uma história de amor real

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O som que vem de dentro daquela casa imensa é alto, as luzes piscando refletem pelos vidros e projetam seus raios azuis e vermelhos através da porta de entrada. Entro na casa, o som de um remix mal feito da Lady Gaga entra nos meus ouvidos conforme dou mais alguns passos pra frente. Bia vem correndo em minha direção. Seu cheiro é de vodka barata e ela já não parece mais estar se equilibrando direito, quase caindo ao me dar um abraço apertado e agradecendo pela minha presença naquela festa.
Segurando em seus braços, eu rio, equilibrando seu corpo antes que algum acidente possa acontecer.
Andando um pouco mais, me dirijo até a cozinha onde vejo uma bebida em cima do balcão e a coloco em um copo que trouxe de casa. Dou o primeiro gole, o segundo vem logo em seguida. Entro em uma roda de conversa qualquer, presto atenção aos relatos e histórias que contam ali e todos parecem estar bem agitados naquele momento da festa, o que me leva a pensar no motivo pelo qual demorei tanto a chegar. Eu estava em casa brincando com o meu gato no meio de mais uma crise existencial em meu quarto, de porta fechada e longe de todo o resto. Pensando em tudo, principalmente em mim e no que eu me tornei, ou será que sempre fui assim? Me perguntava se Heidegger estava certo, afinal de contas. A angústia e a sensação constante de desamparo eram realmente necessárias para que eu precisasse atingir o meu "eu" mais profundo e melancólico rumo à libertação do autoconhecimento? Esses e outros questionamentos pairavam por minha cabeça nos últimos dias, nas últimas semanas e nos últimos meses. Não me dei conta de que se passaram tantas horas e as consequências disso eram claras: aquela festa já estava na metade e a maioria das pessoas já estavam bêbadas.
Longe o suficiente de meu corpo físico, mas mentalmente conectadas nós estávamos quando meu olhar cruza com outras pessoas por aquela sala e te encontra. Mas ele realmente te encara quando você dá o seu primeiro sorriso pra mim, me fazendo corar e tomar mais um gole daquela bebida enquanto desvio o meu olhar para a roda de conversa. Tento prestar atenção naquele papo de viagem mais de uma vez e não consigo me concentrar, minha cabeça agora está em você e meu coração levemente acelerado. Olho mais uma vez, dessa vez sorrindo e tentando esconder a minha timidez, dessa vez sem desviar o olhar. Vejo o copo que você segura em sua mão direita e ele é exatamente igual ao que estou usando, me deixando levemente curiosa tentando adivinhar o que você está bebendo. Você faz o mesmo e sorri mais uma vez, o que me faz ficar sem graça e nervosa, será que estou encarando demais?
A resposta era não. Ou talvez seja sim, mas era um "sim" que estava vindo em minha direção e me fazendo perder a total atenção às pessoas ao meu redor. Dei um passo para trás sem ficar de costas, sem perceber a parede atrás de mim que me faz ficar encurralada. E agora?
Você chega até aonde eu estou me dizendo um "oi" simpático e acolhedor, e eu respondo "o-ooi" em seguida, torcendo pra que você não percebesse o quão vermelha eu estava. Sinto a sua mão perto da minha e a sua bem quente relando nos meus dedos e entrelaçando-os quando pega a minha mão e sai andando comigo pouco atrás, sem dizer nada. Seus passos nos guiam até o primeiro quarto no andar de cima e te encaro fechando a porta conforme nossos passos se direcionam até a cama de casal no meio do quarto. Você se senta na ponta da cama enquanto eu ainda fico em pé próximo à porta, indo aos poucos até a sua direção e ficando parada em sua frente sem saber o que dizer ou fazer.
Um pequeno barulho se faz no ambiente, aquele mesmo barulho do atrito entre a sua mão e o jeans. Era você com suas duas mãos apoiadas em suas coxas e batendo levemente no seu short jeans fazendo um sinal de "senta aqui". Dei um leve sorriso e tirei o meu sapato, deixando os meus pés apenas com a minha meia 3/4 de gatinho naquele carpete bege embaixo da cama. Recusei seu convite quando me sentei de lado e direto no carpete, me encaixando entre as suas pernas e me escondendo enquanto abraçava uma delas. Minha respiração fica mais forte e o meu coração se acalma. Sinto o seu corpo se debruçando um pouco pra frente buscando ver o que eu estava fazendo sentada no chão, e sem entender, uma de suas mãos começa a acariciar a minha cabeça e fazer carinho entre os meus fios de cabelo, me fazendo abraçar mais forte a sua panturrilha conforme algumas lágrimas escorriam pelos meus olhos.
"Você não precisa chorar mais, eu estou aqui com você e nada e ninguém iria nos separar." ela disse.
"Eu te amo, mô" eu disse, logo depois escutando o "eu te amo mais, neném" dela.
Assim ficamos por muitos minutos naquela noite, saindo daquela festa com o objetivo de voltamos para a nossa casa e construir um castelo de cobertores na sala para assistir filmes durante a madrugada. Aquela noite dormimos agarradas e quando acordei, haviam biscoitos de arroz e água com limão do lado da cama quando ela me acordou antes de sair de casa. Me deu um beijo na boca e outro na testa, eu fiquei de joelhos em nossa cama abraçando-a bem forte esperando que ela soubesse o tamanho da minha gratidão e o quanto agradecida eu era por tê-la em minha vida e poder chamá-la de minha namorada.

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