Capítulo 13 - Winter, Summer Heat e Memórias

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De volta a pousada ainda no horário do almoço, Winter segurou o amigo à mesa o máximo de tempo que pôde, explicando tudo que acontecera na noite anterior com o seu, agora namorado, comentário esse que estava tão comum em seu monólogo quanto as pausas para respirar.

Algumas vezes até se engasgara com a comida, tendo que tomar um pouco de água e recuperando o fôlego por alguns segundos antes de despejar rios e rios de detalhes sobre o "agora namorado".

— Nós já tínhamos terminado de comer e agora estávamos sentados na areia da praia, observando o mar e as pessoas que passam aqui e ali. Eu me encolhi um pouco por causa do frio e ele fez questão de me abraçar com mais força, naquele momento eu quase gritei.

Ela sorriu abobada enquanto recuperava o fôlego. Sua comida já havia esfriado completamente, mas ela nem parecia se importar.

— Bem, foi nesse momento que eu percebi que o coração dele estava tão acelerado quanto o meu, e saber aquilo aumentou o meu nervosismo. Para o meu espanto, ele percebeu, então chamou a minha atenção, me fazendo voltar meu rosto para ele, já que ele estava me abraçando pelas costas... Ah foi tão lindo.

Mais uma vez a amiga mais velha rompeu em sorrisos, e seu rosto e orelhas estavam quase tão avermelhados quanto as pétalas de uma poppy. Qualquer um poderia achar a situação risível, mas para Song não. Tudo lhe soava extremamente fofo.

— Ele começou a falar. — Ela coçou a garganta, fazendo um tom mais grave ao seguir com sua narrativa. — Winter, eu estive pensando... Já saímos há alguns meses e sempre que saímos nos divertimos muito, e cheguei ao momento de entender que não quero me distanciar de você, então tomei coragem de perguntar. Você quer oficializar nosso relacionamento? Digo, namorar comigo?

Outro ataque de sorrisos e suspiros.

— Evidente que eu respondi sim, e estaria mentindo se dissesse que não lacrimejei um pouquinho. Então ficamos ali na areia por mais algum tempo e em seguida fomos de volta para o apartamento dele. — Concluiu com um ultimo suspiro leve. Não pretendia mais consumir a comida gelada no prato, então afastou para o lado na mesa e voltou os olhos para Song. — Agora me diga, como foi a noite?

A riqueza de detalhes foi praticamente igual, e era possível notar o choque estampado no rosto ainda avermelhado de Winter quando Song explicou que nada sexual ocorrera na noite passada.

— Quando percebemos que nós dois estávamos muito nervosos quanto a isso, apenas deixamos toda a tensão para lá e focamos em nos divertir de outras formas. Tomamos um vinho branco maravilhoso, brincamos de guerra de travesseiro, contamos alguns fatos engraçados de nossas vidas, demos um beijo... — Enfatizou sorridente, relembrando a cena. — E tentamos assistir a um filme, mas adormecemos antes de compreender sobre o que ele falava.

— O mais importante é que vocês dois se divertiram. Mas Song, me diga uma coisa. Você já contou para ele que você vai embora na quarta? Digo, seria um choque para ele...

— Sim, contei. — Interrompeu o mais novo. — E me senti um tanto culpado, achando que tinha estragado nosso encontro. Mas foi então que ele me disse que... Ele se muda para Bangkok no fim de agosto!

Winter soltou um berro de felicidade, arrancando gargalhadas do amigo.

— Oh céus, já posso pensar em vocês dois oficializando tudo lá em Bangkok... Por favor me prometa que eu serei sua única madrinha!

— Santo e misericordioso Budha, nós nem sequer namoramos ainda P'Winter, vá com calma!

***

A luz dourada do fim de tarde já havia se dissipado há algum tempo quando Song terminou a sua maquiagem e se encarou no espelho. Reforçou um pouco o batom nos seus lábios avermelhados e levantou-se, checando pela última vez a roupa que vestia. Escolhera uma cropped clara e uma calça jeans de cintura alta, mas que ainda deixava exposta uma pequena parte de seu abdômen. Apertou sua pequena pochete na cintura e escondeu seus cabelos em uma touca aveludada. Estava pronto.

