Capitulo 9

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Capitulo 9

três bombas... uma te fará cair, a outra de roubará a esperança, e uma delas te erguerá das cinzas.

Quando tudo esta bem, quando coisas boas acontecem com agente, outras coisas caem sobre nós como uma tempestade. É como uma balança, coisas boas tem que serem estragadas pelas coisas ruins. Apenas pra balancear. Será?
Sinto que sou como uma pequena gota de água, em meio ao vento, sendo levada, batida, mantida em cativeiro pelo ciclo de chuva sem fim, me carregando em meio ao infinito, me elevando no mais alto céu, me fazendo ver a beleza daqui de cima, apenas para me chocar subitamente com o chão, espatifar-me em um milhão de partes.
Bernardo era meu chão. O meu chão! Droga.
Agora ele é só alguém, alguém que preciso odiar para todo o sempre...
Existe dois tipos de pessoas no mundo. As que ferem... machucam outras pessoas, e as que são feridas.
Não sei ao certo quais são os motivos que levam o primeiro tipo de pessoas a fazer tal coisa, pode ser apenas ego, raiva, inveja... o problema é que elas continuam tocando a vida como se nada de ruim tivesse acontecido. Por que na verdade com elas nada realmente aconteceu.
Já o segundo tipo, as feridas. Já ouviu a frase "Quem bate esquece, quem apanha não" faz todo sentido pra mim agora.
Achei que depois de encontrar o amor duas vezes eu saberia quem eu sou, depois de crescer e amadurecer, eu saberia o que quero. Acreditei fielmente que nesse mundo ou no outro, talvez um dia poderiam ser chamado de lar por mim.
Estava errada.
Meu peito sangra. Meu coração dói. Mas a raiva que me consome isola todos esses sintomas. Nunca vou poder amar de novo. Nunca vou me entregar de novo, nem confiar em ninguém. Estou ferida. Marcada para sempre. Dessa vez não existe cicatrização.
Depois de passar uma noite linda, olhei para Bernardo enquanto caminhávamos pelo acampamento, e não conseguia conter o êxtase que tinha dentro de mim. Ambos riamos e a todo segundo queríamos ficar nos tocando, nos beijando. Liberando aquela sensação de prazer, de bem estar, de amor. De felicidade...era tão lindo e perfeito, que dentro de mim, algo dizia que era frágil, e que acabaria. Não me atentei aos meus instintos por que, eu estava amando! Pessoas apaixonadas não veem os detalhes...
Eu queria iniciar a difícil conversa, mas não queria estragar o momento, e achava que ele sentia o mesmo, e assim passamos mais um dia lindo.
Naquele dia, ao anoitecer, esbarramos em Lauren, fiquei tão feliz em vê-la que corri para abraçá-la, mas apesar dela retribuir o abraço, foi frio e tenso, Lauren estava estranha, rígida. Nada lembrava a doçura de que uma vez ela teve por mim.
Bernardo por sua vez, agiu estranho também, me puxando, tentando me tirar dali a todo custo, ele queria me arrastar para longe de sua irmã, sem deixar que eu sequer perguntasse se estava tudo bem. Briguei com ele, o chamando de mal educado, quer dizer ate entendo que ele tenha pressa em estar a sós comigo, mas caramba é sua irmã! Por isso continuei em frente a Lauren, dei um beliscão em Bernardo o advertindo e tentei continuar uma conversa educada com ela.
Gostaria de saber como ela estava, como havia passado seus dias, e por que não viera me ver antes, afinal ela me ajudou no castelo, com minha irmã malvada, queria agradecê-la, ou só contar coisas que se conta as amigas. Queria rir como uma adolescente, me sentir normal, e precisava dela pra isso.
Meu sorriso morreu, quando notei que ela estava nervosa, batendo o pé impaciente no chão, e então sem rodeios toda esbaforida, disse que precisava falar comigo.
Acenti dando de ombro, talvez ela tivesse encontrado um namorado e não queria falar sobre isso na frente do irmão, totalmente compreensivo. Mas foi quando tentei me soltar da mão de Bernardo, que as coisas começaram a ir ladeira abaixo.
Bernardo, não soltou minha mão e do nada, começou a gritar com sua irmã, falando pra ela ir cuidar da própria vida, ate ai não desconfiei de nada por que irmãos brigam, não é. Mas a discussão não cessava, e eles ficavam falando em círculos, sem mencionar nada relevante ao meu ver, claramente havia um segredo.
