♧ A FESTA ♧

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Estou uma arara com minha irmã, isso pra não dizer coisa pior.
Não sei como ela conseguiu me convencer de vir neste lugar.
Quem diabos inventa uma festa num lugar ermo, no fim do mundo?
Alguma coisa esses moleques estavam tramando.
Alicia era sem noção, só pode! E olhe que com seus 19 anos, já devia ter passado dessa fase.

Inferno. Pensei quando tropecei em mais galhos.

Devo ter resmungado, porque Alicia começou a rir.

- Eu vou te matar garota! Eu podia estar dormindo no conforto da minha cama nesse exato momento.

-Violet, você parece uma velha rabugenta!

-Vá se fo...

-Olhe a boca suja!- ela me interrompeu.

Eu a olhei de esguelha e ri também. Não adiantava eu reclamar, eu sempre faria de tudo por ela. Até embarcar nessas loucuras.
Fui adotada pela família dela quando eu tinha três anos, mas ainda me lembro como se fosse hoje do quanto fiquei encantada quando a vi em seu bercinho toda vestida de rosa.

Foi amor a primeira vista. Não nos desgrudamos mais.
E nossos pais sempre foram muito amorosos e pacientes.
Claro que Alicia nunca facilitou as coisas; sua rebeldia causava dor de cabeça, não só neles, mas em mim também, já que passei a ser seu cão de guarda.

Não por acaso, lá estava eu, indo para uma festa onde não conhecia ninguém, só para agradá-la.
Ainda podia ouvir a voz da nossa mãe dizendo "cuide para que ela não se meta em encrencas!"
Ai dela se fizesse isso; eu a levaria para casa pelas orelhas.
Quase chorei só de lembrar que no dia seguinte eu ia trabalhar, enquanto a bela ia passar o resto do dia dormindo.

Suspirei quando adiante avistamos a chácara e o barulho de música altíssima deixou meus tímpanos implorando para fugir dali.

-Mas que droga! - praguejei.

Alicia me puxou pelo braço com todo entusiasmo do mundo.

-Vamos maninha! Você precisa se divertir! Quem sabe arrume alguém pra tirar suas teias de aranha...

-Quê? Não sou você que anda oferecendo pra todo mundo!

Ela deu uma gargalhada gostosa.

Quando adentramos o lugar, aí foi que tive vontade de sair correndo mesmo. A música e a algazarra faziam minha cabeça latejar.
Logo me sentei num ponto estratégico, onde tinha acesso aos comes e bebes à vontade.
Olhei pro salão abarrotado de jovens dançando e Alicia já estava lá bem enturmada e se esfregando num cara.

Revirei os olhos para a cena e continuei tomando minha cerveja; pelo menos estavam servindo algo que preste.
Não demorou nada e um carinha chegou junto com aquele papo mole.

-E aí gata, está sozinha?

Questiona e já vai se sentando ao meu lado.

- Não! Estou eu e meu ego sentados aqui!- sou ríspida.

Ele, porém, não desiste.

-Quer dançar comigo? Dá um rolê?

-Nem ferrando! Cai fora daqui idiota!

Melhor que isso, só se eu desenhasse.
Ele saiu fazendo cara feia para mim e eu podia jurar que me mostrou o dedo do meio.

Imbecil!

Minha irmã me olha fazendo um gesto que eu conhecia bem. Estava me chamando de velha.

-Ah, vá se ferrar!- falo pausadamente para que ela possa ler meus lábios.

Algum tempo depois, eu já estava mais do que entediada, ainda mais após ter dispensado mais uns três idiotas.
Ódio me define!
Resolvi dá uma voltinha e conhecer o lugar.
Fui sair na piscina.

Hum...nada mal!

Acomodei-me num banco e tomei mais um gole da minha cerveja super gelada.
De repente, vejo cinco homens lindos chegando. Uau! Contrataram gogo boys. Bem, acho que posso me divertir afinal.
Os homens vestiam roupas, no mínimo, exóticas que me faziam lembrar um traje espacial, mas sem aquelas parafernálias.

Como eu estava sentada à meia luz, eles passaram direto por mim sem me verem, apenas deram uma olhada em um casal no maior amasso e seguiram para dentro.
Não demorou nada e ouço gritos e sai gente correndo para todo lado.
Vejo mais homens surgirem e com pequenos objetos em mãos que emitem um feixe de luz branca.
Os garotos atingidos por elas caem por terra, não sei se mortos ou desmaiados.

Levanto de um salto para ir atrás da minha irmã, mas a vejo surgir na porta, toda descabelada, batom borrado e olhos assustados.
Um dos homens vai em sua direção, enquanto outro aparece com uma mulher desmaiada no colo.
Não penso duas vezes; saio correndo em disparada e me jogo em cima do infeliz.
Meu Deus do céu! Foi o mesmo que ter me jogado contra a parede, mesmo assim ele se desequilibra e esbarra numa cadeira.
O objeto cai de sua mão e ele me olha com cara estranha.

-Vamos, garota! Corre!

Grito para Alicia, que parece anestesiada.
Dou um puxão em seu braço e corremos, esbarrando em pessoas desesperadas como nós.
Mas conseguimos sair da chácara e continuamos a correr pela estrada de terra.
Maldita hora que deixei o carro tão distante.
Remexi em minha bolsa procurando o celular, mas para completar, fora de área. Resumindo, não dava para chamar a polícia e as coisas iam de mal a pior.
Dois homens estavam em nosso encalço.

-Se a gente morrer aqui eu te mato!- gritei para Alicia que vinha ao meu lado completamente esbaforida.

Mas também, não faz uma caminhada. É só come e dorme.
À nossa frente está a porra do carro. Finalmente.
Vamos conseguir!
Olho para trás e os homens não estão mais em nosso encalço.
Paro um pouco e ponho as mãos no joelho, puxando uma respiração forte.
Ouço o barulho de algo caindo e ao levantar o rosto me deparo com Alicia de cara na areia.

-Mas que merda!- vou até ela e a sacolejo- Acorda sua inútil! Isso é hora de desmaiar? É nisso que dá beber tanto e só comer e dormir. Se eu tiver que te arrastar pro carro, vou dá na sua cara.- esbravejo.

Nesse momento, noto os dois homens se aproximarem e eles ficam diante de mim.
Instintivamente levanto os braços em sinal de rendição.
Uma luz ofusca meus olhos e tudo vira um borrão para mim.

ABDUZIDA ♧ Contos alienígenas ♧ Onde histórias criam vida. Descubra agora