Um Dia Difícil

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O som do despertador ecoou pelo quarto meticulosamente organizado. A enorme cama ao centro já estava com os lençóis limpos e sem qualquer imperfeição. A perfeição era o mínimo buscado pelo homem de trinta e cinco anos que se arrumava diante do espelho de seu closet. E mesmo em áreas tão insignificantes, como a troca de suas roupas de cama, ele não se permitia errar. Se não estivesse perfeito, não lhe era aceitável.

— Acordou antes do despertador novamente Levi? — a velha governanta entrou no quarto, cuja porta estava aberta, chamando a atenção de Ackerman que ajeitava a gravata ao redor de seu pescoço.

— Eu sempre acordo antes desta porcaria, sinceramente começo a questionar sua utilidade.

— Oh por todos os santos Levi! — exclamou a velhinha. — Vai demitir o relógio?

O baixinho ignorou o comentário sarcástico de sua governanta e caminhou a passos largos para a saída do quarto. Ele estava demasiadamente cansado naquela manhã e seu humor estava no limite.

— Espero que já tenha feito o meu chá sua velha intrometida. Por que piadas eu já percebi que você tem aos montes.

— Hahahaha. — a senhora gargalhou ganhando um suspiro frustrado do homem que seguiu o longo corredor a caminho da sala de jantar. Onde sua refeição estava devidamente posta.

Quando se sentou à cabeceira da enorme mesa, um par de empregadas veio lhe servir após lhe e desejarem o costumeiro “bom dia” e serem ignoradas como sempre. Levi não falava com os empregados, a menos que fosse lhes repreender. A única exceção a regra era Yu Sao*, a velha chinesa que servia a família Ackerman a três gerações. A idosa já estava na casa dos setenta e havia abdicado da própria vida para servir a família francesa. Ela conhecia o homem de rosto marcado melhor que ninguém. Talvez fosse uma das poucas pessoas que sabia o real significado daquelas marcas e por isso nunca tenha deixado a velha e luxuosa mansão nos limites de Cupertino.

— O senhor Smith ligou e perguntou se você irá ao jantar de aniversário do país dele. Parece que John e Mercedes vão comemorar bodas de prata e gostariam da sua presença. Era para confirmar hoje com o buffet. — Yu servia o chá a Levi que saboreava algumas frutas com mel. Ele a observou como se pensasse no que responder, enquanto mastigava uma fatia de mamão.

— Queria entender por que aquele idiota com sobrancelhas reluzentes, insiste em me mandar recados ao invés de simplesmente me perguntar diretamente. — respondeu enquanto limpava os lábios com um guardanapo.

— Bem acredito que seja por que o pobre homem tenha amor a vida. Nunca se sabe como está seu humor, então ele prefere mandar subordinados a morte ao invés de buscá-la diretamente para si. — as duas empregadas que estavam no local se afastaram para abafar o riso ao ouvir as palavras da chinesa.

— Velha insolente. — Ditou o homem saboreando seu chá preto. — só não lhe demito por que é a única que sabe preparar meu chá.

— Sim sou a única Levi. Bem eu preciso cuidar da limpeza das cortinas. Caso precise de algo é só chamar.

— Diga a Smith que irei nessa baboseira de bodas. — respondeu por fim.

Ela assentiu e se retirou. O empresário  continuou a tomar seu chá no mais absoluto silêncio.

Quanto por fim terminou o de jejum ele pegou as chaves do carro se se dirigiu para garagem. Hoje seria mais um   daqueles dias corridos e ele precisaria de todo seu esforço físico e mental para superar isso.

Chegando a enorme garagem ele olhou para sua moto, uma vontade enorme de sair com ela lhe invadiu, mas ele ignorou essa vontade. A moto não permitiria que ele chegasse ao trabalho de forma apresentável e por mais que gostasse de viajar com os cabelos aos vento ele preferiu ignorar isso. A bela Kawasaki Ninja permaneceria desligada e esquecida no fundo de sua garagem por mais tempo.

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