How do I love again?

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Faziam algumas semanas desde que Julie havia entrado na escola nova, sua intenção ali era se afastar de problemas do passado que ainda a atormentavam e reconstruir aos poucos o que fora quebrado dentro de si.
Bem, não demorou para que fizesse amigas. Flynn e Carrie foram as primeiras a se aproximar. Quando se conheceram, a primeira coisa que as meninas ofereceram para Molina foi um convite para uma festa, já que ela atraira a atenção de vários garotos, mas a mesma negou dizendo que já namorava.
Com o passar dos meses se aproximaram ainda mais, afinal, se deram bem. As garotas notaram um hábito peculiar de Molina, ela sempre escrevia em um caderninho de capa preta, onde haviam dois nomes gravados: Julie e Luke. Por curiosidade, elas perguntaram o que era, coisa que a morena respondeu prontamente: Cartas e músicas para o namorado, o tal de Luke, que faziam com que se sentisse mais próxima dele, já que estavam namorando a distância segundo ela.
Até que um dia, quando as garotas estavam saindo da escola:
-Oi, Jules! - Fala Flynn na saída da aula, abraçando a melhor amiga.
- Eu e a Flynn vamos no shopping no sábado, quer ir junto?
-Não vai dar gente, eu... Vou visitar o meu namorado esse fim de semana.
-Sério? Aí meu Deus, que ótimo, Julie! Você deve estar morrendo de saudade dele, né?
-Vocês não fazem ideia... - Molina aperta o caderninho preto contra o peito. - Enfim, desculpa, mas dessa vez não dá mesmo.
-Relaxa, curte com seu boy! - Flynn disse sorrindo. - Ah, e depois queremos muitas fotos de vocês dois juntos, ok?
-Eu não sei se isso é possível...
-Ué, como assim? - O olhar da cacheada era triste, fazendo com que ambas as garotas ficassem mais confusas.
-Ele não é o maior fã de fotos... Enfim, tenho que ir.
A garota correu para fora da escola rapidamente, guardando o caderninho dentro da bolsa. Carrie olhou para Flynn desconfiada:
-V-Você acha que esse namorado da Julie é inventado?
-Como assim?
-Flynn, eu já peguei o celular dela pra te mandar mensagem uma vez. Eu não vi nenhum contato salvo como "Amor", "Namorado" e muito menos como Luke. Ela nunca nos mostra fotos dela com ele e já faz quase um ano que eles não se falam pessoalmente. Como esse tal de Luke não veio pra cá já que a Julie sempre diz que são muito apaixonados um pelo outro? Suspeito.
-Às vezes ele estava com problemas financeiros.
-Vamos ser realistas, nós duas temos  namorados, talvez a Julie não quisesse se sentir excluída no grupo e inventou esse tal de Luke. A letra da capa do caderninho é dela.
-Talvez seja porque ela que escreveu pra dar de presente ou sei lá...
-Por que não seguimos ela?
-O quê? Tá maluca?
-Flynn, se a Julie estiver mentindo sobre isso podemos falar pra ela que tá tudo bem ela não namorar! Ela pode até estar mentindo pra si mesma, você não quer o melhor pra ela?
-Q-Quero, mas...
-Então tá decidido, esse final de semana nós vamos seguir a Julie até vermos com nossos próprios olhos esse tal namorado.
Flynn não conseguiu argumentar contra isso, toda vez que tentava falar algo, Carrie refutava. Então assim que o final de semana chegou, esconderam-se dentro de um arbusto e ficaram observando até que Molina saísse de casa.
Quando isso aconteceu, seguiram-na com cuidado, para não fazerem barulho e serem notadas.
A primeira coisa que estranharam foi a amiga estar a pé, se o tal de Luke morava perto, por que eles se viam tão raramente?
Continuaram a seguindo até que aconteceu a segunda coisa estranha. Julie não entrou em uma casa ou em um prédio, mas sim em um cemitério. As garotas se questionaram se ela e o namorado se encontravam escondido ali, afinal que outra razão teria para que ela entrasse naquele lugar?
Fizeram o mesmo e adentraram-no, se escondendo atrás das enormes árvores que faziam sombra sobre os túmulos. Paralisaram quando viram Molina se virar para um deles e ficaram chocadas com o nome escrito na lápide: Luke Patterson.
Não era possível, então será que...
-Oi, meu amor! - Disse Julie com um sorriso triste no rosto. - Como você tá? E-Eu... Escrevi uma carta e uma música pra você. Sei que não vão tampar o buraco do meu coração, mas... Eu preciso que você ouça porque... - Ela engoliu em seco, logo as lágrimas começaram a escorrer. - Porque dói demais, faz um tempão que eu queria vir aqui te ver, porém eu não conseguia me despedir de você. - Ela abriu o caderninho. - Querido Luke, já fazem oito meses desde que você se foi, espero que para um lugar melhor. Lembro-me muito bem de quando nos conhecemos, eu estava muito triste com a partida da minha mãe e você veio me dar os pêsames na escola. Um mês depois você me ouviu cantando e nunca mais desgrudou do meu pé, queria fazer com que eu voltasse para a música, falava que o mundo precisava conhecer minha voz e meu talento. - Uma lágrima pingou no caderno, borrando parte do que estava escrito.  - Você me ajudou a compor músicas, tocamos juntos... Eu nem sei exatamente quando me apaixonei, mas você se tornou meu conforto, parte da minha família, meu melhor amigo, meu lar e mais posteriormente, meu namorado e o amor da minha vida. Aos poucos me ajudou a ir colando os cacos do meu coração despedaçado. Tudo isso para depois de um tempo você descobrir que estava com a mesma doença que minha mãe... - A voz de Julie falhou. - Eu tinha esperanças de que você seria forte, de que superariamos isso juntos e tudo voltaria a ser como era: Músicas, amor e alegria. Infelizmente, o destino não quis assim. Quando você me chamou naquela sala de hospital, depois de saber que não teria mais jeito, eu já estava arrasada. Sentia que se sua vida acabasse, a minha acabaria também.  Mas bem ali, você me deu Perfect Harmony, a nossa última música. Toda vez que leio ela, penso que nunca vou amar alguém como eu te amo e que ninguém vai me amar como você me amou. Quando estava perto do seu leito de morte, me fez prometer que ia seguir em frente, que não desistiria da música outra vez, que eu continuaria cantando e compondo por nós. Ainda dói muito lembrar de você e acabei não cumprindo o prometido, não consegui cantar, não sem você! - A garota se ajoelhou, passando a mão no túmulo. - Por isso, depois de todo esse tempo, escrevi essa música, talvez como uma despedida... Não está completa, mas é melhor que nada, né? Espero que goste.
A garota fecha os olhos, deixando deixando a tristeza tome conta de si, soltando mais choro e sua voz:
-Yelling at the sky
Screaming at the world
Baby, why'd you go away?
I'm still your girl
Holding on too tight
Head up in the clouds
Heaven only knows where you are now...
Carrie e Flynn assistiam tudo, chorando junto com a amiga, não podiam imaginar a dor que ela sentia. A morte da mãe e em seguida do namorado:
-How do I love, how do I love again?
How do I trust, how do I trust again? - Molina solta um suspiro triste, como se voltasse a sentir as mãos dele acariciando os seus cabelos e a voz acompanhando a dela. - I stay up all night
Tell myself I'm alright
Baby, you're just harder to see than most
I put the record on
Wait 'til I hear our song
Every night I'm dancing with your ghost...
Era como se ele estivesse ali, ela queria que estivesse, para abraça-la e dizer que estava tudo bem, que ia passar. Como se tocasse as notas da música com o violão enquanto ela cantava com sua voz de anjo, como ele mesmo chamava:
-'Cause every night I'm dancing... With your ghost.
Naquele momento a garota despencou, sussurrando a última parte:
-Eu te amo muito, meu amor. Para sempre, sua Julie. Como eu sinto a sua falta...
Naquele momento, as amigas não aguentaram, foram até ela e a abraçaram forte, sabiam que a mesma precisava daquilo. Molina nem questionou a razão para as duas estarem ali, apenas retribuiu o abraço, chorando cada vez mais nos ombros das meninas:
-Eu só queria que ele ainda estivesse aqui.
-A gente sabe, Jules. - O abraço ficou mais forte, todas ali choravam.
O que elas não sabiam é que ali, sentando em cima da lápide assistindo tudo estava o próprio Luke, com um sorriso triste, mas ainda havia um fio de felicidade em sua alma por poder ver o rosto de sua amada uma última vez antes de atravessar para um lugar melhor.
Tudo que queria era poder confortá-la, mas quando ele tentava a abraçar, a única coisa que fazia era atravessá-la. Foi obrigado a passar oito meses sem poder fazer nada para ajudá-la. Mas parece que seu assunto inacabado tinha sido resolvido, Julie finalmente havia botado tudo pra fora, se despedido. Mesmo sabendo que ela não sentiria, se levantou e foi até onde estava o rosto de sua amada, passando a mão por ali em uma carícia de despedida. Mesmo que na realidade a mão dele não tivesse a tocado, ele precisava fazer aquilo:
-Eu também te amo muito, meu amor. Vou estar te esperando do outro lado... Só não chegue lá tão cedo, você merece ter um vida incrível e aproveitar cada segundo dela. Sem arrependimentos, se lembra? Você pra sempre vai ser minha harmonia perfeita, Julie. Até breve.
E assim, ele seguiu a luz, finalmente podendo descansar em paz. Talvez Julie não se dê outra chance de amar tão cedo, mas ao menos pode curar um pouco da dor de perdê-lo. Aquilo trouxe um pouco de conforto para ela e, sem saber, para ele também.

Dancing with your Ghost - One-Shot de Juke Onde histórias criam vida. Descubra agora