Capítulo 13

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No domingo, me arrumei muito bem pra ir ao evento beneficente. Todas as roupas que eu ia leiloar já haviam sido despachadas, e eu ia mais pra fazer número. Não queria nem assistir ao leilão. Ver minhas adoradas peças prediletas serem despachadas pra outras mãos era doloroso demais pra mim.

A casa estava cheia e com vários fotógrafos. Deixei que tirassem uma ou duas fotos minhas na entrada, então entrei. O lugar não era dos melhores, mas eu não tinha muito bem com o que comparar, pois nunca havia estado nesse tipo de evento antes. Respirei fundo e fui seguindo a multidão.

Os leilões já haviam começado. Fiquei por quase duas horas escutando coisas e mais coisas inúteis serem vendidas, até que não pude mais. Uma hora, eles iriam vender minhas roupas e pronto. Eu não precisava ficar assistindo àquele pesadelo do tédio, precisava? Me levantei de fininho e fui saindo.

Mas estava faminta, e havia um bufê de carnes e saladas imensos do outro lado. Umas pessoas já estavam comendo, e eu não estava nem um pouco afim de passar fome. Quero dizer, eu já estava com a Givenchy na palma da mãe, por que não uma pausa pro jantar? Peguei um prato e fui enchendo.

Quando já havia enchido o prato com todos os tipos possíveis de vegetais e alguma coisa de carne, vasculhei o ambiente com os olhos a procura de lugar pra sentar. Encontrei um local perfeito – e não reservado – nos fundos. Estava indo para lá quando, distraída, trombei com alguém.

Meu prato caiu e espatifou no chão com tudo o que eu estava doida pra comer. Mas não foi isso que deixou meu queixo caído, e sim o cara de smoking, corpulento e maravilhoso.

Era J.J.!

E o smoking dele estava agora cheirando a cenoura e molho de salada. Maravilha.

Devo ter ficado alguns minutos olhando pra ele sem saber o que falar, enquanto ele me olhava de volta. Não dava pra definir o que era aquilo no olhar dele; se era confusão, se era surpresa, se era algo mais forte e positivo que eu não ousaria nem sonhar. Mas ele estava lá, e não estava me xingando nem nada parecido.

- Desculpe. – pedi, tentando soar o mais tranqüilo e informal do mundo – Foi um acidente.

- Eu sei. – ele respondeu, e limpou a garganta – Devia tomar mais cuidado. Podia não ser eu.

Não havia sarcasmo nem ofensa em sua voz. Falava comigo como quem fala com alguém importante pra si. E isso fez meu coração palpitar numa velocidade acima do permitido pra saúde humana.

- Eu vou pegar alguma coisa pra limpar isso. – murmurei, bem rápido, e dei as costas.

Fiquei chocada quando percebi que J.J. estava vindo atrás de mim.

Troquei umas palavras com um garçom e expliquei o ocorrido. Ele pediu pra que esperássemos enquanto ia buscar algo que pudesse tirar a sujeira do smoking sem deixá-lo manchado. Agradeci e cruzei os braços, com um longo e profundo suspiro. J.J. ainda me olhava.

- Então... – eu estava morrendo de vontade de perguntar se Kimberly também estava ali, mas achei que não era uma opção viável – O que faz por aqui?

- Meu padrasto é o organizador. – J.J. explicou, sorrindo de um jeito maravilhoso e só dele – Não imaginava que fosse encontrar você aqui. Veio comprar alguma coisa?

- Não, doei minhas roupas pro leilão.

J.J. ergueu uma sobrancelha, tão surpreso que parecia que eu tinha dito que queria comprar um boi pra assar em casa.

- Não é muito a minha cara, né? – brinquei, com um sorriso fraco – É pra compensar a fatura do cartão de crédito.

- Isso explica muita coisa! – J.J. exclamou, rindo, apesar da surpresa.

Dez Coisas - O diário de uma patricinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora