Capítulo 9 - Tem gente passando mal

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*No momento (2021) os casamentos homoafetivos não são reconhecidos no Japão. Algumas discussões deste e do próximo capítulo trazem esse tópico*

**Menções honrosas especiais para Impetuos, EllRS2 e a maravilhosa IrisDiSanti - o trecho que envolve o jogo do EJP neste capítulo é de autoria dela, cedido com gentileza para completar o caos**

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Nos dias seguintes eles tiveram que lidar com mais uma enxurrada de caos. Exames exigidos por patrocinadores para comprovar que não haviam ingerido nada além de álcool, mais declarações, notas oficiais e quando por fim a poeira parecia baixar, havia mais um ponto essencial: suas próprias famílias.

Um noivado era a expectativa de um casamento e um casamento era um ato político na família Sakusa. Ele sabia que não teria como escapar por muito tempo de "dar satisfações" e, quando finalmente entrou em contato com sua mãe e irmã, descobriu que um jantar de noivado oficial já estava planejado. Seria muita gentileza se ele não soubesse o que esses eventos significavam. Kiyoomi pensava agora em como preparar Atsumu para o que estava por vir.

Por outro lado, um casamento para a família Miya era um ato trágico. O longo histórico de divórcios, abandono, brigas por pensão e herança, fazia com que a mãe, primos, tios e todo tipo de parente agregado desejassem sorte a Atsumu por sua coragem de se enfiar em algo que era, no ponto de vista deles, fadado ao fracasso.

Quando enfim acertaram um dia para que Kiyoomi conhecesse os parentes mais próximos, Atsumu se perguntou como eles dois poderiam passar uma boa impressão e escapar dos comentários ácidos quando eram naturalmente odiosos um com o outro. Eles sabiam que isso era o normal e não mudava em nada como se sentiam, mas fazer outras pessoas entenderem aquela dinâmica era como explicar física quântica a um peixe.

Kiyoomi pensou estar preparado até entrar na pequena casa da matriarca dos Miya's em Hyogo e perceber que talvez as leis da física não se aplicavam ali. Claramente pelo menos três indivíduos ocupavam o mesmo espaço em cada canto.

Atsumu tinha pedido, chorado e implorado que apenas as pessoas mais próximas estivessem presentes, mas parecia que, como sempre, sua mãe entendia tudo que ele falava ao contrário. Ele ofereceu seu melhor sorriso de desculpas a Kiyoomi quando cruzaram a porta e mal havia ar para respirar.

"Tsumu, como você está magro, que horror!" A mãe de Atsumu, Miya Akemi, cumprimentou berrando por cima de todo burburinho assim que pisaram na sala. Ela segurou o rosto de seu filho e o olhou transtornada. Ela se virou para Kiyoomi em seguida. "Bem vindo viu, Omi-Omi-san, fique a vontade e não repare a bagunça!" Antes que Kiyoomi pudesse assimilar que ele era agora, além de tudo, Omi-Omi-san, um longo berro de Akemi quase fez a casa tremer.

"CALEM A BOCA vocês tudo e deem boas vindas aos noivos!"

Como se seguissem uma ordem gravada no DNA, todos ficaram em silêncio por um segundo e abriram a boca juntos em uma só voz, desejando boas vindas para eles e voltando em seguida ao mesmo burburinho insuportavelmente alto e incompreensível de antes.

"Você tá doente? Quer um chá de ervas?" Akemi perguntou puxando Kiyoomi pela mão casa adentro, provavelmente se referindo ao fato de ele estar usando uma máscara. Antes que pudesse tomar ar para responder, ela mesma tirou suas conclusões, se enfiando com ele na cozinha e expulsando mais uma porção de parentes que estavam na frente do fogão. Akemi puxou uma chaleira e começou a enchê-la de água. "Esses meninos da cidade, tudo verde, criado no suco de maçã! Aí ficam assim, definhando!"

[SakuAtsu] Conflito de InteressesOnde histórias criam vida. Descubra agora