Dois solteirões azarados ou apenas independentes demais para o amor?
Uma coisa é certa: eles se odeiam.
Mas, as vezes, até os inimigos se ajudam, não é mesmo? Afinal, o que poderia dar de errado quando duas pessoas que não se suportam, fingem estar...
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Ashton Irwin
Abril, 2021.
— VOCÊ?! – falamos em uníssono.
O casal parece ficar confuso, sem entender o que está havendo. Afinal, nunca deu certo de nós dois nos encontrarmos, então de onde diabos nos conhecemos?
Preferia não ter conhecido mesmo essa dondoca.
Horas antes.
— Acho que eu consigo voltar para meu dormitório ainda essa semana!
É perceptível a animação de Holly, ainda que esteja me contando isso por telefone. Consigo visualizar perfeitamente o sorriso que ela deve ter estampado no rosto agora.
Já eu perdi totalmente a vontade de sorrir.
Ela já vai embora? Não passamos nem uma semana direito morando juntos e ela já vai me deixar? Poxa, só porque eu já tinha me acostumado acordar com ela do meu lado todo dia, com o sabor questionável de sua omelete e até com suas roupas misturadas as minhas para irem a lavanderia.
— Ah, mas você tem certeza de que resolveram tudo? Foi um baita vazamento para ter inundado o prédio todo. Acho melhor você continuar comigo por mais umas duas semanas.
— Como? Não, Ash, tá louco?! – ri fraco. – Não precisa disso, mas eu agradeço. Agora tenho que ir, beijo.
Me despeço e desligo, só que acabo esquecendo de avisá-la de que estou num metrô agora mesmo indo para o East Village, para que possamos almoçar juntos. Tudo bem, fica de surpresa então.
Abandonei a cena que estava ensaiando trinta minutos antes de dar de fato a minha hora do almoço, Michael está irritado. Mas se eu saísse na hora certa, não conseguiria ir até Manhattan, almoçar, aproveitar Holly com calma e voltar. Então não faz mal sair um pouquinho antes, né? Michael só fala e fala, porém não faz nada. O famoso cão que ladra, mas não morde.
E, veja bem, eu não sou folgado ou preguiçoso, ok? Eu amo meu trabalho, amo atuar, amo aquela companhia de teatro e amo Michael. Só acho que não devemos fazer do trabalho a nossa vida, isso não é saudável. E bom, falta muito para a peça estrear e eu já estou bem adiantado nas cenas.
Ignoro as mensagens de um Michael irritado, entro no Instagram e abro o círculo verde em volta da foto de perfil de Holly. É um boomerang dela com a cabeça deitada sobre um livro fazendo um biquinho de olhos fechados. "Não aguento mais essa aula" está escrito em cima de sua cabeça e rio disso.
Eu acho que não existe ser humano mais meigo que ela.
Percebo que fiquei tempo demais babando na cara de sono dela, quando ouço "Próxima estação: West Village. Desembarque pelo lado esquerdo do trem".
