Capítulo 2: Olhos negros, sangue escarlate.

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As ondas inquietas do mar se mexiam de forma caótica. O oceano atlântico se provava um desafio, ainda mais para um ser humano normal. Mas este não era alguém normal. Do horizonte, um rastro negro passa rapidamente, abrindo uma cicatriz na água, que se regenerava naturalmente. Era Aaron, agora Alpha, correndo muito acima de cem quilômetros por hora, rápido o bastante para não romper a linha de tensão da lâmina aquática.

O mesmo respirava fundo e não cansava, sua regeneração não permitia que a fadiga o alcançasse. Ele era um procurado internacional, aviões não eram opções, barcos eram muito lentos. Ele então decidiu que correria todo o caminho até a América. Ele enfrentava ondas enormes, em alguns momentos, climas tempestuosos, chuvas impiedosas que causavam até o mais corajoso dos homens tremerem. Aaron não era mais um homem neste momento, sua raiva o dominara, tudo culminou em uma torrente de ira irracional.

Sua mente entretanto, ainda tinha resíduos de lembranças, um Aaron aprisionado, reprimido, inseguro e triste. Um Aaron torturado. Suas lembranças das torturas ativavam a faísca da raiva, mas quem causava a fórmula da explosão eram lembranças muito mais antigas, lembranças que vinham de casa.

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— Garoto, isso é tudo que você nos traz? É patético!

— Foi o que consegui nesse semáforo, pai! Todos diziam que não têm dinheiro! — Aaron clamava, ainda criança. Entrelaçava os dedos em forma de inquietação e cautela, mas medo acima de tudo.

— Isso não compra nem a merda da ração que você come, seu bostinha.

Aaron abaixa a cabeça, mas nenhuma lágrima saía de seus olhos.

— O que é? Você não vai reagir? Reage! — O pai gritava, assustando o garoto. — Reage, merda! — Deu-lhe um tapa logo em seguida.

O garoto sentia a ardência percorrendo toda a sua bochecha, preenchendo-o de dor e angústia, ainda assim, ficava calado, olhando para o chão.

— Você é inútil mesmo! Pra quê eu fui colocar um filho desses no mundo, culpa da sua mãe, viciada vagabunda. Eu disse para ela tomar a maldita pílula. E agora esse moleque... — Ele o agarra pelo cabelo. — Nem sabe fazer uma cara chorosa no semáforo para arrancar alguma moeda dos otários. Eu vou te deixar choroso e vou tirar uma foto pra você aprender, tá me ouvindo?

Aaron não respondia, apenas consentia em um silêncio pertubador.

— Vai pro quarto, agora! — Gritou o pai, Aaron foi logo em seguida, em pequena corrida. O adulto se levantou, retirando seu cinto de couro negro e reluzente.

No quarto, estava a mãe de Aaron, com uma agulha ainda fincada em seu braço esquerdo, apagada e alucinando. Estava em um canto da cama, dormindo de lado para não sufocar caso vomite. Aaron se jogou na cama, com a cara no travesseiro esperando pela dor. Que não demorou a vir, as batidas iam de seu traseiro até suas costas, que ferviam de dor. A ardência era mil vezes pior que o tapa, e suas marcas eram de vermelhidões macabros que iam de ponta a ponta. Em algumas cintadas, sangue escarlate saía levemente. Enquanto era fervorosamente castigado, ele ousava olhar para trás, para ver a face raivosa de seu pai. O homem era muito magro, com seus cabelos lambidos com gel barato. Seu maxilar rangia enquanto o mesmo disparava cintadas e seus olhos eram cinzas, mas cheios de raiva. O mais notável era seu grande nariz, feio e longo.

Aaron não chorava entretanto, ele permanecia calado, aguentando. E sozinho.

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Sujeito Alpha - Sangue Escarlate.Onde histórias criam vida. Descubra agora