Mas havia muito a ser dito, e era hora dos segredos serem expostos. Foi o que Lauren disse.
"Ela deve saber de tudo Bernardo... Se vamos entrar de vez, nessa guerra! E isso é assunto de todos!" gruniu Lauren.
Olhei para Bernardo procurando um dar de ombros, ou um resmungo de tanto faz, ou isso ela já sabe. Mas nada. Ele estava branco como papel.
"Eu conto então, eu disse que contaria." Rosnou ele nervoso. Tentando me puxar contra ele, como se eu corresse perigo.
"Sim. Mas isso você prometeu a muito tempo atrás. Ela tem que saber agora, não é justo com ela, se a ama, conte."
Fiquei muda por que nada fazia sentido. O que ele deveria me contar, o que era esse segredo? Havia mesmo um segredo?
Então depois de Bernardo ficar mudo me encarando com um sentimento confuso o atormentando, Lauren contou.
"Vocês não podem ficar juntos! Nunca."
"O que?" perguntei confusa, balançando a cabeça e continuei encarando o nariz empinado de Lauren.
"Quando a guerra acabar... você irá voltar pra Terra, e os portais se fecharam para sempre."
O mundo girava, minha cabeça doía, e nada daquilo fazia sentido.
"Mas ele pode vir comigo... ficar comigo na Terra então." Sugeri temerosa. Esperando Bernardo dar pulinhos e bater palmas, ouvindo a resposta para nossos problemas.
Mas não. Bernardo ficou ainda mais sério, e permaneceu segurando minha mão.
Foi só quando ele falou, que notei o suor escorrendo por sua testa perfeita, ou suas mãos entre as minhas tremendo levemente. E naquele momento eu soube, algo enorme estava pra cair sobre mim e não era um elefante, era pior que isso.
"Não poderei amor"
"Como assim você não pode? quer dizer que eu deixar minha família para viver com você aqui é possível. Mas você deixar esse mundo por mim não?" resmunguei irritada, que audácia da parte dele pensei.
"Não é isso, eu iria... mas não conseguirei. E mesmo que eu um dia ache uma maneira... Se é que ela possa existir... você nem se lembrará de mim... tudo que vivemos aqui, será apagado..." ele apertou minha mão junto a sua mais uma vez, aproximou se de mim olhando em meus olhos com... com... dor, apenas dor e tristeza.
"Mas..." tentei em vão.
"Não existe mas, é o que é, o final da profecia é esse, não tem como mudá-lo." Completou Lauren.
"Profecia? Mas então vocês sabiam disso o tempo todo..."
Lembrei de quando a tanto tempo atrás me falaram pela primeira vez da profecia, lembrei que Lauren, Bernardo e até mesmo Blenda, sabiam sobre a profecia, era como um pai nosso para o povo de Ayna. Todos sabiam.... menos eu.
"sim." Disse timidamente Lauren.
"E você também sabia?" Disse a Bernardo, mais como uma afirmação do que uma pergunta em si, era obvio.
Uma nevoa negra caia sobre aquele lindo dia. Mentiras...
"Sim." Disse ele com pesar de uma criança que é pega quebrando o vaso preferido da mãe. Seus olhos não encontraram os meus dessa vez.
Soltei sua mão rispidamente a empurrando como se fosse algo nojento e podre que me tocava, dei dois passos para trás.
Era isso, ele sempre soube. Ele sabia quando me encontrou pela primeira vez, quando brigamos e nos beijamos pela primeira vez, ele sabia quando foi em meu mundo atrás de mim.... ele sabia quando me prometeu o mundo, mesmo sabendo que não poderia nem me dar um grão de areia... Bernardo, meu ogro sempre soube que nós nunca viveríamos juntos.
Como você acredita ser verdadeiro um amor construído sobre mentiras?
"Mas... Nossos planos? Por que diabos você fez planos de um futuro comigo Bernardo? Por que me iludiu, por que disse que ficaríamos juntos para sempre?" perguntei com lagrimas nos olhos. Eu não entendia nada, queria que ele me explicasse e dissesse que tudo não passou de uma brincadeira, como em primeiro de abril, qualquer coisa idiota assim.
Ele estava derrotado, triste, infeliz, qualquer um podia ver isso em sua face, mas não importava eu precisava saber, precisava feri-lo, se fosse preciso, mas queria a verdade.
