Eu realmente amava meu quarto. Era espaçoso, bonito, meus livros favoritos estavam ali e a acústica era perfeita, possibilitando que a música que estourava nas caixas de som bem posicionadas repercutissem lindamente pelas paredes e ecoassem um pouco pelo corredor. O que eu estava sentindo e o que as músicas que eu escutava passavam seriam segredos meus, ninguém poderia tocar na minha playlist e se intrometer quanto a isso. Não ali. Não no meu quarto. Era o único lugar que eu tinha permissão para ser eu mesmo por todo o tempo que ainda me restava, e eu aproveitaria ao máximo.
Ou era isso que eu dizia a mim mesmo: que eu aproveitaria ao máximo o tempo que me restava no meu precioso quarto, sozinho, sem ter que me preocupar com uma esposa que eu não desejava dormindo no aposento ao lado, ou pior: no mesmo quarto que eu. Mas, na verdade, eu estava apenas jogado na poltrona realocada para frente da janela que dava para o jardim, escutando a letra melancólica que preenchia o ambiente. Eu deveria colocar uma balada animada ou um rock pesado e performar na minha cama, ou em frente aos espelhos, mas observar as estrelas aparecendo no céu lá fora me parecia mais fácil com o nível de exaustão que eu me encontrava.
"Eu não consigo entender como ela consegue se manter tão calma em banquetes como este que tivemos hoje", falei, suspirando, ainda olhando para as estrelas. "Todos nos perguntando sobre o casamento, os preparativos, nos parabenizando, nos dando dicas para a vida de casados, céus... Eu sempre sinto que vou enlouquecer".
Fechei meus olhos e joguei a cabeça no encosto da poltrona, respirando fundo e apenas aproveitando enquanto outra música começava a soar.
"Já estamos há anos nessa, anos, e eu nunca a vi titubear, sempre educada e aceitando tudo, mas como ela consegue?", perguntei, ainda com os olhos fechados. "Digo, não que eu reclame muito também, ou conteste algo, mas, céus, se um dia eu chegar no nível de paz espiritual daquela garota eu vou me considerar um vencedor e... Ah, olha esse refrão...".
Lady, runnin' down to the riptide
Taken away to the dark side
I wanna be your left hand man¹
"Ela poderia ser essa garota indo correnteza abaixo, não poderia?", perguntei, os pés batendo no chão no ritmo da música. "Eu gostaria de ser esse cara de confiança pra ela, sabe? Porque a gente tá junto nesse barco furado, mas nem amigo dela eu consigo ser!".
I love you when you're singin' that song and
I gotta lump in my throat 'cause
You're gonna sing the words wrong²
"E eu realmente amo quando ela fala no meu lugar quando eu travo, entende?", continuo, deixando a música descrever meus sentimentos. "Mas eu fico com um nó na garganta mesmo assim, porque nunca é o que eu quero ouvir. Nunca é uma rebeldia, um indício que ela desgosta tanto quanto eu, entende? É sempre, sempre a coisa certa a se dizer, e isso me cansa e nem casado com ela eu sou ainda".
Finalmente abro os olhos e me remexo na poltrona até estar de joelhos, apoiando-me no estofado e ficando de costas para minha varanda, apenas para focar na entrada de meu quarto. Me senti uma criança naquela posição e quis rir com aquilo. Eu ainda era um garoto, afinal. O que eu conhecia da vida? Mesmo assim, iria me casar com alguém de quem eu nem ao menos sabia se gostava, mesmo depois de uma vida inteira de convivência.
"Você consegue me entender, Iwa-chan?", perguntei, não me importando em soar manhoso enquanto abraçava as costas da poltrona.
Ele, porém, apenas continuou me encarando sem dar um pio, como era de costume. Eu já estava habituado a isso, mas nunca me cansava de desabafar com ele. Já faziam sete anos que ele era meu principal guarda-costas, desde o dia daquele pseudo-ataque onde o jovem e praticamente inexperiente soldado Iwaizumi salvou o principezinho da morte. Ele tinha quase a minha idade, apenas dois anos mais velho, e era incrivelmente habilidoso, então na época achei que, ao colocá-lo obrigatoriamente na minha cola, seríamos amigos. Mal sabia eu que seria mais fácil fazer uma pedra falar do que obrigá-lo a quebrar as regras e abrir a boca para me responder algo.
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When the Sun Goes Down
أدب الهواةUma semana antes da grande cerimônia de seu casamento arranjado, Oikawa encontra um pacote na cama com tinta de cabelo temporária e um bilhete assinado por Iwaizumi, seu guarda mais fiel, dizendo-lhe para usar a tinta para os cabelos, fazer uma maqu...