Você não vai levar ela pra longe de mim

65 16 22
                                    

24 de abril 2019.

N A T A L I EA dor que sentia não era apenas física, mas sim, corrompia cada pedacinho que poderia ainda chamar de alma

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

N A T A L I E
A dor que sentia não era apenas física, mas sim, corrompia cada pedacinho que poderia ainda chamar de alma. Mabel havia amarrado meus braços com a mesma corda que eu costumava amarra-lá antes de dormir. Não confiava dormir com ela à solta fazendo barbaridades, muitas das vezes que eu tinha a chance de descansar era na calada da noite onde mesmo a ouvindo bufar de raiva— para querer se sobressair — a minha filha me deixava em paz.

Me sentia como ela agora, querendo escapar para não ter que olhar aquele corpo morto ao meu lado. Estava em cima de uma enorme poça de sangue, meu corpo estava tomado pelo sangue da vizinha e só o que eu fazia era choramingar baixinho.

A boneca como sempre ficava sentada na cadeira de balanço, aquele objeto percorria um olhar obscuro que me causava calafrios. Era como se aquele brinquedo guiasse os passos da minha filha, era como se aquela coisa mandasse ela fazer atrocidades. Poderia estar ficando louca com aquelas paranóias?Com certeza, mas buscava arrumar uma explicação para entender onde Mabel havia conseguido tanto mal para si.

Era como se ela estivesse possuída.

Debati minhas pernas e soltei alguns resmungos — mesmo com um tampão na boca — quando a minha filha surgiu da cozinha trazendo uma faca grande. Ela ria de como eu implorava para ela não fazer nada comigo. Mabel chegava a ser um demônio em forma de criança. Não havia limites.

Era uma sensação de estar na mira de uma mini-assassina que seria capaz de arrancar a minha cabeça e em seguida beber o meu sangue, e tampouco, se importava com o simples fato dessa vítima ser sua própria mãe.

Machucava aqueles pensamentos, porém o que doía mais era o meu cabelo sendo cortado como se fosse um entulho. Ela cortava os fios e mandava eu não me mexer, Mabel agia feito uma criança normal e sua voz infantil causava mais pavor.

Não sabia se ela ficaria contente apenas em me torturar daquele jeito, as lágrimas jorravam como cicatrizes sendo feitas em meu rosto. Estava mal. Muito péssima. Queria fugir e desaparecer daquele pesadelo que rodeiava a minha vida. Queria ser feliz ao lado da minha filha, queria que ela fosse motivo de orgulho e não vista como um monstro. Eu a via como um monstro.

Fui largada e desprendida, caindo no chão feito um lixo. Chorava litros, engatinhando quase sem força e com as mãos todas sujas. Consegui por milagre erguer o meu corpo puxando a fechadura da porta. No entanto, parecia que eu estava sendo tomada por algo muito pesado que não me deixava escapar da casa. Saí cambaleando até o lado de fora. Ventava muito e não havia ninguém para que eu pudesse pedir socorro.

Olhei para os lados, encolhendo os meus braços. Gemi baixinho pela ardência dos machucados que estavam na minha pele. Segui rastejando como um animal indefeso até a árvore que ficava próximo dalí. Por um minuto, meus olhos foram de encontro à residência e avistei Mabel me olhando da janela e acenando um " tchau" para mim. Ela não sentia o menor arrependimento pelo meu estado, parecia que estava amando me ver sofrer.

Amor doentio Onde histórias criam vida. Descubra agora