♧ HUMANOS SÃO FRÁGEIS ♧

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Aylus

Minha nova consorte estava aferrada à mesa. Pude ver em seus olhos o medo que estava de mim, mas além do medo algo mais brilhava em seu olhar; uma fúria invisível, um fogo abrasador queimava ali e eu tinha certeza de que seria muito difícil domá-la. Mas nada me deteria, como nunca deteve.
O futuro do meu povo dependia disso. Olho para a expressão séria em seu rosto, ela morde o lábio inferior como se detivesse algo de pular para fora de sua boca.

-Por que aquela mulher foi castigada?- ela finalmente me interrogou.

-Derramou vinho na roupa da princesa, enquanto a servia!- eu não tinha por que não dizer-lhe a verdade e esperava que ela entendesse.

-E isso é motivo de punição?- vejo o horror em seu olhar quando me perguntou isso.

-Foi uma ofensa grave!- respondo-lhe calmante, embora eu já esteja ciente de que ela não compreenderá minha postura.

-Isso me parece uma estranha forma de tortura a troco de nada...

-Está questionando os meus métodos?- a questiono.

- Não! Seu mundo, suas regras! Mas sou obrigada a aplaudir, seu imbecil?!- ela brada para mim.

- Como ousa falar assim comigo?

-Você tem o meu medo, não o meu respeito! Pra mim você não passa de um idiota que se acha melhor que os outros, e quer saber mais? Enfia esses presentes...

-Cuidado com suas próximas palavras!- a interrompo sabendo que está me insultando embora muitas de suas palavras não tenham sentindo algum para mim- Eu poderia matá-la pelo que disser.- a ameaço.

-Aposto que sim, e talvez eu até prefira isso se não puder voltar para o meu lar...

Essa mulher tão pequena tem a ousadia de me enfrentar.
Cerrei os punhos com força; eu estava perdendo o controle.

-Basta! Meça suas palavras...

-Ou o quê?- ela me interrompe- Se não vai me torturar, me matar ou me obrigar a algo, cai fora daqui AGORA, mas me deixe sozinha ou aqui ou na sua masmorra.- ela grita no meu rosto.

Vi tudo em vermelho e parti para cima dela que encolheu-se sem ter para onde escapar quando meu corpo a aprisionou onde estava. Eu estava fora de mim, mas não o suficiente para feri-la. Apenas coloquei o colar sobre a mesa, quase a tocando com meu corpo.

-Os humanos são frágeis ao nosso toque, marcar-lhes a pele foi a maneira que encontramos para não quebrá-los.- falei compassadamente cada palavra em seu ouvido.

Afastei-me bruscamente dela ou perderia o controle de vez.
Mas aquilo não podia ficar assim, eu precisava puni-la para que ela entendesse que era minha e devia me obedecer.
Então, ordenei que a mantivessem em privação de alimentação por três dias, mas ainda achei uma punição ineficiente, por isso fui conversar com minha irmã. Ela conhecia os humanos melhor que eu.

-O ponto fraco dos humanos é a família e até onde sei, não há ninguém da família dela aqui. Então, creio que terás que usar métodos mais invasivos.

-Engana-se! Há alguém que veio nessa remessa por quem ela lutou fervorosamente, Alec que o diga, ela o mandou para o curandeiro, o que o fez rechaçar a mulher por quem ela lutou.

-E o que pretende fazer?

-Está na hora de termos mais uma serva, não acha?

-Ora, Aylus, isso vai ser um desastre! A mulher ainda não foi instruída de como nos servir, ela vai errar.

-Sim! Estou contando com isso!

É claro que eu tinha algo em mente e se fosse como eu estava imaginando, aquela humana não teria outra escolha a não ser se dobrar a mim.
Mandei que a nova serva fosse enviada para os aposentos da minha consorte e segui para lá.
Eu precisava ver pessoalmente como ela estava após três dias de inanição.
Logo quando adentro no recinto, a vejo olhando abismada para a outra humana.
Vejo medo em seus olhos quando ela me ver ali.

-O que significa isso?

-Se não me engano, essa humana é importante para minha soberana. -digo - então decidi torná-la uma serva, como aquela que viste ser punida. - fiz questão de esclarecer. - O que me diz?- a inquiro quando ela fica nervosamente calada.

Observo-a ir na direção da humana e abracá-la carinhosamente.

-Você está bem, meu amor?

-Minha senhora, por favor, controle-se! Não mereço esse tratamento! - retruca Alícia, totalmente alheia ao que estava acontecendo. -Agora se me permite, deixarei os soberanos à sós.

-Alícia, não...

Suplicou segurando em seu braço, mas a serva se soltou dela e sob meu consentimento partiu.

Olho para a minha nova soberana e seus olhos ardem em brasa.

-O que fez com ela, seu desgraçado?

-Ora, não está feliz por vê-la? - pergunto ignorando seu insulto.

-O que quer de mim? Diga logo! Se quer punir alguém, que seja a mim, não fui eu quem o desafiou?

-Sim!- concordo- Há forma melhor de puní-la?

Quando dou por mim a pequena humana está em cima de mim; ela me bate e me chuta com todas as suas forças.
Que agressiva!
Seguro seus pulsos e ela ainda resiste.

-Nunca mais intente algo assim contra mim! Eu poderia quebrar seus braços agora! - ameaço fazendo um leve aperto, mas o suficiente para ver sua careta de dor.

-Monstro!- Ela brada furiosamente.

-É o que dizem.

Assim que a soltei, ela massageia os pulsos e vejo as marcas que deixei ali, não que eu me orgulhe disso, mas eu não tinha muito tempo para convencê-la. Nosso solstício de sangue estava próximo de acontecer e eu teria de apresentar uma boa soberana ou teria de esperar mais algumas décadas. Nisso meus súditos levavam vantagem, eles não precisavam dessa ocasião especial para ter uma companheira.

Depois de tudo, ainda tinha um agravante para mim, eu só poderia pedir por companheira essas humanas raras e que não eram suscetíveis aos nossos dons hipnóticos. Já fazia muito tempo após a última, mesmo para mim que já tinha mais 600 anos.
Eu não podia esperar mais, tinha que ser essa a companheira certa.

ABDUZIDA ♧ Contos alienígenas ♧ Onde histórias criam vida. Descubra agora