[5] Acceptance

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"Coisas quebram, e às vezes elas são reparadas, e em muitos casos, você percebe que não importa o que seja danificado, a vida se arranja sozinha para compensar pela sua perda, algumas vezes, de maneira incrível." ― Hanya Yanagihara, Uma Vida Pequena.

💫

Os meses passaram como um piscar de olhos desde o aniversário de Lan WangJi. Agosto passou em um borrão de cores e acontecimentos: o aniversário de Lan WangJi, os dias na casa de Wei WuXian... a madrugada que passaram no lago à luz da lua, iluminados por prata e cobertos por escuridão enquanto perdiam-se nos beijos um do outro, nas risadas e nos olhares.

Tudo mudara desde então, e ao mesmo tempo, nada. Agora, ele entendia porque passava tanto tempo olhando para Wei WuXian, observando o contorno da boca dele, os seus cílios, suas íris e a cor de sua pele — ele o achava lindo pois gostava de garotos, principalmente de Wei WuXian. Era uma realização que havia causado um grande contentamento em si mesmo.

Lan WangJi odiava não entender o que estava acontecendo, e desde que conhecera Wei WuXian, os momentos felizes e de paz entre eles foram preenchidos por períodos de perguntas internas que não poderiam ser exteriorizadas. Agora, ele mesmo conseguia respondê-las.

Eles se beijaram muito desde a madrugada no lago — Lan WangJi voltou encharcado para casa naquele dia, mas antes de entrarem, Wei WuXian fez um movimento com a mão, e ele estava sequinho —, e ele sentia que não era mais desajeitado, ou sequer, bagunçado. Eles se encontravam naturalmente em meio a um beijo, e o resto era um borrão de estrelas nas pálpebras de Lan WangJi.

É claro que, sempre que eles iam fazer algo assim, Lan WangJi deixava Mozi fora do quarto — sim, ele tinha vergonha do cachorro os olhando. Era extremamente embaraçoso, dissera ele a Wei WuXian uma vez, que riu até chorar, caído na cama com quadrinhos e um prato de sanduíches na mão.

Lan WangJi suspirou. Hoje era o dia em que Lan XiChen estava de folga, então ele não iria para a casa de Wei WuXian — a qual ele achava que seu irmão sequer sabia da existência —, e sim, passaria seu tempo livre na casa, aproveitando o começo de setembro e as últimas semanas antes do próximo semestre.

Ele pegou o seu exemplar de Battle Royale, que parecia estar fazendo um grande alvoroço na crítica. Lan WangJi vira na TV que o autor quase havia ganhado um prêmio, mas não foi escolhido, pois a obra era sangrenta demais — ele não exitou em comprá-lo assim que seu irmão lhe deu o dinheiro. Lan WangJi era fascinado por livros sangrentos, de terror e de fantasia — os seus preferidos —, pois eles levavam os protagonistas a situações extremas inimagináveis.

E ele ficava aqui, sentado em silêncio enquanto lia. O equilíbrio perfeito.

Ele estava sentado na varanda da casa, em uma cadeira de balanço que pertencera ao avô deles, morto muito antes de Lan WangJi nascer. Era antiga, e ele sabia causar um pouco de dor nas costas após algum tempo, mas ele gostava dela mesmo assim. Ela o fazia lembrar de seu pai: das tardes em que ele ficou sobre aquela cadeira, balançando-se ao observar a paisagem, Lan WangJi esparramado em seu colo contando a mais nova aventura na escola, quando tudo ainda era livre de preocupações e todos ainda eram crianças.

Aquelas lembranças eram apenas flashes agora, como se tentasse revisitar um filme muito, muito antigo. Mas ele ainda se lembrava do sorriso de seu pai, da risada baixa, do que ele sempre dizia: "Contanto que você seja gentil e tenha respeito com seus coleguinhas, tudo vai ficar bem, Lan WangJi". Ele riu. Não tinha dado muito certo meses atrás, não é?

Não quando todos o olhavam com pena. Não quando viam tudo, menos ele.

Lan WangJi suspirou. Aquela sensação gélida e ácida subia pela sua garganta novamente; uma necessidade de gritar, de explodir e implodir em chamas e estrelas e poeira cósmica... era a escuridão crescente que habitava em si, o monstro embaixo da cama.

Whisper of The Wind | WangXianOnde histórias criam vida. Descubra agora