CASSIAN
Insano. Era insano e completamente louco como alguém pode me desestabilizar assim... Alguém que eu mal conheci e que me tinha nas mãos. Alguém que eu daria a vida agora mesmo. Um pequeno gesto de amor, e uma dor tão lancitante.
Assim que Nesta colocou o pote com cupcakes nas minhas mãos eu tive que sair da sala. Eu precisava respirar. Estava sufocando. Estava sufocando.
Andei ou corri, — não lembro — em direção ao banheiro privado do corredor do escritório e me sentei no chão. O chão que estava gelado. Novembro estava frio. Principalmente com o Sol dando adeus para a chegada do inverno.
Encosto minha coluna na parede e desço até o chão. Minha vista está embaçada, tudo que eu vejo é um grande desfoque... Longos cabelos escuros, olhos castanhos e, um sorriso encantador. Ela merecia mais dias. Ela merecia uma vida em que ela pudesse viver.Minha mãe.
Um barulho na porta, um que eu me recuso a ouvir tenta me trazer de volta a realidade. — É a amiga de Nesta na minha frente. — meus olhos conseguem focar. Seus cabelos estão presos e seu olhar preocupado. Muito preocupado.
— Hey, Cassian o que está acontecendo? — ela se senta de frente pra mim. — Hey cara, fala comigo.
Sua mão toca meu ombro. Ela olha o pote rosa que Sky mandou pela mãe pra mim.
Eu nunca tive problemas pra falar sobre minha mãe. Sobre como a perdi, sobre meu pai que não valia nada. Quando você finge que algo não aconteceu, você acabada acreditando que isso é verdade. Sua mente te faz ver as coisas dessa forma. E eu estava vendo assim a muito tempo. Fingindo que não doía pra não precisar vivenciar a dor.
Ir para o exército foi um pedido dela... E eu realizei mesmo em todas as minhas formaturas ela não estando presente. Ter sua memória presa a minha era reconfortante. Saber que ela estava olhando por mim de algum lugar.
Mas quando Sky me perguntou da avó ontem eu revivi um momento dolorido. Era a véspera do dia em que eu a perdi. Contei coisas boas para minha filha sobre a avó, sobre como ela iria amar conhecê-la e mimar cada coisa que pudesse sobre a neta. Falei sobre os doces.
E ela fez. E hoje, aqui nesse momento recebendo esses doces eu voltei anos atrás. Eu posso fechar os olhos e sentir seu cheiro, a casa repleta com o aroma de baunilha fresca que ela fazia questão de colocar nas coisas. O cheiro adocicado de seu perfume. A lavanda na casa. É como se meu corpo e minha amante tivessem separados, cada um em um espaço-tempo diferente. Cada um lutando pra sobreviver de onde estava.
Tremo. Eu sei onde isso vai parar, eu preciso me controlar. Mas não consigo.
— Respira. — Emerie diz baixo. — Respira.
Eu respiro. Eu não sei lidar com perdas. Essa é a verdade e reviver uma memória tão dolorosa é assustador. Tão assustadora quanto as da Guerra.
Minha mão treme. As fecho em um punho.
Fecho meus olhos novamente e o cenário muda em minha mente. Pessoas correndo de um lado para o outro, armas apontadas em nossa direção, ordens sendo dadas e soldados feridos sendo postos entre trincheiras na esperança de sobreviver.
O que um olhar me custou foram quatro tiros. O quinto de raspão.
O barulho me faz encolher. Eu vi minha mãe naquele dia porque era o dia de sua morte. Eu teria o mesmo destino que ela. Eu morreria naquele dia. Era pra ter sido assim.
Puxo minha mente para a realidade. O hoje.
Os olhos castanhos ainda estão me encarando.
— Respira. — ela instrui novamente. — Devagar.
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Nobody Knows | NESSIAN | AU (HIATUS)
FanfictionHá quase sete anos ela não vê a família. Há seis, tem uma filha. Nesta Archeron, decidiu viver longe de todos a sua volta, precisando viver apenas com ela mesma. E agora, Skyie. Durante muito tempo, a irmã mais velha de Feyre e Elain viveu perdid...