- Finalmente você chegou!
Sorrio para Allysson assim que adentro a galeria. Já se passaram três meses desde a nossa primeira exposição no centro da Itália, desde então nossa vida está uma loucura. Achamos um bom lugar, amplo e bem localizado e agora temos nossa própria galeria de arte. Por sorte, já estava reformada e pintada de branco. Nós apenas demos nosso toque em pequenos detalhes e finalmente estava tudo certo, pronto para receber nossas obras.
Em três meses fomos muito procuradas, ficamos muito conhecidas e explodimos na Itália. Era uma fase boa, todo o esforço de anos na faculdade estava sendo reconhecido, eu não poderia estar mais feliz.
- Desculpa a demora, eu enrolei mais do que previa na maquiagem. - falo, caminhando na direção das escadas que me levariam ao escritório.
Allysson segue atrás de mim, fechando a porta e parando ao meu lado enquanto eu deixo a bolsa em cima da mesa.
- Nós vamos abrir em meia hora, já está tudo pronto? - pergunto, indo até o canto da sala e me servindo de um copo de água.
- Estão terminando de pendurar o seu quadro, eu pedi para esperarem por você e então você podia explicar para eles o que deviam fazer.
Respiro fundo, engolindo a água de uma vez e me virando para Allysson.
- Eu expliquei o que era para fazer, porque eles não penduraram isso mais cedo?
Allysson revira os olhos, cruzando os braços.
- Hailey você é muito exigente, ninguém entendeu o que você queria exatamente. Eles te falaram que tinham dúvidas e você foi a pessoa que disse para eles esperarem.
Eu disse isso? Minha memória está péssima, eu ando com a cabeça tão cheia ultimamente que sou capaz de concordar com absolutamente tudo que me pedirem, mesmo sem entender, apenas para me deixarem em paz. Me sinto tentada a perguntar a Allysson quando eu dei aquelas ordens mas, pelo olhar que ela está me lançando neste exato momento eu prefiro ficar em silêncio.
- Vamos resolver isso de uma vez. - murmuro, já começando a seguir Allysson.
Assim que chegamos na porta ouço meu celular tocando dentro da bolsa, indicando uma ligação.
- Você não vai atender? - Ally pergunta, se virando para mim.
- Não deve ser algo importante, eu retorno a ligação depois.
- Pode ser a sua mãe. - insiste, indicando que eu entrasse no escritório novamente com a cabeça.
Respiro fundo, dando meia volta e caminhando apressada até minha bolsa. Reviro um pouco as coisas dentro, procurando pelo celular até que o acho.
Prendo as respiração por alguns segundos ao ler o nome no visor, meu coração acelerando imediatamente. Me viro para Allysson, um sorriso torto no rosto em um pedido de desculpas não verbal.
- Vou te esperar lá em baixo. - murmura, revirando os olhos e fechando a porta atrás de si ao sair.
Deslizo o dedo pela tela, aceitando a ligação e sorrindo assim que vejo a pessoa do outro lado.
- Oi meu amor.
Billie sorri, se inclinando no sofá que eu reconheço ser o de sua sala. Seu cabelo azul - muito mais claro do que da última vez que nos vimos, fruto do início do desbotamento - está preso em um rabo de cavalo, duas mechas de cabelo caíam despreocupadas em seu rosto.
- Oi. - respondo depois de um tempo a admirando.
- Desculpe não ter te ligado antes, eu acabei de chegar em casa depois de uma reunião com algumas pessoas da gravadora.
- Está tudo bem, eu estive ocupada a manhã toda. Daqui a pouco eu tenho que descer, eles ainda não penduraram o último quadro.
Billie franze a testa, enquanto apoia o celular na mesinha de centro para abrir o que parece ser um pacote de salgadinhos.
- Como assim ainda falta um quadro? A exposição não começa em tipo, vinte minutos?
Assinto com a cabeça, me sentando na minha cadeira, virando para a enorme janela atrás de mim. A incrível vista da Itália na primavera era de tirar o fôlego.
- Esse quadro é especial, eles estavam esperando que eu chegasse. - murmuro, desviando o olhar da janela e encarando Billie.
- Seria melhor se você já fosse então, não é? - pergunta, torcendo o lábio e eu apenas asceno positivamente com a cabeça. - Eu queria estar ai com você.
Reprimo a instantânea vontade de chorar que me invade. A situação pela qual estávamos passando era complicada, eu estava na Itália e Billie em Miami. Nós quase não nos víamos, as duas eram ocupadas demais.
Aos poucos as coisas foram ficando estranhas entre nós, esfriando talvez? Eu sentia sua falta...
- Eu também queria que você estivesse aqui!
Billie carrega um biquinho na boca, tão fofo que me faz ter vontade de mordê-lo. Sorrio triste, tentando esconder como estava mal por não tê-la comigo. A última vez que nos vimos foi na minha primeira exposição aqui, ela não perderia isso por nada. Largou tudo o que tinha que fazer em Miami e passou uma semana ao meu lado. Dessa vez ela não poderá fazer o mesmo, o trabalho está acumulado e seria muito egoísmo largar Finneas lidando com tudo sozinho. Eu entendo sua situação, o difícil é que meu coração faça o mesmo.
- Hailey?
Me viro para a porta, encontrando com Allysson e seu olhar desesperado implorando pela minha ajuda. Respiro fundo, murmurando um "me dá um segundo" para ela e voltando minha atenção para a imagem de Billie, no celular.
- Vai lá antes que eles surtem sem você. Fala para a Allysson que essa é a única exceção que eu abro para ela roubar minha mulher de mim.
Allysson ri alto, revirando os olhos e ignorando totalmente minha namorada. Sinto minhas bochechas esquentarem e mordo o lábio, amando a maneira como ela diz "minha mulher".
- Eu te amo! - falo baixo, engolindo o nó formado em minha garganta.
Billie abre um de seus sorrisos mais lindos, sem mostrar os dentes. Inclina um pouco o corpo para mais perto do celular, sussurrando.
- Eu te amo mais!
Sorrio, lhe lançando um beijo antes de ter que me despedir. Billie desliga a ligação após a promeça de que ligaria mais tarde e eu me levanto, forçando minha mente a esquecer o fato de que o amor da minha vida está em outro continente.
...
- O que você achou?
Encaro Allysson por alguns segundos, logo voltando minha atenção para o enorme quadro pendurado na entrada da galeria de arte, sendo assim a primeira obra que todos os visitantes vêem assim que chegam.
- Ficou perfeito. - murmuro, sorrindo maravilhada.
Os olhos de Billie estão pintados em uma perfeita tonalidade de azul, tão realista e fiel a cor real que poderia ser confundido com uma foto. Ao redor de seus olhos e sobrancelhas, uma explosão de tintas misturadas se estendem por toda a tela. O azul, violeta e cinza misturando-se e tornando-se as cores predominantes.
Ela vai adorar isso quando ver, penso. É a primeira vez que o quadro é visto por qualquer outra pessoa além de mim, mesmo que eu já tenha o pintado há mais de dois anos.
Esse era o meu segredo, agora pronto para ser revelado ao mundo.
...
Estava sentindo falta de uma coisa fofa...
Bebam água,
Mari