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~ jude montoya

O que vinha me animando nos últimos tempos, é o documentário em que estava trabalhando, nossa produção havia sido aprovada pela BBC. Daryl Myers, meu cologa, jornalista e cineasta era quem estava produzindo o "A mente que nos governa". Conseguimos tanto material, que tivemos que dividir o documentário em três partes. E eu estava realmente adorando o seguir nas pesquisas e entrevistas, éramos um grupo pequeno, contavamos apenas com um cinegrafista que também cuidava do áudio, o Fiennes, e a editora de video, Hayden, mas assim conseguimos conhecer institutos, histórias reais de pessoas que convivem com diferentes distúrbios, síndromes. Eu chorei bastante, em alguns momentos, eu havia conhecido pessoas com terrores noturnos como o meu, com vivências diferentes, tratamentos e perspectivas. Mas eu também ri bastante. Conheci pessoas muito legais. Escrever o roteiro narrativo era para ser simples, mas eu me vi envolvida demais, querendo fazer dele algo muito bom.
E foi assim que eu conheci a ONG "Liberté".

Eu cheguei nessa ONG, sabendo a quem ela ajudava, tive o primeiro contato com a psicóloga e a psiquiatra, conversamos bastante, e no final daquele dia, eu tinha conhecido toda base da Liberté, conheci aquelas mulheres... E eu me vi candidatando a uma vaga como colaboradora.

Liberté ajudava mulheres que foram agredidas e abusadas por seus parceiros ou pais, com ajuda psicológica, principalmente. E com abrigo, alimento, de início, área jurídica, e também a se recolocar no mercado de trabalho, se necessário. Mas tudo isso tinha um custo muito alto. Eu até fiz uma doação pequena por que eu não era rica, nem nada do tipo, mas eu pensei em algo, e procurei Martin, para me ajudar com isso.

E passar meu tempo livre lá, ajudando jovens a fazer seus currículos, juntando cestas básicas e outras doações, foi a melhor coisa que eu podia fazer por mim, como ser humano. E para meu psicológico.

Mas na outra parte do tempo...

Audiência a portas fechadas. Muitos jornalistas na porta do fórum. Instruções de Martin. Testemunhas.
Foi minha realidade durante aqueles dias.

Sam e eu primeiramente, fomos ouvidos, separadamente. E eu tive que voltar a relatar em detalhes tudo o que aconteceu.

E claro, passei por uma avaliação psiquiátrica por vontade própria. Já que ele me acusava de descontrole emocional, por isso, precisou se defender de mim.

Sam nunca foi muito cuidadoso, a verdade era essa.

A próxima audiência, foi marcada para uma semana depois. O veredicto provavelmente sairia naquele dia. Me encaminharam novamente para essa sala, eu estava aqui sozinha, nervosa. Não tive contato com nenhuma das testemunhas. Que consistiam em minha mãe e Nia, que presenciaram Sam na porta de nossa casa. E haviam os videos do corredor. Ele chutando a minha porta. Provas.

E Sam continuava alegando as mesmas coisas.

Eu estava mais nervosa que nunca naquele dia...

Assim que Martin abriu a porta me levantei da poltrona, onde estava. "Vamos" ele chamou, e eu caminhei, tensa até ele. "Fique calma" ele pediu me dando um sorriso para me passar confiança.

Um oficial de justiça estava do outro lado, Martin e eu saímos pelos corredores, indo em direção a sala onde a audiência estava ocorrendo. E cruzando por dois corredores, eu pude ver no fim do que virava a esquerda, minha mãe, Nia... e Jack, eles conversavam de costas pra mim e sequer nos viram. Ele estava usando uma bengala, ainda em período de recuperação. O que ele estava fazendo aqui?

Notei que tinha fixado meus pés no chão, quando Martin colocou uma mão em minhas costas me fazendo andar para frente.

— O que ele está fazendo aqui? — Perguntei baixinho.

Comum de DoisOnde histórias criam vida. Descubra agora