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Kenma olha para o castelo lá em cima e se questiona se alguém já deu falta dele, mas acredita que não, porque já era de seu feitio sumir o dia todo para brincar. Ele quer voltar, mas sabe que irá sentir falta da liberdade e da companhia de Kuroo... Falando nele, o dito cujo está de pé no barco, segurando uma vara de pescar, e Kenma observa como ele e seu pai parecem estar muito bem acostumados a estarem no meio do mar, praticamente ilhados. Kozume desvia o olhar para o horizonte, na parte onde o mar acaba.

— Meu sonho é ir até o fim do mar — o príncipe comenta.

Kuroo o encara confuso.

— E onde fica o fim do mar?

— Lá — ele aponta para o horizonte.

Kuroo ri alto.

— Lá não é o fim do mar, Kozume — Tetsuro sente algo puxar sua varinha, mas ele sabe que não é um peixe.

— E o que é, então? Não é lá que os barcos caem? — Kenma pergunta.

— Não. Eu já fui lá, sabia?

— Ah, é? E o que tem depois do mar? Você caiu quando chegou lá? — Kenma questiona, os olhinhos vidrados no amigo.

— Kenma, não é assim que funciona. Quando você chega no horizonte, tem outro horizonte para ver, porque a água só acaba quando há terra, e depois da terra tem mais terra. Então, se nós pegarmos esse barquinho em que estamos e remarmos até lá, não vamos cair, mas sim vamos apenas continuar a encontrar água e mais água, entende?

Kenma fica em silêncio, e torce a boca como sempre faz ao pensar profundamente em algo. Não, ele não entendeu. Como assim outro horizonte? Não é possível, Hinata havia o dito um dia que todos os barquinhos que navegaram até o horizonte haviam caído do mar.

— Não entendi. Podemos ir até lá?

— Papai diz que não, porque o barquinho é muito pequeno, fraco, não aguentaria ir até o horizonte com três pessoas dentro.

— Ah... — Kenma murmura, desapontado. — Tudo bem, eu peço para meu pai me levar lá um dia. Eu espero que você não esteja mentindo, Kuroo Tetsuro.

— Não estou! — Kuroo exclama, largando sua varinha. Ela bate na beira do barco e cai na água. — Ai, meu Deus! — Kuroo se estica e pega sua vara de pesca de volta.

— Me desculpa, você derrubou ela por minha causa.

— Que nada — Tetsuro acenou. — Acontece.

O moreno nota que seu fio está mais pesado, e então roda o molinete para revelar uma bota de couro revestida por cristais. Ele tira do anzol e joga no barco, coloca outra minhoca no ferro e joga o fio no mar novamente. Kenma se mexe devagar no barco, com medo de causar um acidente, e então alcança a bota para a estudar melhor. Quem quer que fosse o dono daquele sapato, tinha um péssimo gosto pra moda. Mas era interessante como as pedrinhas não caíram mesmo molhadas.

— Engraçado que peixe num vem, mas bota sim! — Tetsuro reclama.

— Isso é ruim?

— Sim. Se fossem duas botas, não, como é só uma, é ruim sim. Mas tem gente na cidade que compra coisa assim, sabe se lá o que fazem, e a gente não pode jogar lixo no mar, então seguramos quando vem na linha — Kuroo explica. — Mas é normal, acontece. Uma vez peguei uma bolsa e vendemos ela por um bom dinheiro. Acho que restauraram ela para parecer nova ou algo assim.

— Que legal — Kozume murmura, virando a bota de um lado para o outro.

— Não é? Você sabia, Kenma, que uma vez eu pesquei um peixe de dez quilos?

Kozume calça a bota e fica maravilhado ao ver que o sapato veste perfeitamente em seu pé. Ele deseja ter o outro pé da bota para que o par fique completo.

— Que incrível! — Kozume exclama, olhando para a bota que reflete a luz solar pelos seus cristais coloridos.

Kuroo provavelmente pensa que Kenma está maravilhado é com sua conquista de pescar o peixe de dez quilos, um tesouro no mundo dos pescadores. Na verdade, quem pescou esse peixe foi sua irmã, mas isso ele não admite nem que o paguem.

— Não é? Eu sou incrível, eu sei. E mais, teve outra vez que eu vi um mostro do lago ness!

Kenma para de olhar para a bota e encara Kuroo com desconfiança.

— Mas o monstro do lago ness só aparece no lago ness...

— Sério? Que mentira! Eu vi ele esses dias na minha frente.

— Mas o nome do bicho é literalmente monstro do lago ness...

— Não importa. Eu vi um monstro esses dias. Ele era enoooorme!

— Isso me parece uma história de pescador. Daquelas bem mentirosas.

— Acontece. Ninguém acredita em mim quando conto minhas histórias de alto mar. Estou começando a me frustar com essa vida.

na verdade eu queria ser um pirata | kuroken.Onde histórias criam vida. Descubra agora