Pensativo

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Samuel:

As palavras de Jason martelaram em minha mente. A cada lembrança que voltava aquele momento me causava uma dor de cabeça, semelhante a uma grande enxaqueca. Você deve pegar leve com ele foi o que minha consciência mandava. Mas o que iriam pensar ao meu respeito, todos na sala detestavam o novato Jason é o nome dele. Okay, minha consciência estava a favor dele, e até isso era estranho. O relógio no painel do carro marcava 23:14, estava quase chegando em casa, precisava colocar uma música para me distrair quando o telefone toca. Fiz um gesto na tela do celular e direcionei a chamada para o telefone do carro. Era Jessica.

-Parece que você não consegue ficar duas horas longe de mim, num é mesmo?, ruivinha...

Jessica: -Seu convencimento é patetico - Sorrio - Mas eu estou contente...

-Hum...posso saber o porque ?

Jessica: -O motivo é você.

Arqueei a sobrancelha, eu?, tento me recordar das últimas horas e dos meus possíveis feitos. Nada que fizesse alguém ser orgulhar a não ser eu mesmo. Até em pensar sobre isso me levava ao tal garoto. Numa tentativa de me distrair eu abro as janelas do carro para deixar o vento entrar, desta forma, o ar-condicionado é desligado.

Jessica: -Você ainda tá aí ou foi abduzido?

-Sua...olha... Jessica, se for para ficar de gracinha é melhor tentar outra hora

Jessica: -Wow!. Calma aí, moreno. Achei que o Jason tinha melhorado seu bom humor

-E por que ele melhoria ? - sorri de canto. Por ele ou pela pergunta ?.

Jessica: -Eu vi quando ele entrou no seu carro.

Será que nada escapava dos olhos dessa garota?, ou ela tinha uma certa cisma com a minha pessoa?. Parecia que eu estava um quarto com uma câmera sempre me vigiando, e essa câmera era ela.

-Dei uma carona a ele. Tem algum problema ?

Jessica: -Claro que não, na verdade é ótimo. Isso diz que nesse seu coração de pedra tem alguém coisa

Coração de pedra?, era assim que ela me via?. Bom, não irei ligar para os adjetivos que a Jessica me lançava. Vindo dela, era de se esperar qualquer coisa. Ao me aproximar da minha casa eu aperto o controle do portão e a garagem se abre para que eu pudesse estacionar meu carro

-Perfeito. Gostou?. Agora tenho que fazer coisas mais importantes do que ouvir você falar sobre seu achismo em relação ao novato.

Jessica: -Sempre sendo chato. Tá bem, lhe vejo amanhã.

-Também lhe odeio - Sorrio de canto e desço do meu carro depois de posicioná-lo no devido lugar. Ao lado do carro do meu pai, ou um dos carros dele.

Desligo o celular e entro em casa. Parecia não ter ninguém, como sempre. Meus pais trabalhavam e viajavam mais que tudo, logo, não tinham muito tempo para ficar em casa. O que me dava certo "alívio". Subo para meu quarto, precisava de um belo banho antes de cair na cama. Pensava em jogar, isso iria me manter mais distraído e me proporcionar uma noite de sono mais agradável. Depois do banho, me sento em minha cadeira de game e ligo meu PC. Quando vim parar já se chegava as duas da manhã. Minhas pálpebras pesavam, eu poderia me deitar e dormir sem nem ao menos pestanejar. Mas para a minha infelicidade o celular toca novamente. Olho a tela que se acendia e reviro os olhos ao ver a ligação da Jessica eu mereço pensou eu. Atendi.

-São duas horas da manhã, o que você que ?

Jessica: -Preciso da sua ajuda - a voz dela Parecia cansada. Como se estivesse nervosa com algo

-Ajuda para o que ?

Jessica: -A mãe do novato acabou de falecer.

Se eu estava com sono não me lembrava mais. Não tinha motivos para ter qualquer laço de preocupação com o tal garoto. Mas era a mãe dele, e nem eu mesmo sabia sobre a suposta mãe dele, tampouco que ela estava doente.

-E o que eu vou fazer ? - pergunto. Sem sentido sua ligação.

Jessica: -Eu estou indo para o hospital agora. Não quero deixar ele sozinho, e com certeza ele vai ficar com a mãe dele por tempo para se despedir, e eu gostaria de ter você lá para me fazer companhia

-Jessica, eu não sou acompanhante de ninguém, tenho trabalho com a loud, amanhã.

Jessica; O PH pode entender. Samuel, deixa de ser ruim. Quer saber, tudo bem, fica aí, eu vou sozinha

-Jess.... -ouço o som frenético da ligação que acabará de cair- Merda!!

A dúvida entre ir e não ir. Eu poderia dormir e reerguer minhas forças, mas eu poderia ir e fazer "companhia a ela". Escolhi a segunda opção. Desci as escadas rumo a saída e em busca do meu carro. Não demorou muito para que eu estivesse na estrada. As ruas literalmente vazias. O que me fazia ir acima dos 100km. Cronometrei quanto tempo levei até chegar ao hospital, exatamente dez minutos, coisa que levaria vinte se estivesse um trânsito maleável e meia hora se estivesse congestionado. Não tinha vagas, já era de se esperar em uma clínica como essa. Tive que deixar na parte de trás do hospital, por sorte havia alguns guardas, sem risco de ser assaltado. Contornei a pé até a parte da frente. Não dava para não notar os longos cabelos ruivos caídos sobre o rosto enquanto mexia no celular. Me aproximei dela que estava sentada na recepção e me sentei ao lado dela

-Da próxima vez tenta ser menos...imperativa, não sou bom em receber ordens

Jessica: -Eu disse que não precisava vim

-Deixa de ser mal agradecida. Eu estou aqui. Você me fez... - sem brincadeira - ...vim, então...como que vai tudo ?

Jessica: -Ele tá lá dentro. A mãe dele teve complicações. Precisou ser levada para a sala de cirurgia, mas ela já estava fraca demais, e bom...foi isso.

-O que a mãe dele tinha?

Jessica: -Alzhaimer.

Suspirei assentindo. Por um momento pensei em ir até lá, mas se nem Jessica estava lá, eu com certeza seria a última pessoa que ele talvez quisesse ver.

-Quer alguma coisa?, estou indo buscar café

Jessica: -Não, obrigada

Me levantei e cruzei o corredor do hospital até a maquina de café. Tirei uma moeda do bolso de minha carteira e coloquei na maquina. Enquanto ela fazia o café expresso eu não me neguei a olhar pelas janelas de uma das portas, e lá estava ele. Segurando a mão de sua mãe e seu rosto enterrado no colchão da cama, por um momento pensei em uma possibilidade de fazer alguma coisa. Mas o que quer que eu fizesse, não iria trazer a mãe dele de volta.

Por Você.....(Conto Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora