Capítulo 17

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J.J. não foi à escola no dia seguinte.

Eu não sabia se aquilo era bom ou ruim. Poderia ser bom pois ele poderia estar usando aquele tempo pra se resolver com a mãe. E poderia ser ruim, imensamente ruim, se ele estivesse ainda muito mal depois da noite difícil que nós tivemos.

Quando ele deixou minha casa na quinta-feira de noite, depois de a chuva passar e minha mãe ligar avisando que ia chegar muito tarde por causa do trânsito causado pela tempestade, J.J. estava sério e abalado. Ele não estava mais chorando, mas eu tive a impressão de que ia desmoronar se eu não o abraçasse do jeito certo. Me disse que ia ficar bem, mas já havia passado das cinco da tarde e ele não havia me ligado ou respondido nenhuma das mil mensagens que eu havia mandado pra ele.

E isso não podia ser bom!

Como se não bastasse minha preocupação com ele, eu ainda tinha que pensar que amanhã seria a inevitável iniciação de Layla Tyler. Eu nunca tinha feito uma iniciação antes, e por mais que tivesse planejado muito com as meninas, não tinha ainda muita idéia do que fazer. Principalmente porque não conseguia me concentrar com tanta coisa na cabeça.

- O que você acha, Melody?

A voz de Hilary me fazendo essa pergunta era uma voz distante, como se viesse do fundo da minha cabeça distraída. Estávamos sentadas no chão do meu quarto, repassando os planos pra noite de sábado, mas eu não conseguia me manter na conversa por tempo suficiente pra lembrar o que havia sido discutido no minuto seguinte.

Como eu não respondi, Hilary bufou e Agatha estalou os dedos na frente dos meus olhos semi-abertos, me tirando do transe. Eu nem sabia mais no que estava pensando. Só sabia que não era em Layla ou na sua iniciação idiota.

- Melody, achamos que você achasse que isso era importante. – Agatha reclamou, fazendo bico – Estamos tentando ajudar, mas precisamos de você também.

- Desculpem. – murmurei – Eu não estou com cabeça hoje.

- O que aconteceu? – Hilary perguntou, e eu torci o nariz. Não sabia se devia contar. Não por não confiar nelas, mas porque não era algo meu pra ser contado para os outros.

- Você sabe que pode contar com a gente! – Nicole exclamou, pegando minha mão.

- É. – as outras duas concordaram, dando as mãos também. Eu sorri de um jeito meio tímido, achando que fosse começar a chorar.

- É o J.J. – eu disse, com cuidado – Ele está com... problemas.

Lentamente e em voz baixa, eu contei tudo o que tinha acontecido desde a visita à casa do J.J., cuja maior parte dos detalhes elas ainda desconheciam. Elas riram quando contei da piscina, e ficaram chocadas quando revelei quem era o pai de J.J. – elas sabiam que minha mãe tinha um caso, mas jamais imaginariam quem. Assim como eu, até quase uma semana atrás.

Então contei a semana difícil que eu havia tido, e sobre a conversa que ouvi no telefone, e como liguei e o que disse ao Sr. T pra convencê-lo a vir até a minha casa na noite anterior. Contei sobre tudo o que havia escutado enquanto estava lá em cima, e sobre a reação de J.J.

Ao final, elas estavam... chocadas. Pra não dizer mudas e de queixo caído, como se tivessem presenciado o fim de uma loja muito boa de roupas.

E eu estava, ainda que em parte apenas, aliviada.

As opiniões iam começar quando o meu celular tocou, dando um susto em todas nós e causando um grito uníssono. Puxei o celular da bolsa e atendi sem olhar pra tela, já sabendo quem estava me ligando.

- Oi. – eu atendi, sem saber exatamente o que dizer. Um segundo de silêncio precedeu sua resposta.

- Oi. – J.J. disse, soando muito cansado. As Sereias me olharam, cheia de expectativa pelo meu tom cuidadoso.

Dez Coisas - O diário de uma patricinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora