Kenma dormiu muito bem na cama de Kuroo naquela noite, obrigado por perguntar. Os dois conversaram até tarde da noite, quando as cigarras cantavam uma cacofonia, na visão de Kenma, e riram até que suas costelas doessem, as risadas abafadas para não acordarem os outros irmãos, e quando Kenma dormiu, Tetsuro puxou o fino cobertor até suas cabeças para se protegerem dos mosquitos, e riu ao sentir a perna de Kenma o envolver. O príncipe não tinha culpa, ele costumava dormir agarrado em uma almofada, e o corpo Tetsuro era tão confortável e fofo quanto.
Ao presente, o dia amanhece cheirando a poeira e cavalo. Kenma na hora reconhece o cheiro dos cavalos do estábulo do palácio e não tarda em acordar Kuroo e pedir para que eles se escondessem urgentemente.
Kuroo então ensina Kozume a pular a janela do quarto porque ele sabe de um lugar ótimo para eles se esconderem. Os dois amigos correm pelo quintal de trás da casa até uma casa na árvore, onde Kenma apressa Kuroo o tempo todo para que suba logo a porcaria da escada, pelo amor de Deus. Os dois entram, fecham a porta e se encolhem abaixo da janela. Kozume olha ao redor, não há muita decoração, apenas alguns desenhos colados na parede e um quadrado desenhado no chão com giz de cera, que após um esforço Kenma lê que está escrito TAPETE no centro, em letras de forma. Há uma árvore que sustenta a casinha e ela passa pelo meio da sala, o tronco está rachado mas ela parece muito forte.
Kenma mal respira quando nota Kuroo o encarando fixamente e reprimindo um sorriso.
— O que foi?
— O que achou da minha casinha na árvore, Kyanma? — Kuroo pergunta, balançando as pernas no chão. Ele bate os pés na madeira e o coração de Kozume falha ao ver o barulhão que aquilo faz.
— Seu idiota, se continuar fazendo esse barulho todo, os cavaleiros vão notar que estamos aqui! Fique quieto.
Kuroo faz um beicinho magoado.
— Relaxa, meu. Eu sento aqui todos os dias e falo muuuuito alto sem nem me preocupar se alguém me escuta ou não. E eu acredito que ninguém ligue para meus surtos, quando eu rio, choro, grito, sabe? Então nós podemos dançar tango, sapateado, balé o quanto quisermos, porque ninguém se importa tanto assim.
— Você diz isso porque é um plebeu. Eu sou o príncipe e tem gente atrás de mim, porque eu não posso nem respirar do jeito que eu quero.
— Puxa... Deve ser difícil, né.
— É... Muito. Queria poder trocar de lugar com você e ser um pirata também. Poder ir pro horizonte e mentir que vi o monstro do lago ness.
— Eu não menti!
— Ah, fique quieto.
Ele realmente se cala, e Kenma sente falta de sua voz por um instante.
— Onde está a sua coroa, Kenma? Você perdeu ela quando caiu da montanha? — Kuroo se encolhe mais ainda e abraça suas pernas.
— Ela está no castelo. Lá, nós não usamos nossas coroas casualmente, apenas em celebrações e coisas envolvendo política — Kenma explica.
— Entendi. Como é usar uma coroa?
— Ela é meio pesadinha, e gelada, deixa meus cabelos todos embolados e desarrumados. E é claro, a sensação de saber que aquele peso signifca algo enorme é muito ruim de se sentir, sabe? Eu sou o príncipe.
Kenma nunca havia dito essas palavras em voz alta, em uma tentativa de mascarar o título qual não gostava nem um pouco. Só de pensar que, um dia, teria que resolver todos os problemas do vilarejo lhe dava uma preguiça danada e uma ansiedade tremenda, mesmo que ele já estivesse estudado para isso e não lhe faltasse inteligência.
— Eu gostei da sua casinha na árvore — Kenma quebra o silêncio. — Achei bem... Exótico. Digo, esse conceito de ter uma árvore no meio do hall de entrada. Bem vegano. Acho.— Obrigado. Eu que decorei — ele diz com ironia.
— Ficou lindo — responde, com ironia também.
— Normalmente eu venho aqui sozinho. E então desenho, faço pinturas, estudo, canto, e essas coisas assim. Ah! Já sei — ele se levanta de supetão e olha para Kenma. — Enquanto não temos certeza de que seus guardas foram embora, vamos dançar uma música.
Kenma se levanta também, resmungando que Kuroo nem ofereceu a mão para o ajudar. Então Tetsuro toma o príncipe pela cintura e começa a ditar os movimentos. Um passo pra cá dois pra lá não Kenma você fez errado que coisa vamos de novo um dois um dois gira e aí você mexe o pezinho assim entendeu não desse jeito kenma senhor do céu.
Mas Kenma não leva desaforo e responde. Você não tá guiando a dança direito que merda segura minha mão pra eu girar pare de reclamar não sou eu que danço errado é você que cobra o que não ensina ô inferno.
E eles ficam assim. Não há música nenhuma tocando, e nenhum dos dois garotos sussura uma melodia, mas eles sabem exatamente o que precisam dançar e como fazer isso. Eles dançam o que mais tarde originalmente chamariam de Valsa Dos Jovens Paixonados. Como se seus pés se conhecessem, a dança se encaixa como peças de quebra cabeça, e de repente Kozume não se importa com os guardas lá fora, que provavelmente já nem estão mais ali.
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na verdade eu queria ser um pirata | kuroken.
Fanfictione o que há depois do oceano? kenma quer saber!