"Achei... acreditei que a guerra demoraria anos para terminar, e nesse tempo viveríamos felizes juntos..." concluiu temeroso, mas ate pra ele eu senti que isso era uma historia tola, uma esperança que ele havia criado, algo a se agarrar... não importava pra mim, estava irada demais pra pensar no que ele sentia, quando tudo que eu senti, tudo que eu amei nele, era baseado em um príncipe mentiroso.
" E então um dia, puf, eu iria embora?" perguntei com desdém.
"Era um risco."
Olhei perplexa pra ele.
".... Mas amor, você não se lembraria, quando voltasse tudo seria como se nunca tivesse vindo a Ayna. E eu teria esse tempo, que vivemos juntos para me recordar e viver o resto infeliz da minha vida!" gritou ele passando a mãos pelos cabelos.
"Nós podemos dar um jeito? Sempre tem um jeito pra tudo..." tentei mais uma vez cheia de esperança, aprendi que em Ayna nada é para sempre, que tudo pode ser burlado e mudado, que as coisas boas acontecem com a mesma facilidade que as ruins, então por que não acreditar que ainda poderíamos ter um final feliz?
Lauren balançou a cabeça.
Ela queria abraçar Bernardo, conforta-lo, mas ele estava inconsolável, nervoso, tremendo como eu nunca tinha o visto antes, nem mesmo quando me feriram na sua frente, nem mesmo quando eu fui embora, isso era mais sério, algo como o destino.
Fiquei triste em vê-lo assim, mas dentro de mim a semente da esperança germinava e era nela que eu me agarrava.
Mas essa verdade, revelação, chame como quiser, foi à primeira bomba. A segunda viria depois. Caindo sobre os últimos sobreviventes, arrancando de seus corações o resquício de esperança.
Pierre chegou junto a Henri. Ambos preocupados.
"Esta tudo bem?" perguntou Henri tocando meu ombro.
"Deixe ela em paz..." gritou Bernardo irritado, vindo de encontro com Henri como um touro contra o toureiro.
"Calma ele só fez uma pergunta" Falei observando Pierre parar Bernardo com um braço a poucos centímetros de Henri.
"E não, não estou bem." Disse sem meias verdades.
"Sinto muito"
"Você também sabia?" perguntei a Henri.
"Sim. Todos sabíamos, mas não se preocupe, apenas nos quatro sabíamos que ele estava fingindo ter te esquecido!"
Um gota na tempestade... o vento me carrega... mas não me leva tão longe assim. Não longe o suficiente.
"Você... você... você, não posso acreditar... isso é verdade Bernardo? Você fingiu me esquecer? Fingiu enquanto eu sofria?" perguntei incrédula, suor frio escorria pela minha nuca, descendo em minha coluna como um aperto frio do mal.
Ele fuzilava Henri com os olhos de um predador sobre a presa. Foi nessa hora que Henri entendeu que esse segredo, ainda não tinha sido revelado. Quantos mais haviam para serem revelados?
"Sim, mas não é como você esta pensando." Tentou se explicar depressa, Bernardo.
"A parte do sim, é o que eu precisava ouvir, o resto não importa, não mais" Resmunguei, deixando os três atrás de mim.
Seja forte, seja forte.... ouvi alguém dizer...
"Espere Cristal, quero me explicar... você não entende, eu precisei..."
"Bernardo, faz o favor a si mesmo, e fica longe de mim!" gritei o mais alto que pude, queria arrancar meu coração do peito. Queria tirar meus olhos e impedir que mais uma lagrima caísse.
"Não" gritou ele, pegando em meu braço com força.
Como ele estava tão perto de mim? Eu não estava bem, nada estava fazendo sentido.
"Não?" perguntei encarando pela ultima vez o rosto do homem que eu amei, do homem que mais me enganou na face da t... Ayna.
"Você tem que me ouvir... tudo..."
"Pare!" eu pedi enquanto ele falava.
Ele continuava a falar mas eu conseguia ouvir, um zumbido tomava meus ouvidos...
"PARE!" gritei séria. E ele se calou.
"Chega de joguinhos príncipe! Apenas chega... e me deixe ir..." Pedi cansada...
Retirei a mão dele de meu pulso, e sem saber como ainda estava de pé, andei tremula mas dei as costas a ele e a todos eles. Eu precisava me afastar.
Rindo de mim mesma, de como fui idiota, de como ele me manipulou, de como todos estavam dispostos a me manipular, completei irônica e triste. "Ontem você também estava fingindo... na cama comigo? È mesmo um perfeito cavalheiro!"
