Capítulo 24

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O cheiro da dúvida

Sarah

- Juliette... - Suspirei fundo extasiada.

Apenas o bilhete já foi suficiente para me deixar completamente desestabilizada e incrédula, o conteúdo do pacote eu sequer consegui abrir. Meus nervos estavam saltando da pele, meus lábios antes secos pela desidratação rotineira se encheram de cor e as rachaduras desapareceram pela minha saliva. Já o resto do meu corpo ainda estava em lapso, não conseguia me mecher, nem pensar.

A caixa foi deixada a cima da mesa.

Tentei tomar um longo banho mas não conseguia pensar em nada além de correr até a mesa e rasgar aquele pacote.
Eu mesma me pergunto por que não quero abri-lo, mas sei...
Sei que independente do que seja, quando eu o guardar comigo não vou conseguir parar de repercutir a ideia de voltar ao Brasil.

Sai do banheiro trêmula e procurei algo disperso para vestir. Em seguida me deitei na cama com os olhos vagantes no teto. Quando percebi já estava encarando a mesa.

- Como é possível? - Me perguntava sozinha enquanto me recordava da astúcia da morena.

Sorry baby...
Ela nunca se referiu assim comigo.
Nem mesmo quando brincava com suas provocações inesperadas. Eram sempre prefixos mais espalhafatosos como "Loirinha" ou "galega" e é claro o meu favorito, a perfeita combinação da sua audácia com a ternura. "Galega do pão doce".

Quando esse substantivo me veio a memória comecei a sorrir tocando a base do pescoço. Mas não esqueci a ideia de que essa pequena frase não faz sentido algum para nós duas e oque vivemos, se é que vivemos algo. Eu mal me permiti toca-la. Droga! Eu devia ter fudido com ela até não aguentar mais, pelo menos não estaria me lastimando agora. Não por isso.
Se tivesse acontecido eu teria um bom motivo para estar assim, tão inconformada.

Seria aquela noite... Aquela péssima noite onde a vi com outra. Era ali que eu devia ter me deixado levar. Se pudesse voltar no tempo eu teria a puxado pelo cabelo, teria rasgado aquela roupa do seu corpo, teria gemido tão alto que iriam olhar torto quando eu saísse do apartamento no dia seguinte.
E eu estaria me fodendo para oque pensassem. Apenas em beija-la eu senti a lua cair em uma explosão. Imagina se eu tivesse deixado esta me dar um orgasmo.

- Ahh

Eu sou uma grande ridícula, são quase uma da manhã e eu estou aqui me imaginando com uma mulher que a semanas atrás eu teria matado apenas por raiva. Maldita!

Como eu a detesto, como eu odeio sentir tudo isso por você. Por que decidiu fazer isso? Mandar a porra de uma caixa, pedir desculpa como se realmente sentisse lástima pelo que fez comigo. Se tivesse não teria deixado eu abrir a porta da sua vida desgraçada, teria me afastado, e eu não teria motivos para gostar tanto de você. Se não tivesse te abraçado ou te beijado.

Quando as lembranças começaram a acabar com o resto de paciência que ainda me restava me levantei da cama transtornada e corri até a mesa pegando a caixa com raiva.

A joguei na cama e tentei me controlar enquanto socava a parede.
Sem êxito retornei a pegá-la entre as mãos e arranquei a embalagem.
Oque me separava do objeto era apenas o papelão.
Peguei uma tesoura na escrivaninha e arregacei o material.

۪۪۪۪ꦼꪳ❥۪۪۪۪۪۪۪۪۪۪۪ꪳ͜Entre Rosas e Espinhos... {ʂαɾιҽƚƚҽ}Onde histórias criam vida. Descubra agora