A neve caía com cada vez mais força no chão das ruas de Nova York, o que me deixava preocupada já que Billie ainda não havia chego em casa.
Enviei o último email à minha antiga chefe e fechei o notebook, bebendo mais um gole do chocolate quente que tinha em mãos. Ignoro o calafrio em minha espinha quando meus pés descalços tocam o chão gelado e caminho devagar até a cozinha. Lavo a pequena louça tentando focar no que estava fazendo e, falhando miseravelmente já que minha mente me pregava peças, distraindo-me com facilidade.
Meus pensamentos estavam cada vez mais confusos, espalhados por cada canto daquele apartamento mas concentrados no conteúdo dentro da caixinha, no armário do meu banheiro. Passei a semana inteira tentando me distrair, ignorando o sentimento de estranheza com meu próprio corpo e tentando viver minha vida como se nada estivesse acontecendo. Quando recebi a notícia de que estavam me despedindo da Vogue, senti como se todo meu mundo desmoronasse por alguns minutos.
Eu deixei toda a minha vida para trás por este emprego, me mudei para uma cidade estranha sem conhecer ninguém e arrastei a mulher que amo junto comigo. Billie largou seu emprego, sua família, seus amigos e toda sua vida em Miami por mim, para me apoiar na oportunidade que tive mas parece que fracassei. Fui demitida sem segunda chance e sem um bom motivo. Tudo por cortes que a editora resolveu fazer nos funcionários.
Me sinto patética.
Foi um ano inteiro de conquistas para que tudo sumisse em um piscar de olhos, todo esforço para nada... Dúvido que haja algum sentimento de incompetência maior do que o que estou sentindo. Me sinto cansada fisicamente e esgotada mentalmente, ao ponto de me sentir fraca.
Sigo direto para o quarto após lavar e secar toda a louça, arrastando meu corpo pelo corredor e ignorando o mal estar que sinto a cada passo. Me jogo na cama sem pensar duas vezes, fechando os olhos em uma tentativa falha de descanso. Preciso dormir um pouco antes que Billie chegue com o as compras e me faça levantar.
Era fim de tarde e Billie estava responsável pela ceia de Natal. Pela primeira vez, seria apenas eu e ela. Ignoro o aperto que sinto no peito quando me lembro da minha família e das minhas amigas. Todos se reuniram em Los Angeles, como quase todos os Natais. Por algum motivo, os últimos dias vieram cheios de emoções para mim. Eu estava extremamente sentimental e pequenas coisas faziam minha garganta fechar e meus olhos lacrimejarem.
Foram muitos os anos em que fiquei longe da minha família no Ano Novo mas Natal, era o primeiro. Talvez fosse está a razão de tanta comoção da minha parte. Mal consegui conversar com Sophia mais cedo quando ela me ligou para que eu a ajudasse a escolher o vetido que usaria na ceia. Fazia meses desde a última vez que as vi, a cada dia que passa fica mais difícil aguentar a saudade.
Lá estava eu, deitada em minha cama e prestes a chorar de novo quando o barulho da porta abrindo e chaves, chamam minha atenção.
- Amor?
Ouço a voz de Billie vindo da sala e trato de limpar a garganta, me recompondo rapidamente.
- Aqui no quarto! - grito, parta que ela saiba onde estou.
Não demora muito e Billie surge na porta, se encostando no batente.
- Já foi deitar? - pergunta com o tom de voz brincalhão.
- Estou me sentindo indisposta. - murmuro apenas, fechando os olhos e mergulhando o rosto no travesseiro.
- Então quer dizer que minha ajudante oficial não irá me acompanhar na cozinha hoje?
Apenas concordo com a cabeça, sem forças ou vontade para encontrar com seus olhos azuis que eu sabia, mesmo sem os ver, estavam me fitando.
- Desculpe mas dessa vez você vai ter que se virar sozinha.