Não sei de onde vinha a força que eu reunia, só sentia que precisava continuar. Era como se estivesse vendo tudo por uma janela. A quilômetros de distancia, e não a minha vida, a minha historia se desfazendo diante dos meus olhos.
Enquanto atrás de mim escutava berros e gritos de todos os envolvidos, eu sabia que a única voz que eu ainda ouvia sobressair, era a dele.
Ela impregnava meus ouvidos, meu corpo, minha alma. Me fazia querer voltar e ouvir suas desculpas esfarrapadas, E isso era triste, por que mesmo quando eu o odiava, eu ainda o amava, como isso poderia ser possível? Como poderia ter um final feliz?
Certo como o sol vai nascer daqui a algumas horas, eram meus destinos, Bernardo e Cristal não ficariam juntos para sempre, como num conto de fadas. Ainda era pior que isso, se é que se pode se comparar, mas Bernardo estava me usando, mentindo pra mim, e sabe se lá mais o que. Ou por que.
Havia apenas uma coisa que era certa, que eu compreendia agora com clareza, ou essa guerra idiota acabava, ou sempre estaria presa nessa teia de mentiras, de idas e voltas, sempre haveria joguinhos, e nunca me deixariam em paz.
Não vou dizer que sou uma boa menina e que irei ouvir os conselhos de minha mãe sobre caras maus, como é o caso dele, por que mesmo que o adequado seria esquecê-lo, vamos deixar claro que não consigo -já tentei não é-. Mas a uma chance, se eu voltar pra casa, depois que a guerra acabar, tudo isso será como um sonho. Todas as dores, as lagrimas, e claro os beijos e as juras de amor, serão apenas nada. E não sente falta do que na se lembra.
Já ouviu a palavra rapto? Eu também, apenas ouvi, ate agora.
Olhei para trás, enquanto pisava na entrada do acampamento procurando por alivio, precisava de distancia, pois mesmo ali, ainda vislumbrei vestígios de um Bernardo preso por braços e até ouvi gritos e resmungo "Dê espaço a ela!" "Onde você acha que ela vai?" "Ela não tem onde ir, logo irá voltar, se acalme homem!" todos esses bramidos estavam certos, até estarem errados...
Não era comum mulheres aparecerem andando em Ayna , pelo menos não sem serem escravas, guerreiras ou se queriam morrer, Ayna não era um lugar seguro para mulher nenhuma, isso não era novidade. Eu aprendi isso da pior maneira possível, afinal ser mulher e a tal princesa era ainda mais perigoso.
Assim que avistei essas mulheres que vinham em minha direção, soube que algo estranho estava acontecendo, não eram mulheres comuns, não se vestiam como mulheres de Ayna, ate pareciam da Terra, mas afastei essa ideia assim que a tive. O fato era que eu nunca as tinha visto antes. Elas não usavam roupas de guerreiras, nem de escravas, apenas estavam vestidas, com vestidos longos e botas, ou calças e um tipo de tênis que muito me lembravam os que eu tinha em casa.
Os cavalos galopavam com trotes rápidos e precisos, domesticados, posso dizer que ensinados, disciplinados? Eles levantavam poeira pelo caminho, contei dez, mas eram bem mais, um atrás da outro, em fila. Como em uma passeata do dia da independência.
Com curiosidade fiquei plantada em meu lugar, era belo e misterioso os animais me deixavam intrigada, mas sei que a cavalaria inteira, era o que me deixava vidrada.
Passei o próximo um minuto admirando a beleza de todos aqueles cabelos, reluzentes em tantos tons e aspectos, voando contra o vento com um véu colorido. Um arco Iris de mulheres livres, era o que parecia pra mim.
"Suba" pediu a primeira ao se aproximar de mim.
Nesse momento eu deveria ter fugido, saído correndo como eu sei que sou boa, fugir era o que me movia, sempre foi, mas devo ter esquecido isso, por que não foi o que fiz.
"Como?" perguntei confusa encarando a mão dela estendida em minha direção, notei o pequeno anel que ela tinha no dedo anelar, nada delicado, se me perguntassem diria que eram espinhos e uma coroa desenhados juntos, pareciam uma coisa só, mas não eram.
Olhando mais de perto, era claramente uma tulipa, negra. Incrustada em uma coroa de espinhos.
"Mulheres não devem chorar, nunca!...Venha com a gente podemos ajudar." Pediu ela novamente, olhei em seu rosto redondo admirando suas bochechas salientes e rosadas sem indicio de cicatrizes, ou de mau tratos e passei a me preocupar mas era tarde.
