Como (não) ser um herói

And if that's all that i'm gonna be

Normalmente, Jeongguk fechava a cafeteria às dez da noite. Com tudo o que havia ocorrido, levando em conta a tensão da situação e a viagem até Jeju, ele já deveria saber que a noite seria longa, e aquilo estava deixando-o louco. Ele poderia facilmente chegar com sua velocidade naquela maldita ilha, mas o homem diante de si não queria aquilo. Eles estavam em uma espécie de jatinho particular e aquele ser esquisito estava sentado no assento que ficava em frente ao seu, olhando-o fixamente desde que a aeronave havia levantado vôo, deixando-o ainda mais irritado. Seus dedos batucaram ainda mais rapidamente contra os braços da poltrona quando ele não soube mais conter o estresse.

— Só não libere faíscas de energia, por favor, ou você pode derrubar o avião.

— Morreríamos eu e você, só vejo vantagens. — retrucou azedo. — E quando você pretende começar a me explicar quem porra é você e por que caralhos você está atrás de mim? Você sabe que, no momento em que esse avião pousar, eu posso acabar com a sua raça, não sabe?

Nee sorriu com a ofensiva, internamente grato por seu filho ter se tornado alguém completamente capaz de se defender e não alguém que, facilmente, poderia ser ferido por qualquer um. Ele era forte fisicamente e mentalmente, perfeito, a melhor criação que já havia contemplado.

— Se fizer isso, provavelmente nunca saberá sobre suas origens verdadeiras, porque eu duvido que Siwon seja capaz de lhe contar. — respondeu calmamente. — Ele está no mesmo lugar que seus amigos, inclusive, mas sem escoriações. Ele me conhece, não ofereceu resistência para vir até mim.

Aquilo pegou Jeongguk de surpresa, deixando-o alerta. Siwon o conhecia e estava no mesmo lugar? Aquilo não fazia sentido. Choi Siwon era CEO de uma filial da maior empresa de segurança, pesquisa científica e biotecnologia que existia no mundo, ele jamais se deixaria ir tão fácil assim. A dúvida esboçou-se em seu rosto e abriu brechas para Nee.

— Está duvidando.

— Você é um maldito sequestrador, acha que vou acreditar em você?

— Eu nunca conseguiria lhe pegar se não armasse tudo isso. — Nee justificou. — Eles nunca deixariam e você nunca os deixaria para vir até mim. Tive que agir por meus próprios meios.

— Me dê um motivo plausível pelo qual eu deveria ir até você e eu prometo ser o mais sincero possível em minha resposta. Por que diabos você queria que eu fosse até você? Quem é você e como você sabe sobre minhas origens?

— Você está curioso. — riu um pouco. — É incrível a forma com a qual você se parece com ela... até no jeito esquentadinho.

Jeongguk não saberia nunca explicar o que havia lhe acontecido ao ouvir aquela frase, mas o solavanco apertado em seu peito fora forte demais para ser ignorado. Ele não sabia o motivo pelo qual aquilo havia lhe afetado tanto, mas sentia que o maldito diante de seus olhos sabia de coisas muito mais importantes do que o que ele poderia esperar, por isso apertou as mãos em punho e cerrou a mandíbula, tentando conter o turbilhão de ansiedade que o invadiu.

— Quem é "ela"?

— Sua mãe. — Nee fora direto em sua resposta, calmamente pegando uma garrafinha de água que havia sido disposta ao lado de sua poltrona para que pudesse beber. — Ela sempre ficava muito irritada quando eu demorava para falar algo, igual a você.

Os olhos do mutante tremularam e em sua mente era possível ouvir um zumbido forte, intenso. Ele nunca havia ouvido falar sobre sua mãe, nenhuma vez, em nenhum dos lugares aos quais já havia pertencido antes, fosse aquele abrigo velho e pobre, ou mesmo quando Siwon o acolheu. Ele nunca soube se havia tido uma mãe, para falar a verdade, e agora um completo estranho ameaçador, que havia sequestrado pessoas que amava para atingi-lo, falava sobre sua mãe com uma tranquilidade daquelas. Como ele deveria reagir? O que ele deveria fazer? Repentinamente, o desespero de ouvir aquela informação bateu em seu peito em cheio, provocando-lhe uma falta de ar súbita, enquanto seu coração parecia acelerar sem volta. Nee notou os níveis de tensão presentes no mutante, por isso foi rápido ao se levantar e encaixar a garrafa de água na boca do garoto, fazendo-o beber o líquido aos poucos, enquanto tentava acalmá-lo de alguma forma. E Jeongguk levantou a mão, sem forças, para empurrá-lo de volta para seu lugar, o afastando de si com brusquidão.