Capítulo 3

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Terça-feira. É um novo dia e tudo será melhor hoje.

Acordo, tomo um bom banho, escovo os dentes e faço a maquiagem. Troco de roupa, pego as coisas da escola, abro as cortinas e a janela, ponho um pouco de ração pra Lady (ela dorme no meu quarto) e desço, trombando com Melanie no caminho.

Melanie. Ah, Melanie, você é realmente a decepção da minha existência, garota! Como é possível que alguém como você se esconda, se retraia e seja tão... impopular? Você é a irmã mais nova da garota mais conhecida de San Diego, você tem tudo pra brilhar e simplesmente... se nega!

Ela realmente não pode compartilhar do meu DNA!

Quero dizer, minha irmã é quase como uma miniatura minha. Os mesmos olhos azuis intensos, a mesma sobrancelha desenhada, a mesma cinturinha fina e os mesmos traços no rosto. O cabelo é um pouco mais escuro que o meu, mas é igualmente brilhante e grande e liso. Ela tem o mesmo corpo que eu tinha aos 13 anos, no entanto, temos uma lista de diferenças que nos impõe um muro colossal entre nós como família!

Só pra começar, Melanie não é popular. Se ela carregasse qualquer sobrenome que não “Schreiber”, era bem provável que ninguém soubesse quem ela é. Às vezes, Melanie consegue parecer um pedaço da decoração de um cômodo, tão transparente ela se torna aos olhos de todo mundo. Ela tem beleza e tem brilho, e os esconde porque quer.

Além disso, minha irmãzinha não sabe se vestir. Que garota de 13 anos, no início da puberdade, quando os garotos começam a te olhar e você deveria encurtar a barra da saia e mexer no cabelo pra chamar mais atenção, vai pra escola com calça jeans escura, camiseta sem estampa e tênis surrado no pé? Ela me envergonha desse jeito! Aos treze anos, eu já beijava na boca e usava curvex nos cílios! De quem essa garota é filha, meu Deus?

Pra piorar, seus acessórios. Se é que podem ser chamados assim, é claro. 3 graus e meio de miopia em cada olho, solucionados com óculos de armação transparentes que já quebraram tantas vezes que ela passou a colar com fita adesiva! E, é claro, ela chupou tanta bala e pirulito que destruiu os dentes, e foi condenada a usar aparelho fixo pelos próximos anos. E ela colocou aparelho azul. Dá pra imaginar?

E, como se fosse impossível ser mais tenebroso que isso, ela faz parte do clube de xadrez e do clube de ciências. Eu não consigo me lembrar de um ser humano que tenha passado por esses dois grupinhos sem sair de lá manchado por uma vida. Pessoas que se envolvem com os menos favorecidos da popularidade são automaticamente excluídos do bom círculo social, e isso pode ser desastroso! Eu não quero isso pra Melanie! Ela é cafona e mala, mas é inteligente e, até que se prove o contrário, é minha irmã. Ela merece boas companhias!

Mas ela se recusa a aprender a ser uma garota popular, então eu desisti dela e a trato como outra qualquer. Fim da história.

Voltando pra minha manhã, eu comi alguma coisinha leve e cutuquei a pentelha pra ela não se atrasar pra escola. Eu ia de carro até a escola, mas a Melanie insistia em pegar aquele ônibus amarelo humilhante. Todos os amiguinhos nerds e impopulares dela iam naquele ônibus – nenhuma surpresa pra mim. Só me admirava que ela fizesse questão de se acabar daquela maneira pra estar perto deles.

Cheguei na escola, estacionei na minha vaga de sempre e bati a porta do carro em uníssono com...

J.J. Tyler.

Ótima maneira de começar o dia. Ele me persegue!

Passei por ele, e ele não me olhou. Idiota. Quando me olhasse ia se arrepender de ser tão distraído desse jeito!

Então, eu tropecei e...

Não caí.

J.J. me segurou.

Dez Coisas - O diário de uma patricinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora