41 - O deserto depois da chuva

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Assim que Jian Qiao resolvesse algo, ele certamente o faria.

Além de comer e beber, ele passava todo o tempo dormindo. Sua respiração foi ficando cada vez mais fraca, até que o subir e descer de seu peito era quase imperceptível. Seus servos ficaram com tanto medo que ele morreria sem fazer barulho que estenderam as mãos trêmulas para testar sua respiração.

A rainha Moen costumava ir vê-lo. Cada vez que ela saía, seu rosto ficava mais solene do que antes.

Jian Qiao estava tão magro que restavam apenas alguns ossos, mas seu rosto estava tão bonito como sempre.

Era um tipo de beleza que estava congelada e mortalmente imóvel, uma beleza moribunda que floresceu a ponto de desaparecer. O ciclo de vida de uma flor costuma ser curto. Este é o seu destino.

E Jian Qiao não foi exceção. A maioria das pessoas como ele não vive muito.

A Rainha Moen esperou todos os dias pelos servos de Jian Qiao darem a notícia de que ele havia morrido. Milagrosamente, ele sobreviveu dia após dia. Ele estava deitado na cama, afundado sob uma colcha grossa, respirando tão pouco que parecia um morto-vivo.

Mas todas as manhãs, quando a névoa se dissipava e a luz entrava pela janela, ele abria os olhos com dificuldade e perguntava: "Rege voltou hoje?"

Quando obteve uma resposta negativa, fechou os olhos e não voltou a acordar durante o resto do dia. Os criados só conseguiram abrir sua boca e despejar o mingau e o remédio.

No passado, ele era atormentado por insônia e pesadelos todas as noites. Dormir era o que ele mais temia. Agora ele poderia dormir o tempo que quisesse. Ele finalmente superou seu maior medo, apenas para cair em um ainda maior.

Ele estava com medo de perder Rege.

Ele era como uma faísca tênue enterrada profundamente nas cinzas. As cinzas o deixaram desesperado, mas também impediram que seu calor residual desaparecesse.

Até a Rainha Moen ficou chocada com sua tenacidade.

Ele parecia viver apenas para esperar por Rege.

Gradualmente, o ódio da Rainha Moen por ele desapareceu. Uma pessoa que amava, mas não sabia, ela só podia ter pena dele.

Um dia antes da chegada do inverno, o servo de Jian Qiao correu para o hotel como um redemoinho, se ajoelhou ao lado da cama e disse enquanto respirava ofegante: "Mestre, acorde, Lorde Rege está de volta! Mestre, acorde levanta! O homem que você esperava está de volta! Glória venceu!"

Naquela hora era quase noite, uma espécie de hora das bruxas.

A mente de Jian Qiao há muito caiu em um abismo escuro do qual ele não acordou. Ele acordava apenas por um momento todas as manhãs quando aparecia a primeira luz do dia e, com os lábios secos e rachados, pedia notícias de Rege. Sua força vital há muito esgotada teve que ser reduzida e salva para durar.

Ele sabia que quanto mais tempo ficasse acordado, menos viveria, e então não seria capaz de esperar por Rege.

Seus cílios tremeram, mas finalmente ele voltou ao silêncio.

O criado gritou várias vezes, mas não conseguiu acordá-lo, então ele desistiu.

Naquela noite, uma carruagem parou lentamente em frente ao hotel. Um homem excepcionalmente alto saltou da carruagem, deu a volta pela lateral do edifício e ergueu as mãos para agarrar o cano da calha, como se quisesse subir. Mas ele mal escalou antes de franzir a testa, revelando uma expressão de dor.

"Deixe o estalajadeiro levá-lo para cima. Seu corpo está coberto de feridas", disse uma velha voz da carruagem.

O homem concordou e, quando passou pela janela à luz de velas, a luz revelou um rosto bonito. Não era outro senão Rege.

[BL] A Scumbag Always Get What He Deserves (PT/BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora