Pérola
A chuva de ontem deixou a cabana um desastre, tem água para todo lado. Pelo estado em que ela está fico pensando muito em como ela ainda se mantém de pé. Seco o chão e penduro as roupas molhadas na corda, o bom de tempestades surpresas é que no dia seguinte o sol sempre reaparece, o bom é que a grama está quase seca.
Quando meu pai voltou do exército e decidiu se mudar para a floresta eu achei que ele tinha enlouquecido, bem de certa forma ele não estava batendo muito bem da cabeça. Mais foi amor a primeira vista, viver na natureza é incrível.
Depois do que aconteceu com papai eu acabei ficando sem ninguém para conversar e adquirindo o hábito peculiar de falar sem parar com tudo a minha volta. Acho que a maioria das pessoas solitárias são assim, mais eu não sou tão sozinha assim eu tenho a Lizzie e os meninos.Meu pai quando comprou a cabana cercou também toda a área para usar como um espaço para a reintegração de animais selvagens.
Então depois de uns meses nós recebemos funcionários novos para a chegada dos animais resgatados e logo em seguida eles chegaram.
Ele estava muito animado com o novo projeto e queria muito que desse certo, infelizmente a quase dois anos ele sofreu um acidente de carro terrível e entrou em coma.
Foi enquanto eu estava fora, ele não estava de sentindo bem, a cabeça dele as vezes ficava confusa e ele vazia e dizia coisas sem sentido, depois que voltou das missões do exercício e o quanto de coisa que ele viu ele não conseguiu ser o mesmo. Foi demais para ele, ele não conseguia conversar comigo e focava apenas em cuidar do terreno, dos animais, das plantações e em fazer comida para mim. Eu entendi ele e o amei mais por estar tentando, quando o acidente ocorreu e eu voltei para casa, ele havia deixado um recado para mim na geladeira, achei que fosse morrer quando li o que ele tinha escrito." Tive que ir no hospital, minha cabeça dói, mais não fica preocupada que eu volto para cuidar de vocês"
PapaiMais ele não voltou e faz algumas semanas que o médico me perguntou se não penso em desligar os aparelhos. Não consegui responder, não me atrevi a pensar nisso ainda. Continuo visitando ele duas vezes na semana e tendo esperança que ele vá acordar.
Depois do acidente as coisas ficaram complicadas, as finanças desandaram e tive que demitir os funcionários. Então agora só sobrou eu. Eu, a pantera negra Lizzie e a matilha de lobos que foi resgatada depois, o alfa Hugo, o Raul e o Nataniel . No início quando eles chegaram eu estava com muito medo, mais papai me deixou escolher o nome de todos e aprender com os cuidadores a como lidar com eles. Agora temos uma amizade maravilhosa e depois de tudo que aconteceu só se fortaleceu, uns cuidando dos outros.
Ouço Raul arranhar as unhas nas escadas perto da porta e penso em como o tempo passou rápido, já é hora do almoço. Corro para a geladeira e tiro as carnes para esquentar e colocar nas vasilhas, Lizzie está esparramada no chão da cozinha como um tapete gigante e peludo.
- Lizzieeee!!! - Cantarolo seu nome para acorda-lá - Hora de almoçar.
Ela levanta devagar se espreguiçando toda dengosa, Lizzie chegou aqui muito machucada, principalmente seus olhos. Mesmo com o tratamento ela perdeu a visão total do olho esquerdo e 80% da visão do olho direito. Mesmo enxergando pouco ela se vira muito bem, quando estamos na floresta eu a guio pelo pescoço para não bater em nada, mais em espaços abertos ela corre muito bem. Os meninos parecem entender e ajudam também, antes eles ficavam em áreas separadas mais comigo sendo uma para dar conta de tudo tive que tomar a decisão de tentar uma aproximação dos quatro e não é que deu certo? Eles nunca brigaram e sempre se respeitam, Hugo bota ordem em todo mundo.
Levo a carne para fora e deposito nas bacias, então eles começam a comer. Raul sempre é o mais esfomeado, Nataniel é fofinho e o Hugo tem cara de mal, mais não engana ninguém por muito tempo, ele é um amor também.
Como hoje é sábado tenho o dia livre para aproveitar, no resto da semana eu trabalho programando jogos para uma empresa na cidade, é divertido e paga as contas, porque haja dinheiro para comprar tanta comida para esses fofinhos.
Almoço ao lado deles e me sinto relaxada. Ficamos juntos deitados descansando o almoço, amo esses momentos. Todos juntos, abraçados e deitados próximos, não trocaria por nada.
- O que vocês acham de algumas frutas?- pergunto para os quatro querendo companhia, Nataniel está com a cabeça apoiada no meu colo - Hein? Acho que vou pegar algumas bananas e amoras para a tarde, talvez faça até uma torta - digo observando Lizzie se limpando após o almoço.
Fico imaginando uma torta quentinha com café e sei que não vou sossegar até fazer a bendita.
Corro pra dentro e pego uma sexta para recolher as frutas. Volto rápido e desço as escadas em direção a floresta.
- Alguém quer ir comigo? - Pergunto aos preguiçosos. Hugo tem a cara de pau de rolar de barriga pra cima e virar de costas para mim, olha o absurdo, a única que fica de pé é Lizzie. - Preguiçosos! Vamos Lizzie! - arrumo a guia em seu pescoço e caminho com ela em direção a parte lateral da cabana.
- Tomem conta da casa- Grito antes de perder eles de vista.
Ouço o barulho do riacho e acho uma boa idéia passar lá para molhar os pés, parece que a chuva de ontem só deu uma passada, o calor continuou. Lizzie vem comigo desfilando toda feliz, ela adora caminhar por aí.
Afundo os pés na água e está tão fresquinha, Lizzie senta do lado e começo a cantarolar aproveitando o clima agradável fazendo carinho em sua cabeça.
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Meu lobo - Novas Espécies
RomanceWolf é um macho solitário e resmungão que vive solitário na zona selvagem. Seu amor pelos animais fez com que dedicasse suas horas cuidando de animais resgatados e os reintegrando na natureza. Mais, mesmo com a liberdade e um propósito na vida liber...