O peso de dois sobrenomes

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Quando o avião finalmente pousou no aeroporto internacional de Cupertino, Eren sentiu-se aliviado, pois  durante o retorno o voo da dupla teve que lidar com turbulências bem desagradáveis. E como se não bastasse a aeronave balançando significativamente, um dos passageiros  começou a citar o filme Premonição e gritar  que o avião iria cair e que as turbulências eram um sinal. Felizmente uma das comissárias de bordo conseguiu conter o homem pouco antes de pousarem.

– Deveriam ter amordaçado aquele maluco. Falou o  jovem assim que cruzaram  o portão de desembarque. Levi apenas lhe deu um olhar de cumplicidade, mas nada disse .

O empresário, ao contrário do mais jovem, parecia centrado como sempre e Eren poderia jurar que Levi não mudaria sua expressão nem mesmo  se o avião  caísse.

Provavelmente ele passaria os últimos segundos instruindo Erwin a como liderar a empresa após sua morte.  
O  moreno, que ainda caminhava ao lado de Levi, achou graça em seus próprios pensamentos, mas preferiu não compartilhar suas ideias com o outro.

Fazer o caminho até a esteira onde as bagagens os aguardavam foi mais rápido que o esperado. Logo estavam empurrando o carrinho rumo a saída do aeroporto. Oficialmente a viagem de ambos havia acabado.

Eren não poderia negar que se sentia levemente ansioso. As últimas duas semanas foram marcadas por momentos únicos de cumplicidade e de algo mais que Jaeger preferia não nomear. Às vezes era melhor não focar em nomenclaturas.

– Eren! – a voz de Carla foi a primeira coisa que o moreno registrou antes de ser abraçado fortemente pela morena que o cobria de beijos e o apertava com devoção. – Senti tanto a sua falta, filho! – exclamou ainda beijando o moreno como se não o visse há décadas.
– Também senti a sua falta, mãe. – o jovem respondeu apertando os braços ao redor da mulher. Sorrindo ao notar a empolgação de suas mãe, mas estranhando não ver outra pessoa a lhe abraçar e cobrir de beijos.  – Onde está Mikasa?
– Sua irmã ficou em casa com Armin e Antony. Eles estão preparando o almoço ou algo assim. Mika queria te fazer uma refeição de boas vindas. Estava empenhada nisso quando sai.
– Eu não esperava menos da minha princesa. – afirmou se desvencilhando dos braços da mãe.
Carla sorriu com o comentário, mas logo seus olhos pousaram no homem logo atrás de seu filho. Levi, que havia presenciado a cena, apenas aguardou que a dupla matasse um pouco a saudade, antes de saudar Carla.
– Bom dia, Sra. Jaeger. – falou com um sorriso discreto e um olhar gentil. Carla percebeu que o olhar do homem parecia ter mudado um pouco, mas não comentou. Ela não possuía intimidade suficiente para isso, mas era óbvio que algo havia mudado entre os dois. Sendo uma mulher sabia ela optou apenas por responder a saudação.
– Olá Levi, fez uma boa viagem?
– Sim, foi produtiva. Entretanto devo admitir que me sinto melhor agora que retornei à boa e velha América.
A morena sorriu para a empresario. Ela entendia bem essa sensação de alívio que sentia ao voltar para casa após uma longa viagem.
– Mãe, você veio sozinha ou Hannes está contigo? – o moreno perguntou olhando ao redor para ver se encontrava o amigo da família em algum lugar. Porém não o encontrou.
– Hannes está na casa da sua namorada. De novo. Não o vejo mais como antes. Quem me trouxe foi… – a senhora Jaeger não teve a chance de concluir a fala, antes que alguém conhecido passagem pelos Jaeger e apertasse o homem menor que estava logo adiante.
– Levi! Enfim chegou o meu sobrinho favorito! – o som alto de Kenny apertando o empresário em um abraço desnecessariamente dramático, fez Eren pular com o susto e Carla balançar a cabeça levemente divertida.
– De onde você saiu, infeliz? – Levi  reclamou enquanto tentava se desvencilhar do tio que o abraçava ainda mais forte para alegria dos outros dois. Era engraçado como o homem conseguia segurá-lo sem qualquer esforço. – Pare de ser tão piegas, velho caduco!
– Não seja ingrato, Levi. Estou aqui cheio de saudade e é assim que me recebe. Eu até me   ofereci para vir com Carla porque queria te ver o quanto antes. A saudade era grande demais. – Kenny fingiu um olhar magoado para o sobrinho que revirou os olhos.
– Com certeza me ver não era a sua prioridade quando decidiu acompanhar a Sra. Jaeger. Seu velho pervertido. – A última  frase dita de forma bem discreta fez Kenny gargalhar alto e apertar o jovem um ainda  mais.
– Kenny, eu juro que se não me soltar vou atear fogo em todos os seus chapéus ridículos quando voltarmos!
– Ok! Vou deixar você em paz, mas deveria me agradecer. Afinal, convenci Hanji a não vir também.
– Claro tudo que eu precisava era de um hippie escandaloso e uma sirene com óculos me agarrando no meio do saguão.
Carla e Eren observavam os dois. Achando graça na forma como Kenny não se importava com o mal humor do sobrinho e como, Levi, apesar de reclamar também não afastava o tio que ainda o segurava em um dos braços.
– É melhor irmos ou vamos ter que lidar com todo aquele trânsito da hora do almoço. – falou a morena por fim passando um dos braços ao redor do filho, que  empurrava o carrinho com suas bagagens, o guiando para a saída.
Levi não pode deixar de perceber o olhar sonhador de seu tio enquanto observava a mulher mais uma vez abraçando Eren pela cintura.
– Alguém se aproximou bastante da bela viúva depois que eu parti. – brincou começando a empurrar sua bagagem também. Resolveu seguir meu conselho e investir em sua vida amorosa? Talvez assim pare de viajar pelo mato e tomar banho de chuva pelado.
– Por que vou seguir  seus conselhos, se você não segue os meus? – perguntou Kenny, com uma das sobrancelhas erguidas e um olhar de reprovação.
– Por que eu ao contrário de você eu tenho bom senso.
– Claro que tem. – debochou o mais velho.
– Acha que estou mentindo? Sei que você está interessado nela e ela é uma boa mulher. Faria bem aos dois juntarem as "escovas de dentes".
– Estranho ouvir você me aconselhar algo assim quando foge de relacionamentos.
– Meu caso é diferente. Você sabe toda a merda que já suportei. E não estou mandando você se apaixonar. Apenas digo que talvez lhe fizesse bem compartilhar sua vida com mais alguém.  Você está ficando velho.
– Tudo tem seu tempo, Levi, a maior das árvores um dia foi uma simples  semente. Não adianta apressar as coisas. Eu realmente estou interessado nela, mas Carla não é o tipo de pessoa que se envolve com alguém apenas para se aventurar. Ela é uma flor rara que precisa ser cultivada com respeito e carinho. Se algum dia viermos a ter algo, quero que parta dela. Por que aí terei certeza de que está tudo bem.
– Inacreditável, Kenny, o quanto você é brega. – falou olhando para a dupla que ainda caminhava sem prestar atenção nos dois Ackerman.
– Sim, sou amante a moda antiga. Desculpe se gosto de cortejar uma bela dama.
– Que seja, Kenny. Me admira ter se oferecido para trazê-la se está indo no modo lento com ela.
– Na verdade foi Carla quem me pediu para acompanhá-la. Parece que a família do falecido marido  tem tentado contactar Eren e ela não se sente muito confortável com a aproximação deles. – Kenny explicou assumindo uma postura séria pela primeira.
– Família do falecido marido? – questionou Levi. O empresário e o tio estavam a uma distância razoável dos outros dois que conversavam animados a frente. A distância permitiu que falassem sem ser ouvidos.
– Sim, Carla me falou que o meio irmão de Eren, esteve na floricultura e disse algo sobre reaproximação. Ela  não se sente confortável com isso. A  família Jaeger nunca aceitou muito bem o relacionamento de Grisha com uma humilde moça. Inclusive não permitiram   que Carla e Eren tivessem acesso a qualquer coisa do falecido.
– Espere, Jaegers não são aqueles milionários donos das maiores redes de hospitais do país?
– Isso mesmo. – afirmou Kenny lançando um olhar para Eren. O moreno caminhava despreocupadamente com a mãe sem perceber que naquele momento ele era o principal assunto tratado pelos dois Ackerman.
– Quem diria que o pirralho tem sangue azul. – brincou. – De qualquer forma é estranho  se aproximarem agora. O que será que esse homem quer ?
– Bem, só saberemos se Eren aceitar falar com ele. – falou Kenny encerrando o assunto. Aquela altura o grupo já havia chegado à caminhonete e não havia mais espaço para esse tipo de conversa. Após guardar a bagagem no porta malas, todos entraram no veículo partindo em seguida para a residência dos Jaeger.

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