Adaptar

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Dormir e não sonhar, era isso que eu estava fazendo quando estava em coma, e foi isso que fiz essa noite. Acordei bem antes do meu despertador tocar e desci para a cozinha. Nunca se quer imaginei que isso pudesse acontecer comigo, sempre imaginei que fosse coisa de filmes, mas pelo que posso ver não é. Isso tudo que acontece agora é uma situação tão nova, tão estranha. Em um minuto vou dormir depois de um longo caso, depois de me corresponder com Hotch, um velho conhecido que se tornou meu amigo com o passar dos anos, lembro-me que éramos grandes amigos, conversávamos e escrevíamos sobre tudo, desde nossas desilusões amorosas até os casos em que trabalhávamos, ele era meu melhor amigo, lembro-me que havia lido uma carta dele de mais cedo naquele dia, em que ele me contava que sua namorada Haley tinha morrido em trabalho de parto, infelizmente nem o bebê sobreviveu. Na mesma tarde daquele dia lembro também de colocar uma carta no correio dando meus pêsames por ele, e contando-lhe que fui transferida para Quântico, para trabalhar com a unidade anti terrorismo. Essas são as últimas coisas que me lembro.

Sou tirada das minhas recordações quando dois adolescentes descem brigando, ou melhor o garoto briga seriamente com ela, enquanto ela apenas ri da situação. Eles parecem arrumar a mesa para o café da manhã enquanto discutem. Quando sentam parecem finalmente perceber que havia mais alguém naquele cômodo.

_Bom dia mãe. –Eles dizem em coro

_Bom dia. – Respondo um pouco seco, ainda tinha que me acostumar com o fato de ser mãe, não que eu não tenha pensando que um dia me tornaria mãe, só pensava que nunca acharia o cara certo.

Eles comem normalmente, quando dois furacões descem as escadas correndo, e me pegando de surpresa em um abraço duplo. Ambos sorriam e eu não pude não fazer o mesmo.

_Eu achei que fosse um sonho. -Disse o que gêmeo que não tinha covinhas.

Sentados na mesa observei com canto do olho como os dois jovens reagiam com aquela cena.

Acabando o café da manhã, Anne me ajudou a arrumar os garotos para poderem ir à escola também. Foi um pouco difícil para mim achar os locais, por sorte eu não havia me esquecido de como dirigir. Anne me deu as instruções de onde era a escola dos meninos e onde ficava o colégio dela e de Alex. Quando estacionei para deixar os dois últimos eles se despediram assim como os caçulas, e ela me perguntou:

_A senhora sabe como chegar aqui de novo? –Eu assenti. –Nossas aulas terminam às quatro horas, só que nós pegamos o ônibus para casa, mas a aula dos monstrinhos terminam às três horas e a senhora tem que ir busca-los.

_Okay. –Eu disse e eles foram rumo a escola.

Não tive dificuldades para voltar para casa, sempre tive uma boa memória, o que era irônico graças a minha situação atual. Cheguei em casa não tinha nada para fazer e nem ninguém para conversar, então resolvi analisar o perímetro, decidi fazer minha própria vitimologia.

A casa em geral era um lugar bem arrumado e as coisas pareciam estar em seu perfeito lugar, o que parecia estranho para uma casa onde se tinha crianças, o que reforça a teoria que eu continuei perfeccionista. Os quartos das crianças já não eram exatamente assim, ele demonstrava mais da personalidade delas.

O quarto dos gêmeos, parecia normal para crianças de cinco anos, brinquedos espalhados pelo chão e desenhos pregados nas paredes. Vi um porta retrato com uma foto de nós cinco ao lado da beliche deles, na foto estávamos eu na cama de hospital com um dos bebês nos braços e Hotch ao me lado com outro, na cama estava sentando Alex com o braço ao redor do pescoço de Anne, todos nós estampávamos lindos sorrisos nos rostos.

O quarto de Alex tinha uma variação de azul nas paredes, enquanto três delas eram azul claro, a outra era um azul bem escuro, os livros (estes que estavam organizados por ordem alfabética) e seus objetos de estudos estavam perfeitamente guardados, o quarto deixava transparecer que ele era um garoto fechado, organizado e que não demonstrava muito o que sentia, me surpreendi ao olhar para o computador que ontem estava ligado, ao lado dele tinha um porta retrato desses de moldura dupla, uma das fotos tinha todos nós no que parecia ser o aniversário dele de oito anos, enquanto ele soprava as velas eu e Hotch segurávamos os gêmeos e Anne o ajudava a apagar as velas, o outro porta retrato havia apenas duas crianças, um garotinho de cinco anos sentado na grama com uma garotinha de uns três anos mais ou menos ao seu lado, ambos tinham os cabelos negros, porém a garotinha possuía uma incrível pele pálida, deduzir ser ele e Anne.

