2. Planos Para Furtar

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P.O.V. Thyri
Algumas horas antes da festa...

Eu seguia a minha rotina ao lado de Astrid. Passávamos pela ferraria, onde Nuffink parecia prestes à surtar com os berros do velho Bocão. Eu sempre me recordo dos treinamentos que recebíamos de Bocão em minha juventude, quando ele berra. Lembro especialmente do dia em que Astrid quase arrancou o meu braço ao puxar o machado junto do meu escudo e o arrebentar na face de Tempestade, uma dragão.

Bons tempos.

Giro o pescoço na direção de Astrid, notando um silêncio estranho da parte dela.

O seu cabelo loiro era puxado para trás por conta do vento, deixando seus olhos incrivelmente azuis bem visíveis. A minha amiga continha uma expressão preocupada no rosto.

— Astrid? — Coloco minha mão em suas costas, parando de andar.

Ela grunhiu em resposta, parando na minha frente.

— Aconteceu alguma coisa, não foi? Quer me contar?

Astrid ficou em silêncio por mais um tempo, até soltar um suspiro cansado.

— Nilo aconteceu. — Ela respondeu.

— O que houve dessa vez? — Eu questiono.

— Thyri, não me entenda mal. Eu sei que ele é tipo o seu irmão, e ele é doce. Não houve um dia sequer em que ele tenha me tratado mal, muito pelo contrário. Mas...

Nesse momento, meu marido e meu filho passavam por nós. Soluço bateu os olhos em mim e eu lhe dei um sorriso, em seguida ele cumprimentou Astrid com um aceno de cabeça. Porém, Astrid não olhava para ele, e sim para a figura masculina que passava por eles.

Nilo Hagebak, seu esposo. Seu cabelo preto estava bagunçado, e seus olhos verde-escuros - realmente escuros - pareciam tão preocupados quanto os de Astrid. Em geral, Nilo não estava muito melhor do que eu no quesito de aparência. Desde que os Senhores da Guerra marcaram as suas costas com os chicotes ele começou a usar blusas - o que não era de seu feitio -, por vergonha de suas cicatrizes. Ele não nos notou enquanto atravessava a aldeia.

— Mas... — Astrid continuou — Ele mente. Não sei sobre o que, mas sei que mente.

— É como você disse, Astrid. Ele é meu irmão de consideração, então se você quiser que eu fale com ele e tente descobrir o que está acontecendo...

— Não! — Ela exclamou — Não. Não mesmo, você não tem a obrigação de fazer isso. Nós vamos nos resolver.

Eu concordei com a cabeça.

— Tenho certeza que vão.

— Mas e você, Thyri? — Perguntou Astrid — Você parece pálida. Tem certeza de que está bem?

— Sim, Trid, estou. — Tentei lhe dar o sorriso mais sincero que eu podia.

Mas estava óbvio que aquilo era mentira.

Os arrepios que sinto ficaram cada vez mais constantes ao longo do dia. Quando trombei com Nilo, não pude deixar de ver o pelos de seu braço de pé. Ele estava tento os mesmo pressentimentos que eu, e isso estava o deixando estranho aos olhos de Astrid. Eu sabia disso por que Soluço também estava costumando me olhar com uma certa preocupação.

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