É fácil notar que a militância atual é bem diferente da militância exercida nos anos 80.Para melhor compreender esta diferença é oportuno definir alguns conceitos. Militância, segundo o dicionário Aurélio significa: "ação de militante; exercício, prática, atuação: militância política" (FERREIRA, 1986, p. 1135). Militante por sua vez é definido como aquele "que milita, combatente; que atua, participante; [...] membro ativo, apostolo: militante de um partido" (FERREIRA, 1986, p. 1135).
Segundo André Luis Leite2 a militância é a metodologia para produzir ações coletivas a fim de intervir, ou interferir, nas normas sociais vigentes. Essa metodologia privilegia como estruturas organizativas os partidos, os movimentos, as centrais sindicais e afins. O modo de funcionamento destas é marcado pela disciplina e visa produzir cumprimento, comprometimento e obediência.
Vista como uma espécie de "adjetivo", a militância qualifica uma forma específica de engajamento de sujeitos em causas. Além disso, esse uso também indica a relação do termo com a participação em movimentos em defesa de causas e formação de associações e agrupamentos de pessoas em defesa de interesses coletivos.
Os diretórios, as centrais sindicais e outros dispositivos são adjetivados como militantes, ao mesmo tempo em que é informado que estes mesmos dispositivos devem convocar as suas militâncias. Tais usos sugerem uma naturalização da ideia ,tratando-a como algo auto evidente, que dispensaria maiores definições ou conceptualizações. A militância produz um modo específico de investimento dos indivíduos nas atividades, marcado por força e vigor, e também pela posição de disponibilidade e sacrifício de suas necessidades pessoais em nome da defesa de um ideal.
A história da militância pode aparecer à primeira vista como "apolítica", um território escorregadio, onde a diluição das fronteiras entre o objetivo e o subjetivo se desvanecem a tal ponto que turvam a capacidade de compreensão e inteligência dos fenômenos políticos a serem examinados na reconstituição de trajetórias individuai sou coletivas. Onde os militantes são pessoas concretas, homens e mulheres, portadoras de valores éticos, de convicções políticas, de influências religiosas refletem, no seu cotidiano, sua formação cultural, seus antecedentes familiares e um conjunto de "determinações".
Ao resgatar as abordagens clássicas sobre a ação coletiva, Pasquino (1992), ressalta que estas poderiam ser divididas em duas grandes correntes. De um lado, estariam as descrições que veem uma manifestação de irracionalidade nas motivações das erupções das massas. Tais abordagens associam os comportamentos coletivos de massa ao questionamento ao risco à ordem social existente.
De outro lado, estariam Marx, Durkheim e Weber que, embora com enfoques bastante distintos entre si, veem nos coletivos sociais um modo peculiar de ação social, os quais dariam veredas a tipos de solidariedades complexas (Durkheim), a mudanças sociais do tradicionalismo para o tipo racional-legal (Weber) ou poderiam marcar o início de um processo revolucionário (Marx).
Vale dizer que os autores clássicos, em sua maioria, falam em "comportamento coletivo" e "ação social". A referência deles aos movimentos sociais, ainda que de grande importância, é apenas indireta. A ideia de "movimentos sociais/militância", tal como a concebemos hoje, não consistia, por si, em tema específico de investigação.
1.1 Ativismo
As ações da militância correlacionam com o ativismo, segundo o dicionário Aurélio, ativismo pode ser descrito como qualquer doutrina ou argumentação que privilegie a prática efetiva de transformação da realidade em detrimento da atividade exclusivamente especulativa.
Segundo Ferreira o ativismo pode ser entendido como militância ou ação continuada com vistas a uma mudança social ou política, privilegiando a ação direta, através de meios pacíficos ou violentos, que incluem tanto a defesa, propagação e manifestação pública de ideias até a afronta aberta à Lei, chegando inclusive à prática de terrorismo(FERREIRA, A. B. H.).
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A UTILIZAÇÃO DO MOVIMENTO NEGRO PARA O BENEFÍCIO DE AUTOPROMOÇÃO
Non-FictionEsta monografia consiste em uma reflexão sobre as experiências e os saberes construídos pelo movimento negro e análises das utilizações das temáticas e causas na autopromoção das falas e atitudes que trouxeram um novo pensamento, desconstrução e a v...