O plano sempre foi fugir.
Comecei a ter contato com Tooru em minha adolescência, vendo-o de longe, do outro lado do pátio onde costumávamos treinar quando éramos mais novos. Eu ficava com os outros novatos enquanto ele vivia cercado por meus próprios primos e tios que faziam parte da Guarda principal. Nunca tive dúvidas quanto às nossas diferenças hierárquicas e, observando-o como eu costumava observar, sempre soube que deveria ficar longe dele e respeitar nossos devidos postos. Foi chato chegar a essa conclusão já que, por toda a vida até aquele momento, eu sonhava em ser o guarda do príncipe, seria a primeira vez em várias gerações que isso aconteceria em minha família e eu sabia que deixaria todos orgulhosos. Mas eu não podia, não quando o jovem príncipe em questão já causava borboletas no meu eu de quinze anos.
Isso até eu salvá-lo de um atentado durante uma das passeatas reais. Deuses, eu só tinha dezessete e havia acabado de ser escalado, nunca consegui entender como conquistei um posto tão alto em tão pouco tempo.
Nunca consegui entender o motivo dele ter confiado tanto em mim, mas estava disposto a não decepcioná-lo quanto a minha eficiência.
Mas estava disposto a fazê-lo se cansar de mim.
Eu sei o que ele estava esperando quando me exigiu como seu principal guarda-costas. Sabia que ele queria um amigo, bem como sabia que qualquer pessoa da minha idade cairia em seus gostos no segundo que começasse a servi-lo, mas eu não poderia fazer isso. Deuses, seria errado em tantos níveis diferentes que eu nem consigo descrever direito.
Primeiro que isso vai contra o código de ética e as regras da Guarda. É claro que era natural que, depois de muitos anos a serviço, vínculos se formassem, mas não era correto que uma relação entre protetor e protegido começasse com uma amizade, pois sentimentos assim poderiam interferir muito no desempenho do trabalho que, no nosso caso, poderia significar vida ou morte, e eu nunca arriscaria a vida de ninguém dessa forma. Ia contra tudo o que a minha família me ensinara e no que eu acreditava.
Segundo que eu, assim como vários outros jovens do reino, tinha um crush na abençoada maldita alteza real e, se eu me aproximasse dele daquela forma, sentiria como se o estivesse usando. Pior ainda: eu correria riscos de me apaixonar e me apegar de verdade, e isso seria ainda mais perigoso do que ter apenas uma amizade.
Além de proibido e impossível, é claro.
Eu não queria machucá-lo ou magoá-lo, por isso tentei ser o mais frio, distante e profissional possível. Seguia todas as normas, me comunicava apenas quando necessário, não interagia com ele de forma alguma e não demonstrava indícios de aceitar os convites que ele me oferecia todos os dias para ser seu amigo. Quando começamos a treinar juntos para sincronizarmos nossas lutas e sabermos como agir em momentos de emergência, eu o forçava ao limite, fora da linha que nem mesmo os tutores ousavam passar com ele. Nos meus dois primeiros anos de serviço eu fazia de tudo para ser um pé no saco e ficar o mais longe que conseguisse da imagem de amigo que ele idealizava ao me chamar para o posto.
Mas é claro que não deu certo, e agora eu sei que nunca daria, porque o conheço e sei que é um maldito cabeça-dura dos infernos que nunca desiste das próprias decisões.
Ele nunca desistia de uma ideia que botava na cabeça, então não importavam meus esforços, ele sempre continuaria com aquele falatório interminável que fazia eu pensar que enlouqueceria. Ele nunca desistiria de me conquistar e, depois de um tempo, nos acostumamos àquele estranho relacionamento.
Eu passei a ansiar por suas palavras atropeladas, quando ele vomitava seus sentimentos para mim após um dia estressante. Eu me sentia destruído ao vê-lo desabar na minha frente, mas meu coração passou a se aquecer por saber que eu era o único a quem ele confiava todas as suas dores e inseguranças, mesmo que me sentisse muito culpado por isso.
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When the Sun Goes Down
FanfictionUma semana antes da grande cerimônia de seu casamento arranjado, Oikawa encontra um pacote na cama com tinta de cabelo temporária e um bilhete assinado por Iwaizumi, seu guarda mais fiel, dizendo-lhe para usar a tinta para os cabelos, fazer uma maqu...