As viagens até Hua Hin demoravam geralmente cinco horas de trem, fato que Song aprendeu da pior forma possível no primeiro ano que viajou sozinho de volta para a cidade. Ao pegar o trem mais tarde, chegou ao final da viagem as 2:30 da manhã, e por não ter falado ou agendado nenhum quarto na pousada que pretendia ficar, teve de esperar até o amanhecer na portaria do local para que pudesse ser aceito como hospede no local. No ano seguinte, fez sua reserva na pousada uma semana antes de sua viagem e entendeu que precisava sair mais cedo para não chegar lá tão tarde.
O vagão em que comprou sua passagem não estava muito cheio, na verdade todos os vagões estavam um tanto vazios, talvez pelo horário da viagem. Song ocupou uma cadeira sozinho, e vendo depois que ninguém sentaria ao seu lado, tomou a liberdade de apoiar suas pernas no assento vazio e relaxar sua cabeça no vidro da janela. A chuva comum de junho voltava a cair levemente naquela noite, e Song alternava entre olhar para as janelas sendo molhadas pela chuva do lado oposto que estava e ler um pouco do livro que havia levado consigo na viagem.
Não era um devorador de livros, mas vez ou outra apreciava a companhia de um bom romance para passar o tempo. Pelo menos uma vez a cada dois meses ia até a livraria mais próxima e passava até uma hora folheando os mais interessantes e, quando finalmente encontrava aquele que mais lhe despertava interesse, o comprava e na volta para casa já aproveitava para ler com mais atenção as páginas introdutórias.
O que escolhera para levar consigo na viagem não era um novo, na verdade já o tinha lido algumas vezes, mas simplesmente amava tanto a história que quando sentia saudade, logo o pegava para reler. A culpa é das estrelas, de John Green. Ganhou de uma tia sua há alguns anos, quando a mesma veio passar alguns dias em Hua Hin na sua casa. Havia se casado com um britânico que conhecera ainda quando jovem, e ao completar 25 anos, mudou-se para Glasgow para viver com ele. Apesar de tê-la visto poucas vezes durante toda a sua vida, da ultima vez que veio a Tailândia, há quase 6 anos atrás, ela buscou trazer um presente para sua irmã e seu único filho, e foi assim que o livro veio parar em suas mãos.
Ela quis leva-lo para Glasgow quando soube da morte de sua única irmã, mas Song preferiu continuar em Bangkok, não queria se distanciar tanto do lugar onde sua mãe estava enterrada.
Se possível, visitaria seu túmulo todos os anos até sua morte.
***
— P'Winter! P'Winter! — Chamou Song repetidamente, tocando a pequena campainha na porta de entrada da pensão.
— Já estou indo! Santo Budha espere um segundo, não posso correr! — Respondeu uma voz irritada do lado de dentro.
Poucos segundos depois, a porta se abriu e a mulher com estatura muito similar a sua apareceu, com olhos que pareciam brasa viva. Ela estava certamente chateada com algo, mas assim que percebeu quem era, sua ira se desmanchou em um sorriso brando.
— Nong'Song!!!! — Disse ela em tom agudo, próximo a um grito. — Pensei que tinha perdido o trem.
— Perdão P'Winter, o trem acabou demorando um pouco mais na viagem, e o meu celular descarregou no caminho.
— Tudo bem, tudo bem. Vamos, entre logo, eu te ajudo com a mochila. — Ela pegou a mochila de suas costas, deixando com que ele carregasse a outra mala maior.
Winter era filha única assim como Song, e eles moravam na mesma rua quando mais novos. Era só alguns anos mais velha que ele, tinha 28, e tinha conseguido abrir sua própria pousada há pouco mais de um ano, e foi lá onde Song havia ficado no ano anterior. Winter não tinha mais tanto contato com sua família, pois eles não aceitaram tão bem a sua transição, mas mesmo assim ela decidiu continuar na cidade, trabalhando como podia até juntar dinheiro o bastante para abrir sua pousada.
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Love in Red Flowers | FlukeEarth
FanficExiste um ditado popular que diz que o amor aparece nos lugares mais inusitados, e a história de Song (Earth Katsamonnat) parece confirmar essa incomum frase. Um jovem sonhador morando em Bangkok, viaja de volta para Hua Hin, sua cidade natal, para...