espelhos | jurdan

Capítulo 1

O som estridente do despertador ecoa pelo quarto, fazendo uma certa jovem cansada acordar. Jude soca o aparelho diversas vezes até que o mesmo desligue, demorando alguns minutos para se levantar da cama. A mesma só volta à realidade quando Vivienne entra no cômodo aos berros.

"JUDE ACORDA VOCÊ VAI SE ATRASAR", diz a irmã mais velha, batendo na outra com o travesseiro.

"PARE DE ME BATER, EU JÁ ESTOU INDO!", retruca a gêmea mais nova, irritada.

E então se levanta, indo ao banheiro de seu quarto e escovando seus dentes em frente àquele tecido azul marinho, que tapava seu amplo espelho. Jude já havia se acostumado com o pano ali, afinal, o que ela menos queria era ver seu reflexo, ou melhor, o de sua irmã.

Inicialmente fora difícil para a Duarte se acostumar a ter algo tapando o grande espelho de seu banheiro, a mesma o usava para tudo. Se apreciava toda hora diante da grande superfície, sempre observando se seu cabelo estava alinhado, ou se sua leve maquiagem havia sido borrada ou precisava de retoque.

Após o acontecido fatídico, a auto-estima de Jude desceu pelo ralo, como a água no chão depois do banho. Sem um espelho para fazer a maquiagem corretamente ou ter certeza de que seus penteados haviam sido feitos com perfeição, a gêmea mais nova estava apenas usando seu cabelo solto, porém, bem penteado e seu hidratante labial sabor morango que não fazia nada a não ser deixar a boca um pouco mais vermelhinha do que o natural. Seus delineados bem feitos e detalhados foram esquecidos, junto com eles, seus típicos chifrinhos feitos com o próprio cabelo, penteado que a mesma usou por toda a sua infância e parte de sua adolescência. Óbvio que depois que a mesma cresceu um pouco, percebeu que não precisava mais daquilo, e os usava apenas quando sentia saudades, mas sempre dentro de casa. Não queria arriscar sua reputação na escola - que já não era muito grande - com um simples toucado diferente.

Escolheu uma roupa confortável e simples, como de costume.

Jude trajava uma calça jeans preta e justa sem nenhum rasgo, uma blusa do Evanescence, sua banda favorita de rock, um tênis all star preto cano alto e seus típicos acessórios costumeiros - um tattoo choker da mesma cor que a calça e o tênis, um colar na altura de sua clavícula, com um cristal roxo e outro na altura de seus seios, com uma lua de prata, alguns anéis em seus dedos e pulseiras de couro -. Seus cabelos, como dito anteriormente, se encontravam soltos e para finalizar, ela passou seu hidratante labial. Pegou sua mochila, que já havia arrumado no dia anterior, tirou o celular do carregador e colocou em sua playlist, selecionando In The End, do Linkin Park.

A garota se dirigiu ao lado de fora da casa, sem se preocupar em comer algo, afinal, Oriana já havia desistido de fazer Jude comer de manhã. Apenas aguardou Fantasma aparecer em frente à sua casa, com Bomba e Barata dentro do carro.

Escutou uma buzina e logo correu até o lugar de onde a mesma tinha vindo. Entrou no veículo, cumprimentando todos os seus amigos com um sorriso sincero.

"Jude, você dormiu direito essa noite?", Bomba se pronunciou, tirando a Duarte de seus devaneios.

"Você sabe que não. Fiquei acordada até tarde fazendo aquela merda de trabalho de história!", a mesma praguejou mentalmente, aquele professor iria pagar por tirar suas noites de sono com trabalhos difíceis e complexos. "De verdade, ninguém avisa que ele só tá' sendo extremamente desagradável?"

Todos riram.

"Eu e você nos ferramos mais do que a Bomba e o Fantasma, Jude.", diz Barata. "Você teve que fazer o trabalho com a Nicasia e eu, com o Valerian. Sério gente, ele é muito assustador. Eu fiz tudo sozinho!"

"Pode crer! A filhinha de mamãe me fez fazer o trabalho todo sozinha também. De acordo com ela, existiam compromissos mais importantes a serem tratados e que eu ia dar conta de um simples dever. Aquela puta. Se ela tivesse feito pelo menos um por cento do dever, tinha me poupado um pouco de trabalho."