.capítulo único.

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"Well, somewhere between a lover and a friend

It was different back then

Surreal, poetic but uncertain

Like a bizarre chick-flick with a confusing end

But I shut it down, closed it off

The sounds and smells I made myself forget

A cheap solution to block out regret, but it was real

It just feels like a past life".

"Past life", Tame Impala.

Vida e destino são dois conceitos abstratos, mas que se manifestam de maneira concreta. O que faz tudo continuar a se mover? Quem controla essa configuração pré-definida, se é que existe alguma? Tudo funciona como se cada ser humano fosse um rato em sua roda... ou estão todos em longas linhas entrelaçadas? Pode ser que a vida aconteça enquanto você está ocupado fazendo outros planos; quem sabe, então, ela não seja mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobrevivência, ou qualquer outra citação clichê que nem sempre a autoria é certa.

Para Frank Iero, entretanto, a vida era algo que simplesmente acontecia, um dia após o outro. Não havia mágica, lei do retorno ou ação divina. A única certeza era a grande pilha de incerteza que se fazia dela. Controverso e banal como tudo o que existia; Resignado e indômito.

Para um quase quarentão, tal pensamento decerto era bem comum. Orgulhoso do seu presente e também bastante conformado a respeito de sua solteirice, que veio após inúmeros relacionamentos superficiais engatados em sequência. Talvez ele não fosse mesmo feito para isso, já que falhou por tantas vezes; talvez ele estivesse destinado a seguir sozinho. Ainda muito novo, decidiu que sua vida seria sua carreira e acredita que, em nome dela, postergou diversas outras partes de sua vida. Hoje, um psiquiatra de destaque, divide suas conquistas através de quadros, prêmios e menções honrosas enfeitando as paredes da casa vazia.

Durante um dia de trabalho como outro qualquer, em uma pausa também como outra qualquer, encontrou em sua caixa de "solicitações de contato" do seu perfil no Instagram uma mensagem recebida há mais de dois meses. A foto redonda no perfil era de uma mulher loira, jovem e sorridente, na frente de uma longa linha de palmeiras. O mar pairava ao fundo; alguém que ele desconhecia. A mensagem era simples, direta e não revelava quase nada.

"Oi, Frank. Beleza? Encontrei seu perfil na internet e espero que não se importe com o contato, a gente não se conhece e nem nada. Talvez você nem veja esta mensagem. Em uma das minhas voltas pela cidade encontrei algo seu e pensei que talvez quisesse de volta."

Seu primeiro instinto foi levar as mãos aos bolsos, conferindo carteira e documentos, por mais que o pensamento fosse irracional - afinal, a mensagem já era antiga. Não se lembrava de ter perdido algo que precisasse ser devolvido. Ao abrir o perfil, descobriu que a pessoa em questão morava em Los Angeles, uma cidade que Frank nunca teve sequer vontade de visitar. Movido finalmente pela curiosidade, decidiu retornar o contato torcendo para não ser tarde demais.

Para sua surpresa, a resposta veio quase instantaneamente junto às demais explicações. Sentiu um frio sem motivo andando pelo seu corpo enquanto lia cada uma das linhas enviadas. O pertence perdido era um livro; na verdade, uma coletânea de poemas de amor encontrada num sebo em Highland Park, na famosa cidade do outro lado do país. Algo que estava dentro daquele livro em específico de fato pertencia a Frank; transcrita digitalmente, estava a pequena dedicatória que motivou o contato inesperado: "Gerard, eu acredito que nós somos o maior poema de amor já escrito. Eu te amo para sempre. Frank Iero. Abril '01".

The sounds and smells we made ourselves forget [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora