no colo e coloca em uma cama de folhas improvisada — Para voltar para Marte.

           — O que? Não, você não pode ir, talvez não consiga sobreviver até chegar lá e se chegar terá que se casar também, não, não e não.

           — Não posso continuar colocando vida de pessoas em risco por minha causa — Ele poderia querer parecer determinado, mas eu conseguia ver sua voz falhando e seu olhar triste — Quando eu ir, eles irão atrás de mim e vocês ficarão em segurança.

           — MAS VOCÊ NÃO VAI ESTAR! — Explodo e depois abaixo o tom de voz quando vejo Mary se mexendo — Para de ser cabeça dura Orfeu, não temos só uma opção na vida, iremos arrumar uma solução sem envolver morte ok? E isso não está aberto a discussões.

           — Sim senhora — Não fazia ideia de onde tinha vindo tudo aquilo, mas Orfeu era uma únicas pessoas que a muito tempo realmente parecia se importar comigo, e me via como eu sou de verdade... Pelo menos uma parte de mim.

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⏰ Última atualização: Aug 12, 2021 ⏰

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