Umas das coisas que mais sei no mundo é que nós somos vulneráveis. Somos vulneráveis ao tempo, ao momento, ao segundo, a alguém, a nós mesmos. O mundo insiste em enfiar nas nossas gargantas que temos que ser forte o tempo todo. Ninguém é forte o tempo todo. Todos caem.
Muitas pessoas acham que ser vulnerável é sinal de fraqueza. Mas na verdade é necessária mais força interior para você se libertar e se permitir ser vulnerável do que se fechar e negar ou renegar seus sentimentos ou outras pessoas. Ser vulnerável é aceitar que tá tudo bem não estar bem. Tá tudo bem chorar. Tá tudo bem errar. Tá tudo bem recomeçar. Tá tudo bem ter medo. O mundo em que vivemos, em um repleto caos, está cada vez mais vulnerável. É em nossas vulnerabilidades que devemos ter coragem.
Stéfani se sente vulnerável. E para ela, estar vulnerável é sinal de fraqueza. Antes de dormir, todas as noites, Stéfani imaginava o quão ruim vai ser se não ter forças o suficiente pra acordar de manhã. Fica imaginando o dia em que não será mais preciso gastar remédios com ela, pagar caro pra caralho no hospital, não ocupar outros enfermeiros, porquê simplesmente ela estará morta. E não, isso não é ser pessimista, na visão de Rafaella, e sim ser realista. Por que ficar idealizando um futuro que ela sabe que não vai ter? Por que ficar esperando o amanhã, se ela sabe que pode ir embora daqui cinco minutos?
Esperança é a última que morrem, eles dizem. Mas quando se está há oito fodidos meses numa cama de hospital, com leucemia, fazendo tratamentos, não é bem assim que funciona. Agradecer por mais um dia deveria ser lei para todos os pacientes com câncer.
Stéfani não pode mentir que nos primeiros meses, ela ainda tinha uma pequena esperança que fosse sair do hospital logo. A partir do 5° mês, ela desistiu da ideia. Hoje em dia, ela busca sua esperança, todas as vezes que sorri para um enfermeiro ou médico que está exausto, mas que continua fazendo lindamente seu trabalho, todas as vezes que vai falar com as crianças e recebe um sorriso totalmente inocente e alheio, por muitas vezes, elas não têm nem noção do que estão fazendo ali, todas as vezes que rir com sua mãe, e todas as vezes que olha pra Mirella.
Mirella Fernandez.
Todo envolvimento com Mirella aconteceu de uma forma tão boa e leve, que Ste ainda não sabe explicar. Sua enfermeira, Mirella, agora é a mulher que ela mais deseja ver no hospital - claro, juntamente da sua mãe.
Ela se tornou alguém muito especial pra Stéfani nesses últimos meses, alguém que cuida dela, e a faz esquecer o mundo caótico em que vivem por uns instantes. Stéfani mostrou a Mirella todas as fotos que já tirou, ela gosta de registrar os momentos felizes, não é a toa que já tirou várias fotos de Mirella sem a mesma saber. Sem preparo é mais natural.
Apesar de estar muito feliz com seu envolvimento com Mirella, no fundo, ela não queria isso. Não por Mirella, claro, se fosse em outras situações, Stéfani iria fazer de tudo para conquistar essa mulher, mas sim porquê ela não quer machucar mais ninguém. Como seu ex-noivo disse, ela está morrendo. Ela não quer machucar alguém que está a apoiando tanto, que cuida tanto e faz questão de dizer todos os dias o quanto ela está linda - mesmo após ter passado alguns dias que cortou o cabelo, Stéfani ainda sente um pouco de receio de se olhar no espelho. Todas as pessoas que Stéfani não quer machucar - Seus pais, seu irmão, sua sobrinha e Mirella - serão machucados quando ela for embora. Por eles, ela aguenta firme. Por eles, ela, talvez tenha, 1% de esperança de que tudo vai ficar bem.
- E acabou.
Stéfani disse após ganhar mais uma partida de xadrez para Mirella.
- Impossível, Stéfani. - Mirella disse fingindo estar com raiva. - Você só pode estar roubando.
"Roubando" é a palavra mais usada pelas
pessoas que não aceitam perder.
- Ah, é? - Bianca arqueou uma sobrancelha. - Te - proponho sobrinha e Bianca - serão machucados quando ela for embora. Por eles, ela aguenta firme. Por eles, ela, talvez tenha, 1% de esperança de que tudo vai ficar bem.
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Da vida até a morte || sterella
FanfictionApós ser transferida para trabalhar em um hospital no Rio de janeiro, Mirella conhece Stéfani, uma paciente que possui leucemia. As vidas se cruzaram, e o destino deixou na mão delas, o que elas iriam fazer com esse presente que ele estava dando pa...