11. Desculpe. (Liu/Lia)

4 0 0
                                    

Liu
Eu tinha 8 anos, estava na escola falando com minhas amigas, as pessoas achavam estranho um menino rodeado de garotas, e estranhavam mais ainda o fato de as vezes agir como uma, meu pai achava meu comportamento ridículo, ele dizia que tinha colocado um filho no mundo pra ser homem, e aquilo me chateava, não tinha muita confiança nas pessoas da minha família, mas eu contava tudo pra minha amigas.

Um certo dia eu fui no shopping com meus pais, e quando entramos no elevador tinha uma garota não muito mais nova que eu, de cabelos marrons e olhos de cores diferentes, ela segurava uma boneca, pedi pra ela me emprestar, e meu pai puxou meu braço e disse pra eu parar com aquilo, o casal ficou assustado com meu pai, e ele pediu desculpas.

- Sinto muito pelo meu filho.

- Ele não fez nada de errado - a mulher disse fria ao meu pai.

- Ele é só uma criança, não deveria fazer isso! - dessa vez foi o homem que falou.

O elevador parou e eles saíram, mas a filha do casal deixou cair uma presilha de cabelo e eu peguei, meu pai resmungou coisas machistas, dizendo que mulher não deveria agir assim, e que elas deveriam ficar caladas esperando o comando de seu marido, ele deu um tapa em mim quando as portas fecharam, minha mãe e minha irmã ficaram no canto de cabeça baixa, as vezes eu desejava não ter nascido, talvez assim minha mãe não teria motivos pra ficar com aquele homem.

Ela nunca quis se casar com ele, mas depois que engravidou de mim não tinha outra escolha, estava destinada a um homem que tratava ela como merda, um homem que batia nela por qualquer coisa, por isso ele a obrigava a usava roupas tão compridas, assim ninguém via as marcas nos braços dela, minha mãe nunca podia sair sozinha de casa, sempre tinha que levar ele, ela não podia trabalhar, ficava cuidando da casa e dos filhos.

Ela chorava, e implorava pra que ele morresse logo, pra que alguém denunciasse ele, ela poderia se matar, mas o único motivo de não fazer isso, era o amor que ela tinha por mim e pela minha irmã, mesmo que, fossemos a razão do porque a vida dela estava tão ruim. Em uma quarta-feira de manhã, antes de ir pra escola eu disse pra minha irmã que as vezes eu queria ser uma garota.

Ela me olhou estranho, faz sentido, ela já ouviu tanta coisa do meu pai que isso soava estranho pra ela, eu fui pra escola sozinho como sempre, mas quando acabou a aula meu pai estava do lado de fora, me esperando no carro segurando um cigarro. Eu fiquei com medo, meu pai nunca ia me buscar na escola, quando ele me viu gritou pra mim entrar no carro, ele estava irritado, quando chegamos em casa ele empurrou no chão da sala.

Começou a gritar e bater em mim, eu já sabia o que tinha acontecido quando vi minha irmã olhando por uma fresta da porta, com um olhar de tristeza. Meu pai pegou uma barra de ferro e bateu em mim, eu estava sangrando muito, meu pai esqueceu de buscar minha mãe no trabalho, então ela veio correndo pra casa, quando ela abriu a porta e me viu no chão da sala coberto de sangue.

Ela não aguentou, meu pai olhou pra trás e ela saiu correndo, umas pessoas estavam passando na rua, minha mãe gritou por socorro e por sorte um policial estava por perto, o policial deu um tiro no meu pai e o matou, minha irmã correu até onde eu estava chorando, e implorando por perdão, os médicos chegaram pra me socorrer, mas era tarde demais. Eu já tinha perdido muito sangue.

Quando eu acordei estava deitado na grama, avia um lago lindo na minha frente, a agua era tão limpa que dava pra ver tudo que estava nela, o espelho d'agua era perfeito, aviam pedras ao redor dele que formavam um circulo, arvores, flores e animais, por mais que as cores fossem diferentes, pareciam apagadas.

Era um lugar lindo, quando olhei pra trás eu vi uma garota que se escondeu atrás de uma arvore, ela me parecia familiar, eu fui atrás dela, mas ela correu de mim.

- Ei... por favor apareça...

- Quem é você?

- Meu nome é Liu.

- Eu sou a Maya.

- Eu já vi você antes, no shopping... você deixou cair isso. 

Eu tirei do bolso a presilha que ela deixou cair naquele dia e dei pra ela.

- Obrigada...

- De nada.

Depois daquele dia eu a Maya ficamos muito próximos, e nunca mais nós largamos.
____________________________________

Esse foi o capítulo
Eu demorei porque não queria que a história delu ficasse sem graça, e acabei gostando bastante do resultado
Bjs e tchau
;)

Other sideOnde histórias criam vida. Descubra agora