Eu sei que você está mentindo

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    08:00 AM

25 de abril 2019.

N A T A L I E — Foi um erro ter te procurado, doutor

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N A T A L I E
— Foi um erro ter te procurado, doutor. Estava enganada quando disse no consultório que através do que aconteceu naquela noite... Tivemos uma filha.

Mordi o lábio inferior, virando o rosto para não ter que mentir encarando os seus olhos. Tentava o fazer acreditar, estávamos sentados no refeitório do hospital tomando um café, eu não tinha o menor ânimo para engolir aquele líquido escuro. Aquilo servia mais de enfeite na mesa do que mesmo um refresco para o meu estômago.

O médico abaixou a cabeça, remexendo em seus fios castanhos claros parecendo estar visivelmente desconfortável com aquela situação. O próprio não vestia mais o jaleco branco e seu visual era de quem voltaria para casa depois de uma longa jornada de trabalho.

—Natalie, você está sendo honesta comigo?— assenti balançando a cabeça e de imediato pegando o copo de café para colocar na boca. Meu gesto momentâneo era para não ter que responder às incertezas que rodavam em seus pensamentos.

—Sim.—afirmei, olhando para minhas próprias unhas que estavam quase todas raladas.— Eu sinto muito.— murmurei baixinho, dando levemente de ombros.

Foi a única coisa que saiu naquele péssimo momento. O médico havia cuidado tão bem de mim durante à noite, que era meio que uma dívida retribuir. Porém, havia escolhido ocultar a verdade.

— Não precisa sentir.— Disse, e seus olhos claros percorreram para os meus aflitos. Procurava um jeito de fingir que nada estava errado, mas o doutor tocou em cima da minha mão que estava exposta na mesa, quis negar e afastar, porém era tão bom a sensação que o meu coração sentia. Fazia-me até esquecer do pesadelo chamado Mabel.Eu sei que você está mentindo.

O reflexo da convicção que destacava no brilho das suas íris claras atingiam profundamente a fragilidade que eu tentava esconder. Queria ele longe de tudo que pudesse afetar sua vida diretamente, como a minha filha.

Mabel seria um problema para ele.

— Doutor...— quis pará-lo, mas fui interrompida:

— É Dylan, Natalie. Me chame de Dylan.— Corrigiu-me, encarando o fundo dos meus olhos. Embora não fôssemos tão íntimos, existia uma troca de olhares nítida que me fazia ficar com aquele friozinho na barriga. Sentia isso na presença dele.

Contudo, não demorou muito tempo para aquela cena mudar. Comecei a perceber algumas pessoas em pé, comentando e olhando para tv. Minha respiração acelerou ao notar que a reportagem que falava no jornal era da minha casa. A repórter apontava para o local e mostrava o corpo da vítima que havia sido achada assassinada à sangue frio. Era o que estava escrito na legenda.

Meus pensamentos estavam a mil. Só queria que aquilo não estivesse acontecendo comigo. Avistava inúmeros carros de viaturas e a faixa amarela interditando aquela cena de crime. Por trás, no fundo, dava para enxergar o matagal e a vista pelo ângulo de frente do meu inferno. A casa.  Mabel também aparecia com um policial que parecia a guiar, ela segurava a boneca e olhava para câmera chorando como se fosse uma menina frágil que precisava da mãe, que no caso eu.

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