10. Confissão

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Dias se passaram e Ohm não apareceu no apartamento de Fluke. Ele também parecia ignorar todas as ligações e mensagens que ele e Sammy haviam tentado fazer. A solução seria ir atrás do rapaz para falar com ele pessoalmente.

De sua parte, Ohm não tinha ideia de que sua ausência era sentida de alguma forma. Muito pelo contrário, ele se isolou de tudo o que o ligava a Fluke, na esperança de que isso ajudasse a curar seu próprio coração. Por algum motivo, ele ainda não tinha coragem de enfrentar os acontecimentos recentes. Assistir ao encontro do escritor com o grande amor de sua vida bem na frente de seus olhos o fez se sentir pequeno e insignificante. Eles eram adultos, pessoas de sucesso, homens que podiam perseguir o que queriam em nome de sua própria felicidade.

"Sou apenas um estudante que precisa fazer bicos para ganhar algum dinheiro. Não tem como comparar…", Ohm disse olhando para seu reflexo no espelho e sentindo a vibração de autopiedade envolvendo seu corpo.

Os amigos do estudante de Comunicação também notaram uma mudança em suas maneiras nos últimos tempos. Ohm não era o tipo de pessoa que se abria, então eles só tinham acesso ao que podiam ver e isso era assustador o suficiente. O rapaz vinha de uma temporada em que parecia extremamente feliz, para agora se encontrar em uma posição em que parecia prestes a desistir de tudo ou sentar para chorar no meio da rua porque começou a chover e ele não tinha um guarda-chuva. Na verdade, isto aconteceu e ele deu um susto na própria família ao chegar em casa todo molhado.

Mix e Pine, os irmãos mais novos de Ohm, também sentiram que algo estava errado. Porém, por mais que insistissem, viram que o irmão mais velho estava disposto a sofrer em silêncio, sem comentar o que estava acontecendo em sua vida. Tudo o que sabiam com certeza era que ele havia perdido o emprego na casa do escritor e não queria falar sobre isso. Mas ao que parece, o destino estava disposto a ajudar nosso amigo e uma noite enquanto ele pegava sua mochila por cima do ombro e descia sem muito entusiasmo os degraus da casa que dava para a rua, ele ouviu aquela voz novamente.

"Ohm…", Fluke estava parado na frente da casa.

O escritor estava vestido tão adorável como sempre. Mesmo que ele estivesse vestindo apenas uma camisa amarela listrada e jeans, isso ainda fazia aparecer um brilho mágico ao seu redor, como se ele fosse um personagem de conto de fadas. Ohm queria correr e abraçá-lo, mas evitou porque não se sentia com direito a isso. Ele também pensou em se sentar nos degraus e chorar de alívio porque a pessoa de quem tanto sentia falta apareceu na sua frente. Acontece que ele ainda não sabia o motivo da visita do outro e isso o deixava ansioso e entre todos os sentimentos que tentavam dominá-lo no momento, ele ficou com este.

"Por que você não foi mais ao meu apartamento? Já faz mais de uma semana e você nem atendeu minhas ligações…", Fluke disse franzindo a testa.

"E-eu…", ele começou a dizer, mas não conseguiu continuar porque nada daquilo fazia sentido. Por que ele deveria voltar? Eles nem tinham falado sobre isso. Além disso, aparecer sem avisar poderia atrapalhar qualquer coisa entre ele e Chaitee e Ohm queria que Fluke fosse feliz.

"Ok, esqueça isso agora. Podemos conversar sobre isso mais tarde. O que eu realmente preciso saber é... você leu o livro?", Fluke perguntou, uma nota de hesitação rastejando em sua voz.

"Ainda não tive tempo de ler, desculpe. E agora estou atrasado para a faculdade. Preciso ir. Até logo!", Ohm disse evitando o homem na calçada e indo em direção ao ponto de ônibus.

Fluke sentiu seu mundo se despedaçar quando viu o garoto passando por ele e o ignorando completamente daquele jeito, mas não teve muito tempo para reagir. Isso porque, conforme a figura de Ohm desaparecia no horizonte, outra muito menor e agitada apareceu ao lado dele.

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