. light .

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história baseada em trechos da música light - sleeping at last

Ela sequer consegue acalmar as mãos impacientes, que volta e meia vão até os cabelos escovando-os delicadamente, como se aquele ato inconsciente pudesse reduzir o nervosismo juvenil da primeira grande festa que pode ter. Não pude deixar de rir ao me lembrar de como ela estava ansiosa e com os olhos marejados, agradecendo diversas vezes para mim e também para Luísa.

Agora ela está em nossa frente, com o cabelo mais claro que o habitual, porque pintou pela primeira vez. Está linda. Com um vestido branco repleto de pedras brilhantes, iguais às que ela de fato é. Tentei desmanchar algumas vezes aquela angústia da minha garganta, mas não sei exatamente por quanto tempo conseguirei carregar isso comigo. Minha respiração já está bastante falha e eu sinto que não demorarei muito para desmoronar. Sei também que ao chorar só trarei mais ansiedade para ela, portanto preferi caminhar na rua por alguns instantes antes mesmo de tudo começar.

Está ventando leve do lado de fora e eu agradeço aos atributos do vento.

No entanto, não posso dizer o mesmo da minha condição física. Meus pés estão coçando, porque já estou em pé há muito tempo. À medida que as pessoas foram chegando, eu e Luísa os recebemos. Acredito que não há mais ninguém para chegar, porque me lembrei brevemente da lista dos convidados e todos eles já estão presentes.

Por alguma razão fiquei parado na calçada e dali comecei a observar.

Vejo Lorena e os meninos na rua. Eles estão andando rapidamente. Provavelmente estão planejando algo. Um dos gêmeos está com qualquer coisa nas mãos, afinal não consegui enxergar para definir exatamente o que é. Como de costume, Mário vai na frente deles. Nunca entendi muito bem se eles possuem algum tipo de organização no grupo, mas sempre me transpareceu que ele é o mais ágil, seguido por Lorena. Os anos passaram, mas as situações continuam iguais. Eles permanecem extremamente rápidos, sorrateiros, trapaceiros e sortudos, porque dificilmente vejo-os metidos em problemas.

Eu estou inquieto, aquela experimentação da verdade nua e crua, o precisar explorar meus sentimentos na frente de outras pessoas... Me perdi naquilo. Sei que não preciso me controlar, mas é um conflito bastante complexo entre meu eu racional e as emoções externas que me cercam. Com as mãos nos bolsos, voltei a caminhar incontáveis vezes de um lado até o outro na frente da casa de festas. Sinto que meu corpo já caminha sozinho e eu não preciso mais guiá-lo. Preciso voltar, sei disso. Mas não agora. Parei novamente e voltei a observar aquelas pessoas conversando do lado de fora.

Num canto distante vejo os dois garotos que já fizeram mal para ela. Não concordei em convidá-los, mas ela insistiu ao dizer que todos os colegas da escola estariam presentes, portanto seria falta de educação não chamar Éric e Hugo. Apesar das dificuldades com eles, ela os perdoou por tudo o que fizeram. Eu não teria a mesma postura e nem os considero bem-vindos, mas sei que essa não é uma escolha minha e que não cabe a mim dizer o contrário, apenas aconselhar e respeitar a decisão dela.

Estamos distantes do centro da cidade, portanto é possível ver o céu mais escuro sem toda aquela interferência das luzes das construções de São Paulo. Consigo observar as estrelas sem muita dificuldade. Voltando minha atenção aos convidados, vejo que ela apareceu brevemente. Sorriu rapidamente e logo desapareceu. Estão todos aqui. Os amigos. A família. E até mesmo os indesejados.

Observei mais uma vez as luzes penduradas e todo o verde que cobre o paredão da frente. Noto aquele luminoso de um gosto um tanto duvidoso, que ela muito insistiu que queria. Eu ri. A primeira vez que conversamos sobre esse dia, ela chorou e agradeceu. Lembro daquele instante até hoje.

À distância escuto todas aquelas vozes. Pessoas se entreolhando enquanto conversam e sorriem. A verdade é que eu estou apavorado. O tempo parece ter parado e se resumido nas engrenagens, que insistem em girar apresentando um tic-toc que claramente consigo ouvir, mesmo que esteja utilizando um relógio digital. Preciso voltar à vida mais uma vez, por isso forço meus olhos a se mexerem e piscarem com mais força que o habitual, porque quero acordar desse descompasso.

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