Capítulo 6

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Eu tinha várias coisas em mente enquanto dirigia pra escola na manhã de quarta-feira. E não sabia muito bem por onde começar.

No topo de tudo, estava Lady. Onde estava minha preciosa cachorrinha, tão bem cuidada? Teria sido roubada, teria fugido? Independente do que tivesse acontecido, será que ela estava bem e será que acharia o caminho de volta pro conforto da sua casinha? Estaria com fome, com frio, suja...?

Claro que eu não podia fazer muito mais do que já estava fazendo por ela. Cameron tinha refeito o cartaz de “cadela desaparecida” nove vezes antes de eu aprovar – inteiramente proposital, o primeiro estava ótimo – e tinha pagado a impressão e estava colando-os por aí. Afinal, eu não poderia confiar essa tarefa tão importante a ninguém em quem não confiasse, certo?

Enquanto Cameron fazia o trabalho duro por mim, eu me dedicava às minhas outras preocupações urgentes. J.J. Mais precisamente, uma vingancinha particular, aliada a um desejo ardente: tê-lo. Não apenas porque eu estava apaixonada e o queria com todas as minhas forças – embora não admitisse isso a mais ninguém, além do meu diário -, mas também porque queria que ele dobrasse a língua e me quisesse também.

E isso seria completamente fácil, não é mesmo? Não é como se eu nunca tivesse conquistado nenhum cara antes, eu fazia isso o tempo todo. J.J. podia ser durão, mas ainda era homem, e como qualquer homem ele acabaria se rendendo.

Paralelamente a isso, eu pesquisaria mais sobre a vida dele. Na verdade, Cameron pesquisaria, por duas razões muito óbvias: 1) eu não quero que ele ache que sou eu quem está correndo atrás dele e 2) Cameron é a escrava oficial das Sereias desde que se provou a maior bitch de todos os tempos.

Estacionei o carro e desfilei pelo estacionamento de um modo como não vinha fazendo nos últimos dias. Dei “oi” pras pessoas que passaram me cumprimentando, e me senti de volta ao meu lugar, no topo. Onde nunca deveria ter deixado de estar.

Onde J.J. viria a sentar comigo em breve.

No meio desses devaneios, Dakotta Timberly apareceu na minha frente. Estava usando a saia das líderes de torcida, obviamente cortada pra virar quase um cinto ao invés de uma saia. Nada contra. Mas as pernas dela eram mais furadas do que um soldado morto em batalha.

- Você não apareceu no treino da semana passada, capitã. – ela disse, insolente.

Que gracinha. Tão pequenina e tão feia achando que pode enfiar o dedo na cara dos mais velhos. Tsct-tsc, bebezinha, a titia vai te mostrar como é que se faz.

- Saia da minha frente, Dakotta. – pedi, gentil e rude ao mesmo tempo.

Então, simplesmente lhe dei um empurrão mínimo e passei.

Dakotta estava certa, no entanto. Eu realmente não tinha ido ao treino, do mesmo modo como não tinha aparecido pra minha sessão fotográfica. Meu agente me ligou quando eu estava duas horas atrasada, e Hilary fez de conta que era minha mãe, dizendo que eu estava doente e não poderia comparecer.

Eu tinha jogado muito pro alto por causa do J.J. e do que ele tinha me causado na semana anterior.

Não mais.

Ele ia aprender que quem aprende o nome Melody Schreiber nunca mais esquece. Eu gravo fundo na memória.

- Você parece ótima!

Esse foi o comentário do dia na mesa das Sereias. Cameron estava ausente, ainda pregando meus cartazes por mim. Era o segundo dia de aula que ela perdia sem justificativa, acreditando veementemente na minha promessa de falsificar um atestado médico para ela.

Dez Coisas - O diário de uma patricinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora