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  O ser humano não deve, em hipótese alguma, abusar da justiça que Jesus pagou na Cruz por nós.

   Aprendi muitas coisas com Flora, hoje. Depois que a mesma foi embora, quase ao anoitecer, preparei o café para meus pais. Minha mãe sempre chega primeiro já que o motorista particular de sua patroa a deixa na entrada da "Floresta". 

— Boa noite, querida. — Suspirou ao me ver na cozinha. Deixou sua bolsa na cadeira e veio ao meu encontro para beijar-me. Encheu meu rosto com os estalinhos dos seus beijos me fazendo rir. 

— Como foi seu dia, mamãe? — Estava lavando os pratos que sujei ao preparar opções de alimento. 

— Tenso... 

  Sua resposta deixou-me preocupada. Então, deixei a pia de lado, enxuguei minhas mãos e sentei na cadeira. Mamãe lavou suas mãos e depois sentou. 

— Parece que Bornéo está em risco com ameaças de outra Província. — Abaixou o tom de voz. — Foi tudo que consegui ouvir enquanto caminhava pelo corredor do palácio. O Rei parecia nervoso. 

  Eu só o vi uma única vez em um desfile em comemoração ao aniversário da cidade. Não devo lembrar de suas feições. Têm tantos anos. 

— Acredito que isso está acontecendo, devido a exposição do Príncipe Donatello. — Depositou os pãezinhos sobre seu prato. 

— O Rei tem um filho? — Franzi o cenho.

— Sim, poucos sabem. Veio à tona semana passada. — Despejou o café na xícara e depois me encarou confidencialmente. — Por favor, mantenha segredo, minha filha. É muito perigoso... Ouvi a Rainha falar com sua cunhada sobre o ato precipitado do Rei em expor o filho de outra mulher. Na velocidade da luz, a imprensa descobriu que o rapaz é de origem italiana, e que numa crise do casamento real, o rei cometeu adultério. Segundo a imprensa. — Enfatizou zombeteira. 

— A senhora acredita que seja verdade? 

 Quando a mesma ia responder, ouvimos o barulho da maçaneta. Papai havia chegado. 

  Eu sei que mamãe sabe segredos ocultos da Província devido a confiança da rainha, mas os mantém consigo por conta do perigo que as verdades escondem. 

— Boa noite, família! — Papai lavou suas mãos e após isto, deixou o beijo na minha testa e na boca de mamãe.

   Não é porque são meus pais, porém acho o casal mais lindo de Kalimatann. Não sei a reputação deles é devido a cumplicidade ou por terem uma filha adotiva. Não conheço ninguém na redondeza que tenha filhos adotivos ou marcas da guerra. Todos escondem seu passado. 

— Querida, sei que as portas andam trancadas, porém peço que tenha mais cuidado. Bornéo está no alvo da mídia e se for verdade que o Rei adulterou, a Província criará uma guerra por não permitir este ato. Ainda mais que a Rainha é muito amada pela população. — Papai anunciou, tencionando os músculos. 

— Não precisa colocar tensão dentro do nosso lar, querido. — Mamãe protestou calma. — Eu me culpo todos os dias por ter criado nossa filha sobre medos. Yavé está cuidando de nós. 

— Desculpa filha, sua mãe tem razão. É que... — Notei o pânico em seu olhar, expondo um segredo antigo e doloroso, mas insistem em negar e acreditam que não desconfio de suas mentiras. 

— Deus vai fazer justiça, papai. — Contive minha revolta interna. — Eu creio. — Sussurrei. — E vocês acham que a Rainha não tinha conhecimento do ato vergonhoso do Rei? — Mudei de assunto a fim de não colocar para fora o que minha alma tanto gritava. 

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