Capítulo 6

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Âmbar

Eu estava dolorida, mas estava me curando, as feridas da alma chegavam a doer muito mais do que as feridas físicas. Muito mais.

Nenhum dos rapazes veio me ver, estavam ocupados com os treinamentos do acampamento illyriano, eles vinham uma vez no fim de semana dar uma "olhada" em mim.

Eu não precisava ser vigiada, não precisava ver a pena deles sempre que eles vinham aqui.

Chegava ser humilhante ver a pena no olhar de cada um, me fazia me sentir mais fraca do que eu já estava.

Eu havia assaltado a pequena adega da cabana, e havia provado os vinhos de lá.

Pelos deuses, os vinhos daqui são... Magníficos, mag.ní.fi.cos!

Eu já estava na quinta taça quando Cassian entrou na cabana, batendo antes de entrar, ouvi seus passos até a pequena sala onde eu estava.

Eu estava largada no pequeno sofá, a garrafa do meu lado e a taça na mão.

— A farra está boa. -ele observou.

Eu dei de ombros, me interessando mais no conteúdo vermelho rubi da minha taça.

Ele delicadamente levantou minhas pernas e sentou no sofá, abrindo pouco suas asas e pondo minhas pernas em cima das suas.

Ele me encarou e eu o cortei de imediato...

— Não me olhe assim, eu já estou farta de vocês me olharem assim. —minha voz vacilou— me sinto a pior puta de todas em um estado de decadência só por esses olhares, cada olhar de pena me quebra de tal forma que não seria a mesma coisa se eu quebrar essa taça no chão... Eu não quero pena, eu não mereço e nem a quero me assombrando, eu estou ferida e com a alma estilhaçada, mas não é por isso que quero que me olhem como se eu fosse uma cadela abandonada, apesar de eu praticamente ser isso.

Eu bufei virando o rosto, a mão trêmula.

— Eu não sinto pena. -ele disse.

— Não minta, tia Miranda nos ensinou desde crianças que isso é algo horroroso. -murmurei com a voz embargada.

Eu respirei fundo, tomando um gole do vinho.

— Eu sinto orgulho de você, BB. —disse Cassian— porra, você... Você é a primeira guerreira que eu vejo na minha vida.

— Você vê a nossa tia. -falei.

— Ela é uma dama de espadas. -ele disse.

Eu não o encarei.

— Você sobreviveu, você é uma sobrevivente e viverá batalhando até que você ache que conquistou o que seu coração quer.. —ele continuou— você já conquistou a sua liberdade, BB, agora você terá que conquistar o mundo aqui fora, e pode ter certeza que parte dele você já tem em mãos.

Ele acariciou minha perna.

— Olhe para mim.

Eu neguei balançando a cabeça, a vista embaçada pelas lágrimas, eu respirei fundo e soltei o ar trêmulo, mordendo os lábios para não soluçar.

Eu me negava a chorar, me negava a me afundar mais ainda naquele poço de morte que cantava canções convidativas e antigas, calorosas, afim de me puxar para si.

— BB. —ele puxou delicadamente meu rosto com sua mão— olhe para mim.

Eu ergui meu olhar para ele e o olhar que Cassian tinha para mim não era de pena, era de carinho, orgulho, ternura.

— Estou com você, todos nós estamos, até o fim. —ele disse— e se você quer ou não vencer essa batalha sozinha.. nós estaremos te dando apoio, e comemoraremos com você na vitória.

Corte de Sonhos e PesadelosOnde histórias criam vida. Descubra agora