One day at a time

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Meu coração está despedaçado.

Essa é a única forma que encontro de expressar o que estou sentindo no momento. É como se eu estivesse sendo rasgada, de dentro para fora. Ouço as pessoas falarem ao meu redor, recebo os cumprimentos e respondo as mensagens de "meus pêsames" que recebo a cada segundo, sorrio e respondo um "obrigada" mas eu não sinto nada.

Estou paralisada, apenas vivendo o momento. Meu corpo está aqui mas a minha mente vaga por ai, exatamente onde eu não sei. Sabe quando você liga o piloto automático? Exatamente isso.

Eu penso que talvez, para tornar o momento menos doloroso e mais suportável minha mente se desligou. Isso está me poupando a dor do sofrimento e da perda temporariamente. As amigas da minha mãe disseram para ela ficar me observando, talvez a ficha ainda não tenha caído. Realmente, a ficha ainda não caiu.

Eu perdi o meu melhor amigo, ele se foi e eu nem tive a oportunidade de me despedir.

Eu nunca vou esquecer da última vez que nos vimos, ele parecia tão feliz. Devo me lembrar desse dia? Ou devo guardar na memória a imagem de seu corpo gelado e pálido, deitado no caixão em minha frente?

Vou pensar nisso depois, no momento minha mente é um grande vazio. Eu queria chorar como minha irmã está fazendo agora, queria sentir a dor e extravasar ela de alguma forma. Não consigo. Por dentro eu sinto um extremo e profundo nada.

A pontada de culpa me atinge, meu pai morreu e eu não demonstro reação.

Billie disse que cada um reage ao luto de uma forma diferente, o problema não sou eu. Meu cérebro ainda está processando as informações, vai demorar um pouco até que eu me acostume que ele não está mais aqui. Essa é só a minha maneira de reagir á morte, eu gosto de guardar minhas emoções.

Isso vai me fazer mal, eu sinto isso. Não é nenhuma novidade para ninguém que guardar suas emoções te corrói por dentro. Infelizmente eu não consigo mudar o que sou, por enquanto eu sou assim. Guardo tudo para mim e espero que a bomba exploda.

Agora, parada em frente ao caixão em que o corpo do meu pai está, eu apenas espero que os fatos me acertem em cheio.

Billie segura minha mão, apertando-a levemente. As pessoas ao meu redor me encaram e eu resolvo colocar os óculos escuros de volta, cobrindo meus olhos que mesmo eu não chorando, estão vermelhos e inchados.

Já faz uma hora que estão velando o corpo dele, Billie não saiu do meu lado em momento algum. Segurou minha mão e me acompanhou a cada canto que eu ia, até quando senti que estava sufocando e sai para o lado de fora em busca de ar. Bebi um copo de água e ela esperou pacientemente ao meu lado, até que eu estivesse pronta para entrar de novo.

Em alguns minutos alguns homens pegam o caixão, a caminhada silenciosa e melancólica até o túmulo. Billie segura minha mão com ainda mais força, Sophia caminha até mim e se agarra em minha cintura. Sinto o bolo se formar em minha garganta, penso que vou chorar mas meus olhos estão secos. O choro silencioso de minha irmã se transforma em soluços altos que cortam meu coração, vindos do fundo de sua garganta.

Ela nunca terá a chance que eu tive ao lado dele. Ele nunca ensinará a ela como cozinhar a lasanha que só ele sabia fazer ou como andar de bicicleta sem rodinhas. Ele não esta mais aqui, agora somos apenas três. Perdemos o nosso exemplo de homem em casa, o que vai ser de nós sem ele? O que vai ser de mim sem meu pai?

Sinto um pequeno aperto em meu peito quando o discurso é finalizado. As pessoas me encaram e esperam que eu diga algo, rejeito. Ele sabe o que eu diria, isso basta.

O caixão desce silencioso a cova, pela primeira vez desde que chegamos ao cemitério eu me desvencilho de Billie e caminho até minha mãe. A envolvo em meus braços e acaricio suas costas, sentindo suas lágrimas grossas molharem meu sobretudo preto. Sophia ainda está agarrada a mim, as duas choram e eu continuo ali. Firme, sendo forte pela minha família. Eu serei o suporte que elas precisam.

Spin Off - MISS O'CONNELLOnde histórias criam vida. Descubra agora