Capitulo 12

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Um adeus para sempre

Uma guerra é isso que eles querem. Um fim ou um começo?
Deveria ter ouvido minha consciência enquanto ainda estávamos presos naquela cela mas não ouvi.
Os prisioneiros nos tiraram de lá. É a caminho da liberdade descobri que deveríamos nos separar, bem pelo menos eu e Bernardo.
Era para ser assim desde o começo, juntos no coração, mas separados pelo espaço e tempo.
Quando saímos daquele acampamento não me surpreendi em não ver nem Pierre ou JK ou mesmo Henri ou Lauren. Todos sabiam havia chegado a hora, aquela hora, o nosso fim. Não existia outra maneira.
Olhei para Bernardo montado em seu cavalo, dando conselhos e ordens aos outros, nossos companheiros de guerra, escravos, soldados, estranhos e amigos, todos os "outros de Ayna", esquecidos por um tempo mas lembrados no fim. Muitos ainda vinham a nosso encontro e a cada dia mais chegavam, comecei até a me perguntar em como esse povo todo se alimentaria, ou mesmo quando se rebelariam por esse mesmo motivo, mas a cada passo que dávamos marchando contra o inimigo mais força eles tinham. Como se suas baterias fossem recarregadas com esperança, sim, esperança de um dia melhor, esperança de viver em paz, esperança de ser feliz, de serem livres, e isso meus caros é o que move todas as guerras.
A noite era comum ouvir sussurros ou lamúrias, rezas e orações, pedidos a Deus por quem não veio, pela família que ficou ou um amor perdido. Afinal eram pessoas marchando para morte.
Bernardo não me olhava com frequência, eu não me senti mal por isso, no fundo ele queria que tudo ficasse menos doloroso, eu podia entender isso.
Acabei compreendendo algo importante, quando vai deixar alguem para trás, quando vamos nos separar de quem nos amamos, as brigas, intrigas, os desentendimentos, nada disso é lembrado, nada disso é importante, por que no final o que mais dói, não é o que nos foi feito, mas sim o que deixara de ser feito, o que nunca vai acontecer.
Meu peito dói, corrói por dentro como se acido estivesse embaixo de cada camada de pele. Meu coração ainda bate, eu sei, mas a cada passo que dou para meu futuro, eu me sinto morrendo, acho que uma parte de mim morre hoje.
Entao a cada metro que percorríamos para o fim da guerra, era um metro a mais entre nosso felizes para sempre. Apesar da dor em meu peito (pois sei que não o verei mais), e de todos os pesares eu estava bem. Não bem com isso, mas de uma forma retorcida e estranha, eu queira o bem de Ayna e não o meu.

" Você sabe o que deve fazer!" Resmunguei para Bernardo quando meu cavalo se aproximou do dele.

"Sim" ele respondeu, ainda sem me verificar. Sua voz soou triste, mas continha a mesma força que senti na primeira vez que o vi.

Concordamos com os prisioneiros que deveríamos nos separarmos, e marchar um para o sul e outro para o norte, e os reis, deveriam cair ao mesmo tempo, para não dar chance de um assumir perante a morte do outro. E então também concordei que ambos não teriam coragem para fazer o que deveria ser feito matar o próprio pai. Assim eu iria para o sul e Bernardo para o norte. Alguns refugiados propuseram levarmos eles a julgamento, mas a maioria, queria sangue. Queria vingança. Eu não concordei com isso, mas aqui, minha voz não era ouvida, mesmo que eu fosse a princesa que os salvaria, o meu objetivo não estava em contexto. Ele estava escrito como todos disseram.
Fica difícil se despedir quando chega a hora, e realmente eu nunca me despeço, odeio despedidas nunca sei o que dizer, até algum dia? Fique bem? Ou me ligue? É um adeus, é para sempre.
Eu não deveria ter sido tão fraca, tão egoísta, mas de fato sou humana é assim sou falha.
Na noite anterior a esse momento de separação, eu fui até ele, entrei em sua barraca, e antes que ele dissesse qualquer coisa, eu o beijei. Com todo amor que cabia em mim, eu não tinha perdoado ele, é claro, mas a essa altura não fazia mais sentido manter a mágoa. Então sem nenhum juramento eu dormi com ele, com ele me amando a cada segundo, nossos beijos sendo molhados por minhas lágrimas, ele me acalmou e me abraçou e quando me levantei para ir embora, ele segurou minha mão com seus dedos longos e macios, e numa voz rouca me pediu "fique " e ali eu adormeci.
Mas a manhã veio e ele havia partido. Acordei sozinha, deitada no chão frio, senti mais frio por estar sozinha, então seria assim todo o amanhecer para o resto de minha vida? Sentiria frio e medo, então acordaria triste e sozinha... Sim era isso.
O encontrei montado no cavalo e guiando alguns soldados da vigília, mas assim que ele me viu, eu senti o mesmo que ele, amor. Amor por ele, e o dele por mim. Aquele gancho que nos puxa bem no fundo, um magnetismo que tenta nos unir.
Não é fácil deixar ele partir, não é agora e não vai ser em muito tempo.
Queria poder contar a ele o que farei, ou o que descobri, mas não posso, ele me impediria, mas essa é a única forma, não sei se fico feliz por ter descoberto apenas agora, e ter vivido tantas experiências em Ayna ou se fico triste por ter perdido tanto tempo e estava tudo ali, bem na minha cara.
"Então é um adeus" digo soando tão triste quanto pareço, olho a nossa volta e vejo tantos olhares curiosos tantos sussurros, como se nossos soldados sentissem pena por nós.
Procuro o rosto de Bernardo uma Ultima vez, quero me lembrar de seu sorriso idiota, de seus olhos azuis arrogantes, de sua boca doce, mas tudo que recebo é o som de cascos batendo no chão duro. Enquanto vejo apenas areia voando com o vento que faz seu cavalo seguir caminho, sem nem olhar pra trás.
Ele não se despediu. Talvez eu não fosse tão especial assim.

LIVRO 2: Te amo, te amo... Mas ainda te odeio.Onde histórias criam vida. Descubra agora