Repeti o que ela disse em minha mente, só então notei que chorava, que ainda chorava.
Passei meus punhos em meu rosto, tentando negar o que ela estava alegando, como se pelas minhas lagrimas ela pudesse ler o motivo que as fizeram cair.
Como tola ri de mim mesma e notei que ela era da mesma "religião" por assim dizer, que as guerreiras. "Odiamos os homens" e eu não estava afim de fazer parte de nada disso novamente.
"Oh, não obrigada, não preciso de mais esse drama de zumbi feminista: "odeio os homens"... Uma vez já foi o suficiente!" disse com desdém e fui voltando pelo caminho que acabava de vir. Precisava encarar meus problemas, mesmo que eu não quisesse, mesmo que eu o odiasse agora, precisava aguentar, e superar, eu não tinha pra onde ir de qualquer forma, e ele, eles sabiam. Isso tornava tudo ainda pior.
"Zumbi?" ouvi algumas mulheres repetirem. Oh Droga!
"Não sei do que você esta falando Princesa, mas sinto muito por isso." Disse a primeira mulher com pesar.
"Senti? Sobre o que?" perguntei como uma tola. Temendo que a historia de ter sido passada pra trás pelo príncipe pela vigésima vez, já tivesse ganhado os ouvidos dos Aynianos.
Princesa... brilhou em minha mente... como ela saberia quem eu era? Mas tudo aconteceu rápido demais para que eu perguntasse.
E logo, tudo ficou escuro, um saco negro foi posto em minha cabeça, e meus braços e pernas amarrados, quando senti alguém forte me por sobre o ombro e me jogar em um cavalo, que saiu em disparada, fazendo meu estomago doer com cada solavanco, já era tarde para protestar.
Rapto.
Eu gritei e esperneie, mas nada foi feito, Talvez eles nem mesmo tenham visto, digo Lauren, Henri, Pierre e ele... ainda brigavam e gritavam um como o outro, talvez eles achem que eu apenas fugi. E isso seria ruim, seria? Por que meu senso de bem e mal esta distorcido no momento. Quando amigos te ferem, inimigos não parecem serem tão ruins assim. Afinal pelo menos eles já te odeiam, não fingem ser algo que não são.
Não sei dizer se foram horas ou dias andando no maldito animal, parei de contar o tempo quando minha barriga ficou adormecida e tudo que eu podia pensar era em descer daquela tortura de quatro patas.
"Coloquem ela sentada ali, pelo amor de Deus! Ate parece que somos os vilões!" gruniu uma voz dura, masculina.
Sentaram-me, em um lugar fofo e confortável, minhas costas estralaram ao provar tal caricia. Deixei me deleitar desse conforto por uns instantes.
Foi retirado o saco de minha cabeça, me dando um certo alivio.
Quando tomei fôlego e olhei a minha frente, levei o maior susto....
"Bem vinda a seu exercito, o verdadeiro exercito da princesa..." disse um homem de cavanhaque grisalho.
"Agora a guerra terá fim!" completou uma mulher de meia idade sorrindo com firmeza.
Então após alguns cumprimentos, me assustei com a cacofonia de assobios, muitos, muitos e incontáveis soldados?- por assim dizer- que se prostravam em minha frente.
Homens e mulheres, lado a lado, como um igual, vestindo túnicas beges com o mesmo emblema do anel daquela mulher que me raptou, coroa, espinhos e minha tulipa negra.
Nas mãos estendidas, brilhavam contra o sol, espadas, adagas, bestas... mas em nenhum deles vi rostos sofridos, ou maltratados como estava acostumada a ver. E não via medo ou raiva também. Podia jurar que no lugar disso, naqueles olhos, havia apenas um sentimento... justiça.
"Viva a princesa!" gritou um jovem garoto a alguns metros de mim.
E todos responderam em coro. "VIVA!!!"
O que eu sabia sobre esse povo? Era tudo que eu podia pensar.
Nada. Apenas que seu numero, superava em grande escala todos os exércitos que eu tinha visto ate agora. Sabia também que eles queriam o fim da guerra, mas a que custo? E eu poderia confiar neles, mesmo tendo acabado de conhecê-los? Mas não nego que a pergunta que esta em minha mente seria Com o fim da guerra... você irá partir... para sempre. Esta disposta a odiá-lo aqui, mas estaria disposta a esquecer ele para sempre?

LIVRO 2: Te amo, te amo... Mas ainda te odeio.Onde histórias criam vida. Descubra agora