Desceu as escadas ansioso, parando próximo a porta de entrada, examinando o balcão, onde um homem mais velho se ocupava marcando um caça-palavras. Provavelmente era o faz tudo que a amiga sempre chamava quando precisava de ajuda. Naquela noite ele estava ali para tomar conta do local.

Poucos minutos depois, Winter apareceu, saindo da porta atrás do pequeno balcão. Seu cabelo estava solto e propositalmente arrepiado, usava um vestido curto azul e um salto médio prateado. Seus lábios avermelhados contrastavam com sua pele clara.

— Você está perfeita P'Winter! — Comentou o amigo, animado.

— E você não fica atrás, como sempre. — Retrucou ela. — Bem Sr. Joke, o senhor só precisa trancar a porta de entrada depois das 22:00. Pode se acomodar no ultimo quarto do terceiro andar, ele está vago. Estou levando minha chave reserva, mas creio que dormirei na casa de uma amiga. Não se preocupe, amanhã pela manhã estarei de volta e lhe recompensarei com um delicioso almoço.

O senhor sorriu para Winter e assentiu com a cabeça duas vezes, voltando então a ocupar-se com seu caça-palavras.

— Bem, vamos!

Os ânimos da dupla os deixaram extremamente falantes e foi somente ao contemplar a entrada do local que os dois se calaram. Na verdade, Winter teria continuado a falar, mas percebeu que a atenção do amigo havia sido roubada pela vista do lado de fora do carro.

O local não era nada semelhante ao que Song conhecera e frequentara anos atrás. A boate estava bem maior e bem mais iluminada, sua faixada totalmente remodelada e havia uma pequena fila na porta de entrada.

— Song, se está impressionado com o exterior, precisa ver como ela está lá dentro.

Summer Heat era o nome do lugar, talvez a única coisa que não mudara com o tempo. Era um lugar muito especial para a dupla de amigos. Para Winter, a boate representava o lugar que lhe permitiu ser quem verdadeiramente era, há uma década atrás, quando se montou e usou seu nome atual pela primeira vez. Dois anos mais tarde, trazido pela própria Winter, a SH fora o primeiro lugar em que tivera contato direto com outro homem gay.

Claro que nas primeiras vezes que visitou o local, utilizou-se de uma identidade falsa, coisa de que não se orgulhava. Mas não precisava trazer aquelas memórias de volta.

— Mas olha só, parece que alguém lembrou de visitar uma velha amiga! — Comentou a bartender quando os dois se aproximaram.

— Como sempre dramática P'Clear! — Comentou Winter em tom divertido. — Nem faz tanto tempo que vim aqui.

— Já faz quase dois meses Winter!

— Em minha defesa, os problemas que surgiram na pousada quase me levaram a loucura no último mês. — Continuou, finalmente sentando à bancada. — Mas eu não vim aqui só para me divertir, trouxe comigo um velho frequentador da boate P'Clear. Você provavelmente vai lembrar dele.

Song abriu a boca para se apresentar, mas nem teve tempo para colocar suas palavras para fora quando a bartender voltou a falar.

— Se tem uma coisa da qual me orgulho é da minha boa memória. — Disse ela, abrindo um sorriso em sua direção. — Tão bom ver você de volta aqui, Song!

Ouvir o seu nome realmente o deixou chocado. Não esperava em hipótese alguma que ela se lembrasse dele, não quando sabia que sua mãe ainda era viva quando visitou a boate pela última vez.

— Infelizmente ele já volta para Bangkok na quarta-feira, então decidi trazer ele até aqui para uma despedida em grande estilo.

— Pois muito bem. Considerem o que consumirem aqui hoje por conta da casa, meu presente por ter revisto um antigo freguês e uma amiga.

Naquele exato momento,Song soube que aquela noite seria inesquecível.

Love in Red Flowers | FlukeEarthOnde histórias criam vida. Descubra agora