O último quarto, possuía as paredes na cor rosa pastel, os moveis ali presentes eram todos brancos, observei a cama perfeitamente arrumada, o computador desligado, uma estante com muitos livros em sua maioria sobre países estrangeiros e idiomas, mas também tinha livros de literatura clássica europeia entre outros, à primeira vista pareciam estar desorganizados, não estavam em ordem alfabética ou organizados por cor, porém foi quando abri os três primeiros e os três últimos da estante que percebi que estavam em ordem cronológica de publicação, acho que a garota é extremamente perfeccionista. Foi então que vi o livro que ela estava lendo na noite passada, aparentemente era sobre o folclore árabe, me surpreendi com a dedicatória, "Visitei o Egito e me lembrei de você. Esse era um dos livros preferidos da sua mãe, espero que goste, com amor vovó" abaixo tinha uma assinatura muito conhecida por mim "Elizabeth Prentiss". A primeiro momento fiquei assustada, mas se ligarmos os pontos é claro que ela é avó pois eu sou a mãe, me perguntei como andaria nosso relacionamento no momento, ele sempre fora um pouco conturbado, as vezes nos dávamos tão bem, mas outras vezes era o oposto disso. Olhei no quadro de fotos dela, havia inúmeras fotografias, dela com cada um de nós, juntos ou separados, tinha com minha mãe, tinha até mesmo uma que parecia uma festa surpresa no escritório de Hotch, com todos nós e algumas pessoas que eu não reconhecia.

Já era noite, após me auto perfilar e aos meus filhos também, refletia sozinha na sala o que ocorrera durante o dia, quando deu a hora eu busquei os gêmeos, e mais tarde Alex e Anne chegaram, durante o jantar contaram como foi o dia deles, os gêmeos basicamente nos contaram que quase derrubaram a escola, meu Deus como são agitados! Alex me disse que o dia ocorreu tranquilo e que amanhã teria prova, Anne falou que foi tudo normal, até Alex cutucar dizendo que ela precisava estudar mais biologia, ela lançou a ele um olha do tipo não vamos falar sobre isso e ele se calou.

Hotch me ligou há alguns minutos me perguntando como eu e as crianças estávamos, ele pareceu preocupado, acho que é pelo fato de que uma mãe sem memória está cuidando dos filhos que nem sabia que tinha.

_Papai já ligou? –Anne me perguntou sentando ao meu lado no sofá.

Eu apenas assenti em resposta e então deixei que a curiosidade vencesse ao perguntar:

_Ele sempre liga quando está fora?

Ela deitou no sofá e colocou a cabeça no meu colo antes de responder:

_Antes de vocês se separarem, vocês sempre ligavam pra gente a noite, depois da separados, continuaram a fazer isso só que obviamente não juntos.

Eu acariciava seu cabelos e não me detetive ao perguntar:

_Foi muito difícil para vocês? –Mas que pergunta idiota eu me repreendo, logico que foi difícil, afinal eles são apenas crianças.

É então que ela me surpreende com sua percepção ao responder:

_A senhora nunca nos pediu nossa opinião e se eu tentava dá-la a senhora sempre me dizia que eu não entedia, ou que isso era o melhor para nós. Mas não era, a justificativa que papai deu era que assim vocês parariam de brigar, mas não pararam. Sempre foi perceptível. Acho que só vocês não viam. Depois do divórcio nossa vida mudou totalmente, não pense que papai nos abandonou, ele nunca faria isso, sempre que ele podia ele vinha nos ver ou nos levava para seu novo apartamento. Não foi só a senhora que mudou mamãe, os gêmeos ficaram mais terríveis do que já eram e Alex bem ele é igual ao papai muito fechado para admitir os sentimentos, ele simplesmente pulou de cabeça nos estudos.

Ela disse a última parte amargamente.

_E você? –Perguntei, pois ao descrever os outros ela se deixou de lado.

Ela sorriu de canto, um sorriso ardiloso a proposito.

_Acho que não mudei muito, continuei a estressar Alex e a cuidar dos gêmeos, só que nós duas já não éramos como antes. –Ela parou um minuto e nos encaramos por longos segundos, eu podia ver uma certa magoa no seu olhar e não sei o porquê, mas isso fez com que eu me sentisse mal. Foi então que desviando o olhar e já se levantando ela disse -Está tarde é melhor eu ir dormir, boa noite.

Ela finalizou me dando um beijo na minha bochecha e saiu dali me deixando sozinha ainda refletindo sobre suas palavras.

Aquela noite dormi, mas não parei de pensar, se todos havíamos mudado o que aconteceu com ela?

Acordando para a vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora